terça-feira, 29 de novembro de 2016

Mais Interpretação...Menos Imitação, Por Favor


Andréia Horta vive Elis Regina, no longa de Hugo Prata


Ainda, ontem, comentava com meus alunos de Argumento e Roteiro I, sobre o filme “Elis” de Hugo Prata. Fui direta ao ponto e disse que um dos problemas do longa-metragem, que estreou semana passada, em circuito comercial, era a Elis Regina “performática” de Andréia Horta. Explico.  

Andréia que revelou em entrevistas ser fã, desde pequena, da Pimentinha, não mediu esforços para incorporar seus trejeitos, sotaque, sorriso. Ensaiou durante três meses, exaustivamente, os números musicais escolhidos a dedo para enxertar o filme, a fim de que, após o comando de “Ação”, sua performance fosse tão convincente, que a sincronização com a voz da cantora gaúcha, combinasse perfeitamente.

O esforço nesse sentido foi válido, de certa forma, mas a obsessão pela identidade com a verdadeira Elis, por outro lado, parece ter custado caro à atriz global, já que ela não conseguiu relaxar o suficiente, deixando escapar um fio de autenticidade na sua interpretação. Não raro, notamos a linguagem gestual de Horta se antecipar à verbal. Soa estranho, artificial, caricatural. O incômodo, nesse sentido, duplica quando entra em cena Caco Ciocler (ator que admiro muito, é bom frisar), interpretando um César Camargo Mariano mais alquebrado do que tímido; quase um marido "de enfeite". Contudo, salvam-se Lúcio Mauro Filho (Miele), Gustavo Machado (Ronaldo Bôscoli) e Júlio Andrade (irreconhecível, na pele de Lennie Dale), irrepreensíveis em suas atuações.

O outro ponto frágil da produção, orçada em R$ 5,2 milhões, diz respeito ao roteiro. Assinado pelo próprio diretor, além de dois nomes experientes da área- Luiz Bolognesi (“Uma História de Amor e Fúria”, “Chega de Saudade”) e Vera Egito (“Amores Urbanos”, “Espalhadas Pelo Ar”)- o roteiro derrapa na estrada escorregadia do didatismo. Talvez, para o público jovem, que desconhece a trajetória de Elis Regina Carvalho Costa (1945-1982)- a jovem cantora, que desde a adolescência tornou-se “arrimo de família”, saindo do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro, para tentar alcançar o sucesso- a superficialidade da narrativa conjugada com o desfile de hits (nem todos, contextualizados) funcione. 

Já para quem leu toda a literatura relacionada à vida de Elis Regina e é "fã de carteirinha", o filme não acrescenta nada, provocando apenas um desejo de chegar logo em casa, após a sessão e botar no CD player, qualquer disco da coleção completa, desse ícone da MPB. Há de se elogiar, no entanto, a primorosa direção de arte e direção de fotografia, a cargo de Frederico Pinto e Adrian Teijido, respectivamente. Mas isso é muito pouco, para um obra cinematográfica que gerou tanta expectativa no meio crítico e nos aficionados.
Ainda assim, a receptividade do público tem se mostrado ótima, com o filme estreando em 224 salas brasileiras e arrecadando, no primeiro final de semana, pouco mais de R$ 2 milhões.  Aguardemos a avalanche de prêmios!!

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Halder Gomes dá golpe certeiro com "O Shaolin do Sertão"


Cena de "O Shaolin do Sertão"_http://bangalocult.blogspot.com
Duelo final: Shaolin x Toni Tora Pleura

Confesso que estava ansiosa por assistir a "O Shaolin do Sertão", novo filme de Halder Gomes, na expectativa de compará-lo ao seu primeiro longa-metragem- "Cine Holliúdy"- lançado há três anos e que levou cerca de 500 mil espectadores aos cinemas brasileiros. Surpreendi-me com o resultado dessa nova produção, que também explora o lado nostálgico do cinema, evocando os filmes de lutas marciais- sobretudo aqueles que passavam na TV, nos anos 1970/1980- e, de certa forma, as aventuras dos Trapalhões. O humor rasgado está presente em, praticamente, todas as cenas, não deixando brecha para o público se recuperar dos constantes ataques de risos.

