segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Abertas as inscrições para o 5o Festival Amazônia Doc

Depois de uma pausa de sete anos, o Festival Amazônia Doc retorna à ativa. As inscrições para a 5a edição do Festival Pan-Amazônico de Cinema, que acontece em Belém, no período de 16 a 21 de abril de 2019, são gratuitas e estarão abertas até o dia 20 de fevereiro, no site www.amazoniadoc.com.br. Os realizadores podem inscrever seus documentários (finalizados/realizados a partir do dia 1o de janeiro de 2018) nos formatos de curta, média e longa-metragem.

O festival terá uma Mostra Competitiva, a Mostra Paralela e a Mostra Panorama. Serão premiados, em cada categoria, o melhor filme pelo critério do Júri, melhor filme pelo voto popular e um prêmio de Honra ao Mérito para ambas as categorias, de acordo com o Júri Oficial. Uma observação importante: as obras inscritas não podem ter sido exibidas nas edições anteriores do Amazônia Doc e é vedada a inscrição de filmes que não estejam concluídos até o prazo limite de inscrição estipulado pela organização do evento.

Os filmes de curta, média e longa-metragem inscritos que tenham sido realizados fora do Estado do Pará deverão ser inéditos em mostras competitivas no Estado. Filmes com exibição no circuito comercial não serão aceitos. A lista de obras selecionadas estará disponível no site do Festival até o dia 30 de março de 2019, sendo esse prazo prorrogável a critério da organização do festival. As cópias de exibição e o material de divulgação dos filmes selecionados deverão chegar ao escritório da Z Produções até o dia de 10 de abril de 2019. 

A premiação no final da mostra competitiva é um Troféu do Júri popular para o melhor filme curta/média-metragem e melhor longa-metragem, e um Troféu do Júri Oficial para melhor curta/média-metragem e melhor longa-metragem

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O paraguaio "As Herdeiras" chega ao Cinema Vitória


Chiquita (Margarita Irun) e Chela (Ana Brun): relacionamento em perigo


O último filme paraguaio, que lembro de ter assistido num cinema sergipano, foi "7 Caixas" (7 Cajas) de Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori, produção de 2012, lançado no circuito brasileiro dois anos depois. A sessão fez parte do Cine Cult que, infelizmente, foi sepultado pelo Cinemark Aracaju, após a morte de Roberto Nunes, idealizador do projeto cinefílico.

Agora, quatro anos depois da estreia do maior sucesso de bilheteria da história do Paraguai, eis que chega ao Cinema Vitória, a co-produção Brasil/Paraguai, "As Herdeiras" (2018) de Marcelo Martinessi que saiu do último Festival de Berlim com três prêmios- Urso de  Prata de Melhor Atriz, Urso de Prata Alfred Bauer Para Primeiro Filme Que Abre Novas Perspectivas e Prêmio FIPRESCI- e do 46o Festival de Gramado com seis Kikitos.

Um feito para Martinessi, que estreia em longa-metragem com esse filme (representante do Paraguai na briga por uma vaga no Oscar 2019 de Filme Estrangeiro), como também para Ana Brun, que nunca havia atuado antes de assumir o papel de Chela, uma sexagenária que está passando por sérias dificuldades financeiras ao lado da companheira Chiquita (Margarita Irun). Morando ainda na casa em que nasceu e herdou dos pais, Chela resiste em acreditar na crise que se abateu sobre sua vida: não só a financeira, mas também a afetiva.

Enquanto Chiquita está ao seu lado, tentando juntar uma quantia razoável, através da venda da mobília, das obras de arte e da prataria da esposa, para se safar da acusação de sonegação fiscal, Chela parece mergulhar num estado depressivo e não esboça, a princípio, nenhum sinal de reação. Somente quando se vê sozinha com a empregada Pati (Nilda Gonzalez), ela deixa a atitude passiva no seu ateliê de pintura e vai à luta.

Como motorista particular de algumas amigas que se reúnem, eventualmente, para jogar cartas, Chela vai criando "um caixa" para dar conta das despesas domésticas, ao mesmo tempo que conhece Angy (Ana Ivanova),  jovem que lhe desperta um interesse especial. Lentamente, Chela vai acordando para a vida e percebe que apesar da idade, de ter deixado nas mãos de Chiquita, por muito tempo, o poder de guiar sua vida, ela ainda tem disposição para recomeçar e dar a volta por cima.

Não é à toa que "As Herdeiras" fez sucesso por onde passou. O roteiro enxuto e ousado- colocar no centro da trama personagens femininas, sexagenárias e lésbicas é raro na cinematografia latina- aliado à direção precocemente madura de Martinessi e aos desempenhos das atrizes principais e coadjuvantes constroem uma obra sólida, concisa e econômica nas palavras, que aposta mais no gestual e nos olhares das atrizes.

Apesar da inexperiência na atuação, Ana Brun parece bem a vontade no papel principal, compondo uma Chela humana, cheia de contradições e falível. Quando está em cena, sua presença é magnética. A complexidade de sua personagem faz jus à Angy e Chiquita criadas por Ivanova e Irun, respectivamente. Cada uma, a seu modo, flerta com o público, guiadas pela câmera de Martinessi, auxiliado pelo diretor de fotografia, Luis Armando Arteaga, que não hesita em desnudar, aos poucos, a real faceta desse ambiente doméstico e das relações interpessoais que aí se estabelecem.

Se num primeiro momento, temos dificuldades em entender a dinâmica da casa de Chela e Chiquita,  por conta do uso de planos fechados, da iluminação rarefeita e da câmera à espreita por trás das portas  entreabertas, posteriormente, esse ambiente vai tomando uma outra configuração, sendo mais iluminado e menos camuflado. Chela também muda sua postura em relação à vida. Se antes passava a impressão de uma mulher recatada, discreta, gradativamente, deixa a vaidade aflorar junto com o desejo sexual.

Martinessi, praticamente, exclui os personagens masculinos da história e dá voz às mulheres invisibilizadas pela sociedade tradicionalista e patriarcal. Com acuidade invejável, o diretor envereda por  um tema delicado, fazendo com que o público reflita sobre a amizade, o amor e o desejo. Um filme obrigatório!!