Depois de um mês de espera (a primeira data de
lançamento seria em 24 de março), eis que os cinco curtas-metragens
contemplados pelo II Edital de Apoio a Produção de Obras Audiovisuais Digitais de Curta
Metragem, lançado pelo Governo de Sergipe, através da Secretaria de Estado da Cultura
(Secult), finalmente, poderão ser conferidos.
O
lançamento dos filmes acontecerá amanhã, às 19h, no Teatro Atheneu e o público
terá acesso livre às sessões. Logo depois da exibição dos curtas, “Conflitos e
Abismos”, “Para Leopoldina”, “Operação Cajueiro”, “M.A.D.O.N.A” e “Morena de
Olhos Pretos”, a banda sergipana Coutto Orchestra realizará um show.
A
repórter já conferiu, com exclusividade, os filmes “Conflitos e Abismos” de
Everlane Moraes e “Para Leopoldina” de Diane Veloso. O primeiro é um misto de
documentário com animação, em que a diretora foca na história de seu pai, o
artista plástico sergipano José Everton Santos, analisando a estética do seu
trabalho e enfatizando a sua concepção sobre o universo artístico. O principal
objetivo é tratar filosoficamente sobre a relação existente entre arte e vida,
usando um tema ao qual o artista se detém: a expressão da condição do homem.
Segundo Everlane Moraes, que é
estudante do curso de Artes Visuais da UFS e diretora do premiado curta “Caixa
D’Água: Qui-lombo é Esse?”, um dos fatores que a fez se debruçar nesse projeto,
foi o fato da obra de seu pai analisar, profundamente, a
condição do afrodescendente neste país e também aspectos relevantes dos
conflitos e mazelas que afetam o homem moderno.
“Eu tento cada dia mais me debruçar e analisar esse tema. Crescendo em
meio a longas conversas e momentos de aprendizagem com o meu pai, acompanhei
praticamente toda a sua trajetória e desenvolvimento artístico, e desde a minha
mais tenra idade, tenho visto o esforço tamanho de um artista em ser
reconhecido por seu trabalho e também o seu esforço pessoal em superar as suas
ideias, externar os seus pensamentos e compartilhar artisticamente os seus
conflitos internos. Mas insisto, em dizer, que antes mesmo de ser sua filha, e
por ocasião de minha ligação com o estudo da História da Arte, tanto no âmbito
acadêmico como no âmbito autodidata, tenho me voltando, há três anos, ao estudo
e análise iconográfica de sua obra, percebendo mais conscientemente o quanto o
artista é polêmico pela irreverência da sua temática”, explica.
Quanto às cenas animadas (que respondem por mais da metade da duração da
obra), Everlane Moraes diz que foi a primeira vez que trabalhou com essa
técnica bastante complicada na sua concepção. “As cenas animadas foram
desenvolvidas por quatro profissionais da Produtora Lamparina. Primeiro, houve
o processo manual de planejamento de como cada movimento ia acontecer, depois as
imagens dos quadros foram captadas através de fotografias e, posteriormente,
passou-se pelos programas especializados em animação. Foi um processo que
demorado e muito minucioso. Ainda não tinha trabalhado com animação (a não ser com
bonecos de manipulação nas “Aventuras de Seu Euclides” ). A animação como foi
feita, precisa de muita habilidade e paciência, mas os caras são profissionais
e tiraram de letra”, conta Everlane.
Quando questionada sobre as inevitáveis comparações que devem surgir
entre “Conflitos e Abismos” e seu filme anterior “Caixa D'Água: Qui-lombo é
Esse?”, a diretora responde, com tranquilidade. “Meu primeiro filme foi um
sucesso de crítica, mas minha preocupação principal nesse segundo trabalho, foi
divulgar a obra do artista, além de dialogar sobre artes, levando em
consideração que sou uma estudante da área e claro, fazer com que as pessoas se
identifiquem com a mensagem ou que através
dela, conheçam um pouco mais sobre o universo da arte. Sempre dá um friozinho
na barriga, quando a gente vai lançar um trabalho, mais não quero ser uma
cineasta de um filme só, ou viver na sombra de um trabalho que deu certo. Se
ele é melhor do que ‘Caixa D’Água’, ainda não sei. Talvez não seja... mas
tentei fazer com que ele tenha autonomia. Os trabalhos são diferentes, o que
tem de parecido é o meu estilo, minha subjetividade”.