Em parte, isso se deve à performática interpretação de Edmilson Filho, que dá vida a Aluízio Liduíno (Aluízio Li), um padeiro de Quixadá (CE), aficionado por kung fu, que durante o trabalho na mercearia de seu Zé (Dedé Santana), não cansa de se imaginar, derrotando vilões orientais com seus golpes certeiros, além de salvar a linda Anésia Shirley (Bruna Hamú), filha do patrão.

Ao despertar de seus devaneios, ele percebe que não será fácil desbancar o noivo da sua amada, Armandinho (Marcos Vera). A chance de conquistar o coração de Shirley e o respeito de seus conterrâneos- inclusive de sua mãe, Dona Zefa (Fafy Siqueira)- surge quando o prefeito da cidade, Rossivaldo (Frank Menezes) recruta um lutador local para desafiar o temível Toni Tora Pleura (Fábio Goulart), que circula pelo interior do Estado, derrotando vários adversários de uma só vez.  Aluízio Li é o escolhido para a difícil missão e ajudado pelo garoto Piolho (Igor Jansen), vai atrás do Mestre Chinês (o cantor Falcão) para aprimorar sua técnica.

A partir daí, não faltam referências aos filmes de lutas marciais: desde os protagonizados por Bruce Lee- como o icônico "O Dragão Chinês"- passando por "Karatê Kid" (1984) e, até, a animação "Kung Fu Panda" (2008). Chinês usa de sua filosofia oriental (ou melhor, de sua filosofia cearense) para alimentar o lado espiritual de Aluízio Li, enquanto o corpo será exigido dia após dia, com provas de força, agilidade, concentração e equilíbrio. Depois do árduo treinamento, é hora de voltar para casa e se preparar para a grande luta, mas antes disso, Li descobrirá não só a verdade por trás do misterioso Mestre Chinês, como o segredo por trás da identidade de seu verdadeiro pai.

Percebe-se que Halder Gomes amadureceu como cineasta com esse novo trabalho. Diferentemente, de "Cine Holliúdy", em que a narrativa era fragmentada, muitas vezes em pequenos blocos que mais lembravam esquetes- fazendo com que os momentos de humor fossem inconstantes- "O Shaolin do Sertão" apresenta uma narrativa mais coesa, com referências ora sutis, ora bem marcadas de clássicos do cinema mundial, ligadas à memória afetiva do diretor (nem sempre dos filmes do gênero de lutas orientais); o número de personagens diminuiu drasticamente, podendo até mesmo certos coadjuvantes, serem bem delineados; o humor ingênuo é intenso e crescente, culminando com o "grand finale" e também explora, inteligentemente, paisagens pitorescas do sertão cearense, gerando momentos de "respiro".

O mérito para tamanho sucesso até agora- no fim de semana de estreia no Ceará, conseguiu levar cerca de 45 mil espectadores ao cinema- responde pelo entrosamento da dupla de amigos, Halder Gomes e Edmilson Filho e o apelo popular desse tipo de comédia. Destaque para a trilha sonora, que conta com clássicos eternizados na voz de Fagner, Odair José; os efeitos especiais, capitaneados por Marcio Ramos e Jorge Uchoa e o trabalho de edição e mixagem de som de Érico Paiva.

Leve um lencinho para a sessão. Você irá chorar, de tanto rir.... 

sábado, 10 de setembro de 2016

Depois de "Campo Grande" e "Aquarius", Carla Ribas prepara-se para a estreia de "Me Chama de Bruna" na Fox

Carla Ribas_http://bangalocult.blogspot.com
Carla Ribas encontrou a felicidade sendo atriz
A carioca, Carla Ribas, vive mais um momento iluminado em sua carreira de atriz. Foram duas estreias no cinema, nos últimos três meses e, em outubro, seu rosto marcante, poderá ser visto na nova série do canal Fox + Brasil , "Me Chama de Bruna". Em junho, com a estreia de "Campo Grande" de Sandra Kogut, foi possível conferir mais um trabalho primoroso de Carla Ribas, interpretando Regina, uma mulher de classe média, recém-separada, que vê sua vida mudar de ponta a cabeça, quando sua única filha decide morar com o pai. Para completar a situação, já caótica, um casal de irmãos pequenos, é deixado na portaria do seu prédio com um bilhete, contendo apenas seu nome e endereço. Como se não bastassem os problemas familiares que vem tentando contornar nos últimos tempos, agora, Regina tem que lidar com o drama dessas crianças abandonadas e decide procurar a família dos pequenos, em Campo Grande, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro.

