O Brasil vivia um fértil momento de
transformações na década de 1950 – uma intensa migração de pessoas do campo
para as cidades, uma sociedade de perfil agrário que passava a industrial, a
construção de Brasília e a arquitetura de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, a publicação
de “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa e “Morte e Vida Severina” de
João Cabral de Melo Neto, a estreia teatral de “Orfeu da Conceição” de Vinícius
de Moraes com música de Tom Jobim, o lançamento do disco “Chega de Saudade” de
João Gilberto.
Um grupo de cineastas ainda muito
jovens, influenciados por filmes como “Rio 40 Graus” de Nelson Pereira dos
Santos e “O Grande Momento” de Roberto Santos, pela Nouvelle Vague, e atentos à
movimentação cultural que acontecia, começa a dar forma ao Cinema Novo. É um
dos passos mais efetivos de nossa cinematografia em direção ao cinema moderno,
tanto na linguagem dos filmes, como no uso de equipamentos mais modernos.
A partir do dia 30 de abril, a Cinemateca Brasileira faz uma retrospectiva desse movimento, exibindo 53 filmes - 35 longas-metragens e 18 curtas-metragens -
diversos deles raramente exibidos. A retrospectiva apresenta alguns dos
primeiros passos de cineastas ligados ao movimento: “Pátio” (1959), primeiro
curta de Glauber Rocha, uma obra experimental interpretada por Helena Ignez; “O
Poeta do Castelo” e “O Mestre dos Apipucos” (1959), dois curtas de Joaquim
Pedro de Andrade acerca do trabalho de Manoel Bandeira e Gilberto Freyre,
respectivamente; “Arraial do Cabo” (1960), obra inaugural de Paulo César
Saraceni, dirigido em parceria com o fotógrafo Mário Carneiro; os marcos do cinema
baiano “Bahia de Todos os Santos” (1960) de Trigueirinho Neto, “A Grande Feira”
(1961) e “Tocaia no Asfalto (1962) de Roberto Pires; o longa coletivo “Cinco
Vezes Favela” (1962) com episódios de Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman,
Carlos Diegues, Miguel Borges e Marcos Farias, uma das principais obras do
período.
Serão
exibidas novas cópias em 35mm de “Esse Mundo é Meu” (1964) de Sérgio Ricardo
e “O Bravo Guerreiro” (1968) de Gustavo Dhal, produzidas especialmente para
esta mostra. Cópias restauradas anteriormente pela Cinemateca, e ainda inéditas
em São Paulo, de filmes como “Câncer” (1968/1972) de Glauber Rocha, “S.
Bernardo” (1972) de Leon Hirszman, “Brasil Ano 2000” (1969) de Walter
Lima Jr., “Os Cafajestes” (1962), de Ruy Guerra e “O Padre e a Moça” (1966) de
Joaquim Pedro de Andrade.
Filmes raros como “Gimba, Presidente
dos Valentes” (1963) de Flávio Rangel, “Ganga Zumba” (1964), A Grande Cidade
(1966) e Os Herdeiros (1969) de Carlos Diegues; “O Grito da Terra” (1964) de
Olney São Paulo, “Garota de Ipanema” (1967) de Leon Hirszman e “Memória de
Helena” (1969) de David Neves. Também preciosidades pertencentes a acervos
parceiros, como “A Vida Provisória” (1968) de Maurício Gomes Leite, “Os Deuses
e os Mortos” (1970) de Ruy Guerra e “A Casa Assassinada” (1971) de Paulo César
Saraceni.
Uma grande
exposição complementa a experiência da mostra, que prossegue até o dia 15 de junho, com diversos materiais referentes à
produção dos filmes, como roteiros originais e storyboard, que registram o
processo criativo das obras; documentos que mostram a enorme repercussão do
movimento no Brasil e no exterior (reportagens de jornais nacionais e
estrangeiros, artigos da crítica especializada, folhetos dos filmes e de
eventos, certificados de premiação); documentos que registram as relações
pessoais e profissionais entre os integrantes do cinema novo (cartas, poemas,
críticas dos filmes); publicações diversas sobre o Cinema Novo; materiais de
divulgação: cartazes originais, muitos criados por grandes nomes das artes
gráficas no país (Rogério Duarte, Ziraldo, Rubens Gerchman, Lielzo Azambuja) e
fotografias (de cena, de filmagens, das personalidades, reprodução de
fotogramas dos filmes).
A Cinemateca Brasileira localiza-se no Largo Senador Raul Cardoso, 207- Vila Clementino, na capital paulista. As sessões são gratuitas, sujeita apenas, à lotação da sala. Confira a programação do primeiro final de semana:
QUINTA 30/04
SALA BNDES
18h A GRANDE FEIRA
20h PÁTIO | BARRAVENTO
SALA PETROBRAS
18h30 BAHIA DE TODOS OS SANTOS
20h30 CINCO VEZES FAVELA
SEXTA 01/05
SALA BNDES
16h O POETA DO CASTELO | O MESTRE
DOS APIPUCOS | ARUANDA | ARRAIAL DO CABO
18h TOCAIA NO ASFALTO
20h OS CAFAJESTES
SALA PETROBRAS
17h PORTO DAS CAIXAS
19h GIMBA, PRESIDENTE DOS VALENTES
SÁBADO 02/05
SALA BNDES
16h GARRINCHA, ALEGRIA DO POVO
18h A FALECIDA
20h DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
SALA PETROBRAS
17h GANGA ZUMBA
19h00 O GRITO DA TERRA
DOMINGO 03/05
SALA BNDES
17h OS FUZIS
19h O DESAFIO
SALA PETROBRAS
18h MEMÓRIA DO CANGAÇO | NOSSA
ESCOLA DE SAMBA | VIRAMUNDO | SUBTERRÂNEOS DO FUTEBOL
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