Ao contrário de Everlane Moraes, a atriz Diane Velôso se arrisca, pela primeira
vez, na direção. Juntamente, com a experiente diretora de fotografia, Moema
Pascoini, ela comanda a ficção “Para Leopoldina”, um filme que nasceu de um insight de Velôso, quando ela trabalhava
na SMTT, em 2003.
“Eu trabalhava
na escolinha de trânsito da SMTT, nesta época, e todos os dias eu pegava um ônibus
que passava em frente ao Asilo Rio Branco. Um dia visualizei uma cena, um plano
sequência, onde a minha personagem (que ainda não era personagem), entrava nos
quartos e lia cartas para os idosos. Aquilo ficou na minha cabeça. Um certo
dia, minha mãe me contou a história de uma tia dela, Leopoldina Leopoldo, que
foi obrigada a casar com o viúvo da irmã, aos 14 anos. A história me
impressionou muito e juntei uma coisa com a outra, dando esse filme”.
Além de dirigir, Diane Velôso assina o roteiro e atua, ao lado de Walmir
Sandes. Sobre a tripla função no curta, ela diz não ter sido fácil dividir as
tarefas, mas contando com uma equipe sintonizada, as dificuldades foram
amenizadas. “Estar
em cena, ter esse olhar de fora e amplo do projeto não foi moleza. Só foi
possível o sonho virar realidade, porque a equipe estava muito sintonizada,
muito apaixonada pelo projeto. ‘Para Leopoldina’ só foi viável porque tive
pessoas como Moema Pascoini, que divide a direção comigo e assina a direção de
fotografia; como Nah Donato, produtora
do filme, que sempre acreditou e se apaixonou desde quando o curta era só uma
viagem da minha cabeça. É um projeto de equipe, cada um soube explorar o melhor
do outro, respeitando, ouvindo, opinando ...é um projeto de muitas mãos. Antes
mesmo de ganharmos o edital, todos os envolvidos, já haviam topado fazer o
curta com ‘a cara e a coragem’..
‘Para Leopoldina' sempre esteve muito vivo em minha cabeça, o meu envolvimento nessas três áreas dá-se por conta disso”.
‘Para Leopoldina' sempre esteve muito vivo em minha cabeça, o meu envolvimento nessas três áreas dá-se por conta disso”.
Depois de oito
dias de filmagens e cerca de quatro meses de pós-produção, “Para Leopoldina”
traduziu-se num curta delicado, cujo tema central é a solidão. Com um trabalho
de câmera competente de Pascoini e uma trilha bem elaborada pelos irmãos Alex
Sant’Anna e Léo Airplane, o filme peca, porém, na falta de dramaticidade e num
roteiro mais encorpado. O conflito poderia ser melhor desenvolvido.
Mas duas cenas
devem chamar a atenção do espectador pela estética. A primeira é quando a personagem de Sandes
está encostada numa árvore e a câmera desce num travelling vertical, focando o
rosto da atriz. A segunda é justamente a cena final, quando a personagem de
Diane, saiu do asilo, debaixo de uma garoa. Combinação perfeita de imagem e
trilha sonora potencializando a atmosfera desoladora.
Além dessas duas
produções, será lançado o curta “M.A.D.O.N.A” de André Aragão, autor do projeto inspirado em Amós Lima
Chagas, que pretende revelar a história de amor vivida entre um homossexual
(Madona) e uma prostituta (Folosa); “Operação Cajueiro- um carnaval de
torturas” de Werden Tavares, Fábio Rogério e Vaneide Dias que destaca o Estado de Sergipe como
parte do cenário ditatorial que se instalou no Brasil, na década de 1960, tendo
na ‘Operação Cajueiro’ uma das manifestações impositivas mais violentas,
realizada com participação de militares que vieram da Bahia especialmente para
acabar com qualquer tipo de reorganização do PCB em Sergipe e “Morena de Olhos
Pretos” de Isaac Dourado, que procura
traçar uma trajetória sobre a história de Clemilda, cantora radicada em
Sergipe, tida como uma das responsáveis pelo amadurecimento e reconhecimento do
tradicional pé-de-serra nordestino em todo o Brasil.
Cada
realizador recebeu da Secult, o equivalente a R$ 30 mil para a produção do
filme, através do II Edital de Apoio a Produção de Obras Audiovisuais Digitais
de Curta Metragem.
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