Na semana passada, mais uma estreia nos cinemas. Dessa vez, no tão comentado "Aquarius" de Kléber Mendonça Filho, em que vive a personagem Cleide, amiga e advogada de Clara (Sônia Braga), que tenta resolver um imbróglio com a construtora Bonfim. Clara é a única moradora do edifício Aquarius (a Bonfim já comprou todos os outros apartamentos e planeja construir um "espigão", em plena praia de Boa Viagem) e decide resistir à venda de seu imóvel. O herdeiro da empresa Diego (Humberto Carrão) não vai medir esforços para ter seu primeiro projeto arquitetônico realizado, após a especialização no exterior. Clara terá que se defender do jogo sujo do rapaz e, para isso, contará com a ajuda do salva-vidas Roberval (Irandhir Santos) e de Cleide.

Para quem tem o canal Fox + Brasil, no dia 8 de outubro, entrará no ar, às 22h, a série "Me Chama de Bruna". Contando com oito capítulos e baseada na história da personagem Bruna Surfistinha, a minissérie relata um momento da vida de Raquel Pacheco, a jovem de classe média que vira garota de programa, Bruna. Enquanto Maria Bopp vive a personagem principal, na série dirigida por Marcia Faria e produzida pela TV Zero, Carla Ribas dá vida a  Stella, a dona do Privê, onde Bruna irá trabalhar. Pelo teaser de divulgação da série, disponível na internet, nota-se que esta será mais uma personagem intensa da lista de criações da designer industrial, formada pela PUC-RIO.

Carla Ribas só começaria a carreira de atriz, aos 35 anos, por influência da irmã (atriz e diretora). Então, ela trocou um emprego estável pela vida de ralação no teatro, mas não se arrepende. Diz que antes, "a vida não lhe bastava", mas que ao se tornar atriz, encontrou a felicidade. Após oficinas de preparação de teatro com Fátima Toledo, Eduardo Wotzik, entre outros profissionais, ela estreou nos palcos, em 1995, na peça "Édipo Rei" dirigida por Moacyr Góes. O surpreendente é que Ribas não imaginava fazer cinema, pois achava que "saía de quadro", que sua expressividade era demasiada para a telona.

Fátima Toledo, ao contrário, viu nela um grande potencial. Numa das oficinas de atores, que ministrou -na mesma época em que o diretor Chico Teixeira procurava a protagonista para seu primeiro longa, "A Casa de Alice" (2007)-, a preparadora de elenco fez um improviso com Carla Ribas e enviou o registro para o cineasta. Ele não pestanejou e, escalou a atriz carioca para viver a manicure Alice, sendo sua estreia com uma grande personagem no cinema. Aliás, seu primeiro momento iluminado na 7a Arte, tendo em vista que recebeu mais de 10 prêmios nacionais e internacionais, pela sua interpretação emocionante. Um verdadeiro divisor de águas na sua vida. 

De lá para cá, Carla Ribas continuou trabalhando no teatro e em TV e, se a conta de longas-metragens é, relativamente, reduzida- foram 5 trabalhos desde "A Casa de Alice"- é porque ela é muito criteriosa na escolha dos roteiros e dos profissionais envolvidos. Tendo sido dirigida por nomes como Karim Aïnouz, Ségio Machado, Antônio Carlos Fontoura, Marcos Bernstein e pelo próprio filho, Marcelo Grabowsky, ela já está com três projetos cinematográficos "engatilhados". Para falar um pouco sobre seus últimos trabalhos e o que vem, por aí, Carla Ribas concedeu, gentilmente, essa entrevista para o Bangalô Cult. Confira:

Como foi feito o convite para que você participasse de "Aquarius" e o que te atraiu no projeto ? 

Carla Ribas- Minha participação no filme "Aquarius" não veio através de um convite. Na verdade, eu soube pelo Facebook que estavam fazendo testes para o filme e escrevi para o produtor de elenco, o Marcelo Caetano, me oferecendo para participar da seleção. Eu tinha adorado o "Som ao Redor" e queria trabalhar com esse diretor que, na minha opinião, trás uma nova pegada, uma coisa muito original, ao cinema brasileiro.

