terça-feira, 20 de agosto de 2013

SESC promove a Mostra "Tati Por Inteiro" no Cine Vitória

Jacques Tati_http://bangalocult.blogspot.com
Tati na pele de Sr. Hulot


Em tempos, onde o multiplex da cidade despeja uma avalanche de comédias sem graça, por vezes, preconceituosas e de qualidade duvidosa, quando surge uma mostra como “Tati Por Inteiro” no Cine Vitória, há de se comemorar. E muito.

Promovida pelo Departamento Nacional do SESC em parceria com a Cultures France, a mostra, que começa nesta sexta-feira e prossegue até o dia 29 de agosto, oferecerá ao público, sessões gratuitas (algumas delas, com debate), de todos os filmes do cineasta, ator, roteirista e produtor francês, Jacques Tati. 

Para quem não conhece Jacques Tati, ele é uma espécie de Charles Chaplin francês, que apesar de possuir uma filmografia restrita- são apenas seis longas-metragens e um curta como realizador e cinco curtas como ator, ao longo de quatro décadas - deixou uma marca indelével na história do cinema, com a personificação de Monsieur Hulot.

Ao longo de uma semana, será possível conferir seis filmes de longa-metragem (“Carrossel da Esperança”-1949; “As Férias do Sr. Hulot”-1953; “Meu Tio”-1958; “Tempo de Diversão”-1967; “As Aventuras do Sr. Hulot no Trânsito Louco”-1971 e “Parada”- 1974), três curtas (“Cuida da Tua Esquerda”- 1936; “Escola de Carteiros”-1947; “Curso Noturno”-1967) e um documentário (“Tati: Seguindo os Passos do Sr. Hulot”- 1986), este último, dirigido por Sophie Tatischeff, filha de Tati.
Diariamente, acontecerão três sessões: às 14h (sexta e terça) ou às 14h30 (sábado, domingo, quarta e quinta); às 17h (sexta), às 16h30 (sábado, domingo e terça) ou às 16h (quarta e quinta); às 19h (sexta e quinta) ou às 18h30 (sábado, domingo, terça e quarta).

Na sessão de estreia, nesta sexta-feira, às 14h, será exibido o filme “Meu Tio” com debate mediado pela Profa. Msc. Márjorie Garrido discutindo “O Antigo e o moderno na linguagem visual de ‘Meu Tio’”.
Na terça-feira, às 14h, após a sessão de “As Aventuras do Sr. Hulot no Trânsito Louco”, o Prof. Dr. Armando Alexandre Castro irá debater sobre “O universo sonoro de Jacques Tati” e, após a sessão das 18h30, do filme “Parada”, haverá debate com o Dr. George Mascarenhas com o tema “Pela lente da ação: o corpo mímico de Jacques Tati”.

Na quarta-feira, após a sessão das 16h, do filme “As Férias do Sr. Hulot”, o Prof. Fernando Marinho falará sobre “Um olhar do design gráfico sobre ‘As Férias do Sr. Hulot” e, finalizando a série de debates, na quinta-feira, a Profa. Dra. Ana Ângela discutirá o tema Cinema e Cidade, após a sessão, às 16h, do filme “Tempo de Diversão”.

A programação completa da mostra “Tati Por Inteiro” pode ser conferida no link http://www.sesc-se.com.br/atividades/587-programacao-mostra-tati-por-inteiro
O cine Vitória localiza-se à Rua do Turista (antiga Rua 24 Horas).

Sobre Jacques Tati- Nascido Jacques Tatischeff, em 9 de outubro de 1907, na cidade de Pecq, Jacques Tati é considerado pela crítica especializada como um dos comediantes mais originais do cinema. Seu porte atlético (com 1,91 m tornou-se um dos principais atletas de rúgbi na França) contou a favor da construção do célebre personagem Monsieur Hulot, figura atrapalhada, que se apresentava com seu indefectível sobretudo, gravata borboleta e um guarda-chuva.

Antes, porém, de enveredar na direção cinematográfica, Tati escreveu roteiros e interpretou papéis nos curtas “Precisa-se de um Bruto” de Charles Barrois; “Domingo Alegre” de Jacques Berr; “Cuida da Tua Esquerda” de René Clément; “Com o Diabo no Corpo” e “Sylvie e o Fantasma”, ambos de Claude Autant-Lara.

Seu primeiro filme foi o curta-metragem “Escola de Carteiros” de 1947. Depois, Tati dirigiu “Carrossel da Esperança” de 1949. Esse filme conta as desventuras de um carteiro francês, François (interpretado por Tati), que ao assistir a um documentário sobre os correios dos Estados Unidos e os seus equipamentos ultramodernos, decide incorporar ao seu trabalho alguns conceitos de eficiência técnica, contando para isso com sua bicicleta.

Sem querer continuar a encarnar esse personagem, Tati cria o Sr. Hulot e, em 1953, lança “As Férias do Sr. Hulot” filme premiado com o Louis Delluc de Cinema Francês, sendo selecionado também em Cannes, Bruxelas, Berlim, Argélia, entre outros festivais, e indicado ao Oscar em 1955. Tati consumiu mais de um ano nas filmagens dessa produção que contou com poucos recursos e feita de forma artesanal.

“Meu Tio” lançado em 1958 contou com um financiamento mais confortável., devido à consagração do diretor. Filmado em cores em duas versões: francesa e norte-americana, o longa desenvolveu um olhar crítico sobre a evolução da sociedade, que estava apenas implícito nos filmes anteriores.

Depois do sucesso de “Meu Tio”, Jacques Tati faria apenas “Tempo de Diversão” de 1967, “As Aventuras de Sr. Hulot no Tráfego Louco” de 1971 e “Parada” de 1974 (esse último, uma produção em video-tape rodada para a televisão sueca).

Rodado no período de outubro de 1965 e outubro de 1967, “Tempo de Diversão” foi uma super produção que consumiu 1,5 bilhão de francos e levou o diretor à falência. No filme, um grupo de turistas americanos desembarca no aeroporto de Orly e, a partir daí, vão encontrar uma paris ultramoderna, de construções de ferros e vidro, que refletem a velha cidade. Ao mesmo tempo, vão descobrindo que a cidade em que se encontram é igual, nas suas linhas e formas, àquelas que deixaram ao partir. 

Com o fracasso comercial, Tati liquidou a produtora Specta Films, perdendo o direito sobre seus filmes. “As Aventuras do Sr. Hulot no Trânsito Louco” foi produzido por uma empresa da Holanda e é composto por uma série de observações do comportamento humano no trânsito. “Parada” seria seu último filme, gravado em apenas três dias, na Suécia, com três câmeras initerruptamente.

O filme mostra um espetáculo de variedades no qual o público desempenha um papel tão importante quanto os atores. Nele, Tati volta às origens  de sua carreira, ao colocar o circo e os espetáculos de vaudeville como destaque e, ao interpretar pela última vez, as mímicas que o tornaram célebres.

Em 1977, Tati recebeu o César francês pelo conjunto de sua obra. Na ocasião, ele falou em defesa dos jovens diretores e da produção de curtas-metragens. Em 1982, Tati representou a França em uma homenagem prestada pelo Festival de Cannes aos dez maiores produtores do mundo. Em novembro daquele ano, morreu de pneumonia, deixando inacabados os projetos de "Confusion".


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