Você gostou do resultado final do filme ? 

CR- Amei. Tem uma modernidade nessa personagem Clara, que Sônia Braga interpreta com brilhantismo, versus um status quo antigo, e enferrujado, dos personagens que representam o poder esmagador do dito progresso. Kléber constrói, com um olhar ligado nos mínimos detalhes, um universo encantador em cima dessa personagem que está anos luz a frente do nosso tempo, cada vez mais pobre, cheio de ódios, e preconceituoso. Clara é apaixonante, agregadora, despida de preconceitos, e relativiza a dor porque tem 65 anos é viúva, teve câncer, enfim, já conheceu dores maiores. 

Você conhece a filmografia contemporânea pernambucana ? Como avalia o sucesso dos filmes do Kléber Mendonça Filho e de seus conterrâneos ? 

CR- Conheço alguma coisa. Sou encantada também com o trabalho de Gabriel Mascaro, com quem gostaria de trabalhar, um dia. O sucesso deles, a meu ver, se deve muito por essa pegada única, pessoal, original, que ambos têm. É uma visão particular contemporânea e fresca. Os filmes deles não têm ranço. E são dois diretores corajosos que não têm medo de correr riscos.

De “A Casa de Alice” para “Campo Grande” passaram-se 8 anos, para que você protagonizasse um novo filme. O motivo dessa demora foram seus projetos no teatro, a escassez de convite para o cinema ou sua exigência para interpretar uma personagem que valesse a pena?

CR- Os motivos que você cita estão corretos. Fiz muita coisa no teatro, recebi poucos convites interessantes para cinema. Há poucos personagens para atrizes da minha idade. Mas, mais do que a personagem, me interessam as pessoas envolvidas nos projetos. Preciso confiar que vou ter condições de dar o meu melhor, caso contrário é muito frustrante para mim.

Conte um pouco sobre sua preparação para compor a personagem Regina. Em "A Casa de Alice" você se mudou para São Paulo, pesquisou sobre manicures e tal. Em "Campo Grande", seguiu a mesma experiência?

CR- Em ambos os filmes, tivemos preparação com a Fátima Toledo e esta é a melhor das experiências para que se atinja num trabalho, a qualidade que eu persigo. Adoro trabalhar com a Fátima, é quase uma garantia de que o resultado vai ser bom.

Conte um pouco sobre o clima dos bastidores desse filme e sua relação com os atores mirins, com Julia Bernat e a diretora Sandra Kogut.

CR- Os atores mirins foram muito bem escolhidos e preparados. Com a Julia, que eu já admirava como atriz, a química foi total e imediata, desde os testes. E a Sandra é uma artista que dedica ao seu trabalho o mesmo capricho que eu. Então, foi um clima sempre a favor, e cada um de nós teve condições de fazer um trabalho de qualidade. 

Não tive (ainda) a oportunidade de assistir ao documentário "Testemunha 4", mas pelo pouco que vi, no youtube, esse deve ter sido um dos papéis mais desafiadores da sua carreira como atriz. Conte um pouco dessa experiência dupla: de viver a Testemunha 4 nos palcos, no cotidiano normal do teatro, de apresentações semanais e de viver a Testemunha 4 por 24 horas ininterruptas para o cinema, sendo filmada. 

CR- O documentário “Testemunha 4” foi feito pelo meu filho Marcelo Grabowsky a partir do espetáculo de estreia de “O Interrogatório” com direção do Eduardo Wotzik e que teve duração de 24 horas ininterruptas. Na verdade, eu fiz meu trabalho de atriz para o teatro e não para a câmera, pois o documentário foi feito sem que eu me preocupasse com a gravação. Em cartaz, a peça durava 6 horas apenas, mas em São Paulo fizemos uma apresentação de 12 horas. 

Como foi a repercussão da peça na época e do filme?

CR- Quando o filme foi lançado o espetáculo já tinha saído de cartaz, mas ele deu ao meu filho o prêmio de melhor direção na  Semana dos Realizadores, no Rio de Janeiro. Nós percebíamos nas entrevistas que as pessoas ficavam muito curiosas sobre esta apresentação de estreia, de 24 horas, então, falamos muito da peça, também.

Você disse numa entrevista, que não se via fazendo Telenovela, porque o "time" da TV é bem diferente do cinema (ainda que você tenha feito alguns poucos trabalhos para a TV). Agora, está prestes a estrear a série "Me Chama de Bruna" na Fox Mais Brasil, no papel de Stella. Você poderia falar um pouco sobre a série e da concepção do seu personagem? As gravações já começaram?

CR- Quando eu falo em TV penso mais em novelas que têm um ritmo muito veloz de produção, com textos que chegam sem tempo suficiente para que o ator possa trabalhar em cima deles e gravações muitas vezes de apenas um único take, o que acaba sendo muito cruel para o ator. Você tem que acertar de primeira. As gravações das séries das TVs pagas tem uma rotina mais parecida com cinema. Stella, minha personagem na série “Me Chama de Bruna”, é a dona do Privê One, onde Bruna pede para trabalhar quando sai da casa dos pais. A série já está pronta e deve ir ao ar na Fox, no próximo mês. Tivemos uma preparação incrivelmente caprichosa do Tomás Rezende. Gosto muito dos processos de preparação e ensaios. A diferença a gente pode ver no resultado do trabalho.

Quais são seus próximos projetos para teatro e cinema ?

CR- Vou para onde o vento me leva... Mas há alguns projetos em vista. Fátima Toledo está querendo dirigir seu primeiro longa de ficção e já andamos conversando, de modo que farei parte do elenco do filme. Também fiquei encantada com o roteiro de um filme do diretor pernambucano Daniel Bandeira, de modo que o projeto está em fase de captação, mas é que eu quero muito fazer. E tem o primeiro filme do Robney Bruno Almeida- "Dias Vazios"-, lá de Goiás, que vou participar, interpretando uma freira, diretora de uma escola. 

Pretende algum dia se arriscar como diretora de cinema ou teatro ?

CR- Não tenho essa vontade, mas nunca se sabe...

Quais os atores ou atrizes que você admira ? E aqueles que gostaria de contracenar ?

CR- Andréa Beltrão é uma atriz que admiro muitíssimo. Espero um dia trabalhar com ela. Andréa Horta, é outra atriz que admiro e com quem já tive a sorte de estar em cena na série Alice dirigida pelo Karim Aïnouz para a HBO. Wagner Moura é genial e fizemos juntos, no teatro, o "Hamlet". Foi um enorme prazer. Enfim, estes são alguns dos muitos que admiro.


Crédito da Foto: Carla Ribas 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O Brasil na Era de "Aquarius"


Sonia Braga_Aquarius_divulgação_http://bangalocult.blogspot.com
Clara (Sônia Braga) descansa na rede após uma noite "tenebrosa"


Pode-se dizer que "Aquarius", novo filme de Kléber Mendonça Filho, já é um sucesso de público. Levando em consideração a censura- 16 anos-,  o fato de ter estreado em pouco menos de 90 salas pelo país e não ser uma dessas comédias blockbusters, ainda assim, contabilizou nos quatro primeiros dias de exibição, 55 mil espectadores. Seria a curiosidade em ver Sônia Braga na telona, 20 anos após "Tieta", o maior motivo para correr aos cinemas ? Ou descobrir o porquê do Ministério da Justiça, num primeiro momento (diga-se, equivocadamente) determinar que a censura fosse 18 anos, depois baixando para 16 anos ?

Prefiro acreditar que o público tenha procurado assistir a "Aquarius" pelo boca a boca positivo, devido às suas virtudes. Que não são poucas. A primeira delas seria a abordagem ousada (e digna) do diretor e roteirista, Kléber Mendonça Filho, quanto ao assunto sexualidade na terceira idade. Clara (Sônia Braga, em estado de Graça) é uma crítica musical sexagenária, viúva, que vive num apartamento na Praia de Boa Viagem, em Recife. Com os filhos independentes, ela ocupa o tempo livre ouvindo sua coleção de vinis, passeando pela praia e saindo com amigas, a fim de "agitar" nos bailes dedicados ao público mais maduro. Clara não se reprime e desfruta de sua feminilidade com a mesma desenvoltura e vitalidade de quando jovem.

A história de "Aquarius", aliás, começa nos anos de 1980. Já casada e com filhos pequenos, Clara (vivida pela atriz mineira, Barbara Colen, na juventude) promove uma festa de aniversário para a tia Lucia (Thaia Perez). A família não poupa elogios à senhora "revolucionária" que enfrentou a Ditadura Militar e a sociedade patriarcal e sexista. Entre uma fala e outra dos pequenos oradores, filhos da protagonista, Lucia viaja em suas lembranças, fitando um móvel da sala, palco de suas travessuras sexuais. Enquanto "Toda Menina Baiana", de Gilberto Gil, vai tomando conta do ambiente festivo, somos transportados através do tempo.

Três décadas e meia depois, encontramos Clara morando no mesmo local, às voltas com um imbróglio: uma construtora que já comprou todos os outros apartamentos do edifício "Aquarius", pressiona a jornalista para vender o seu. Ela resiste, ignora a oferta dos empresários- o avô (Fernando Teixeira) e o neto, Diego (Humberto Carrão)-, e sem querer, declara guerra aos dois. Aqui encontramos outro ponto positivo do segundo longa de ficção, do cineasta pernambucano, que é a discussão em torno da disputa por espaço nas grandes cidades. Não é de hoje, que as orlas nordestinas vêm sofrendo grandes impactos urbanísticos, mas talvez, Mendonça Filho tenha retornado ao tema (em "O Som ao Redor", o velho Francisco, é proprietário de metade dos imóveis de um quarteirão de Boa Viagem) com mais vigor, inspirado no episódio de 2014, conhecido como Ocupe Stelita, quando parte da população recifense se mobilizou contrária à construção de 12 prédios de 40 andares, no Cais José Estelita, Bacia do Pina.

Os métodos utilizados por Diego, para confrontar Clara, ficam cada vez mais perigosos, de modo que a empregada Ladjane (Zoraide Coleto) e os filhos Martin (Germano Melo), Rodrigo (Daniel Porpino) e Ana Paula (Maeve Jinkings) temem pela sua segurança. Ana Paula, porém, em dificuldades financeiras, pela recente separação, é a única que pressiona a mãe a desocupar o prédio e realizar um "bom negócio", negligenciando todo o valor afetivo que a matriarca nutre pelo imóvel. O embate de gerações e de princípios faz-se presente, não só na relação da mãe com a filha, mas também entre Clara e Diego. O almofadinha não irá medir esforços para realizar seu primeiro projeto arquitetônico, após o retorno de uma especialização no exterior. Seus métodos escusos, gradativamente, vão acuando Clara em seu próprio terreno, mas esta, com a ajuda do salva-vidas Roberval (Irandhir Santos) e  da amiga advogada Cleide (Carla Ribas) vai se defendendo como pode e decide dar uma cartada de mestre, contra o inimigo.

É incrível como o diretor Kléber Mendonça Filho renova-se, mesmo se repetindo, em alguns temas e personagens. Quem conhece sua filmografia (de curtas e longas) percebe como ele amadureceu ao longo dos anos, desde "Enjaulado" (seu primeiro curta, lançado em 1997)  até seu trabalho em cartaz. Se "O Som ao Redor" pode ser visto como um "filme tese", "Aquarius" convida-nos a uma experiência afetiva, embalada por uma trilha sonora de excelência (com direito a ouvir "Hoje" de Taiguara; "Pai e Mãe" de Gilberto Gil"; "O Quintal do Vizinho" de Roberto Carlos; "Another One Bites The Dust" de Queen, entre outras) e com um elenco afinadíssimo (a ótima direção de elenco reflete no domínio de mise-en-scène) que parece fazer seus personagens, nossos amigos íntimos.

Independente de ser o filme brasileiro escolhido pela comissão julgadora do Ministério da cultua, para representar o Brasil na categoria de melhor Filme estrangeiro, no Oscar 2017, "Aquarius" já é vencedor, por ser um símbolo da resistência contra a mídia desvirtuada, contra o poder oligárquico que ainda impera no nosso país, por escancarar o lado cínico e hipócrita da nossa sociedade.

P.S. Só faltou Clara botar na vitrola a canção homônima, interpretada pelo The Fifth Dimension, para a gente entoar

"Harmony and understanding
Sympathy and trust abouding
No more falsehoods or derisions
Golding living dreams of visions
Mystic crystal revelation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!"

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cine Vitória recebe pela quarta vez o Festival Varilux de Cinema Francês


"Um Doce Refúgio" será exibido amanhã às 17h

O dilema de freiras grávidas é abordado em "Agnus Dei" 

A partir de amanhã, o Cine Vitória- localizado à Rua do Turista- recebe, pelo quarto ano consecutivo, o  Festival Varilux de Cinema Francês. A 7a edição do festival, que prossegue até o dia 22 de junho em mais 49 cidades brasileiras,  traz uma programação composta de 15 filmes inéditos, além do clássico "Um Homem, Uma Mulher" de Claude Lelouch, que completa cinco décadas de sua estreia nos cinemas e foi o vencedor da Palma de Ouro em 1966 e também do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e roteiro original no ano seguinte. 

Infelizmente, esse clássico protagonizado por Jean Louis Trintignant e Anouk Aimée não será exibido em Aracaju, mas o público poderá conferir "Chocolate" de Rochsdy Zem e "Meu rei" de Maïwenn- produções que participaram da abertura do Festival de Cannes de 2015- além de "Flórida" de Philippe Le Guay, "Um Doce Refúgio" de Bruno Podalydes, "A Corte" de Christian Vincent", "Lolo, o Filho da Minha Namorada" de Julie Delpy e a premiada animação "Abril e o Mundo Extraordinário" de Franck Ekinci e Christian Desmares, vencedor do troféu Cristal no Festival de Annency, voltado para produções dessa natureza.

Completam a lista: "Viva a França!" de Christian Carion, "Marguerite" de Xavier Giannoli, "O Novato" de Rudi Rosenberg, "La Vanité" de Lionel Baier, "Um amor à Altura" de Laurent Tirard, "Os Cowboys" de Thomas Bidegain, "Um Belo Verão" de Catherine Corsini e "Agnus Dei" de Anne Fontaine.

Com esse aumento do número de dias da programação, também cresce a chance do público poder conferir todos (ou quase) os filmes. Os ingressos serão vendidos ao preço de R$ 14 (inteira) e R$ 7 (meia). O intervalo entre uma sessão e outra será de apenas 15 minutos. Abaixo, você confere a programação completa do Festival Varilux de Cinema Francês 2016:

Quinta- 09/06
13h10Lolo, o Filho da Minha Namorada
15:h00Os Cowboys
17h00Um Doce Refúgio
19h00Agnus Dei

Sexta- 10/06

13h0 Abril e o Mundo Extraordinário
15h Chocolate
17h10 Lolo, o Filho da Minha Namorada
19h00 Marguerite
Sábado- 11/06

13h15 O Novato
14h50 Abril e o Mundo Extraordinário
16h50 Um Amor à Altura
18h45 Meu Rei
Domingo- 12/06

13h00 Abril e o Mundo Extraordinário
15h00 Chocolate
17h10 Lolo, o Filho da Minha Namorada
19h00 Marguerite

Segunda-13/06
13h15 Lolo, o Filho da Minha Namorada
15h05 Flórida
17h10 Um Belo Verão
19h10 Viva a França!
Quarta-15/06
13h Um Belo Verão
15h Meu Rei
17h25 O Novato
19h Os Cowboys
Quinta-16/06
13hO Novato
14h35Marguerite
16h55Flórida
19hChocolate
Sexta-17/06

13h15 La Vanité
14h45 Os Cowboys
16h45 Agnus Dei
18h55




Sábado18/06
Um Doce Refúgio  




12h45 Abril e o Mundo Extraordinário
14h45 Chocolate
16h50 Marguerite
19h10 Lolo, o Filho da Minha    
Namorada                     
Domingo- 19/06

13h O Novato
14h35 Abril e o Mundo Extraordinário
16h40 Meu Rei
19h05 Um Amor à Altura
Segunda- 20/06


13h15 Meu Rei
15h40 Lolo, o Filho da Minha Namorada
17h30 O Novato
19h05 Os Cowboys
Terça-21/06
13h15 Flórida
15h20 La Vanité
16h50 Viva a França!
19h Um Belo Verão 

Quarta-22/06
13h15 Um Doce Refúgio
15h15 Um Amor à Altura
17h35 La Vanité
19h05 A Corte