“O Homem das Multidões” - vencedor das categorias
Melhor Longa-metragem e Melhor Ator no Curta-SE 14- estreia hoje, no Cine
Vitória. Dirigido a quatro mãos, pelo mineiro Cao Guimarães e pelo pernambucano
Marcelo Gomes, o filme é baseado no conto homônimo de Edgar Allan Poe e aborda,
de maneira delicada, o tema da solidão.
Juvenal (vivido pelo ator Paulo André, do grupo
Galpão) é um condutor de trens, extremamente disciplinado, que vive sozinho
numa sala comercial, adaptada como quitinete. Sem amigos e na faixa dos 40
anos, Juvenal preenche boa parte do seu tempo com muito trabalho e, nas horas
vagas, perambula pelas ruas, pelas estações, observando o fervilhar do centro
de Belo Horizonte.
Margô (Silvia Lourenço) é controladora do fluxo de
trens na mesma empresa que Juvenal. Funcionária aplicada, ela mora com o pai
(Jean-Claude Bernardet) e está prestes a se casar com um rapaz que conheceu
pela internet. A princípio distantes, os dois vão se aproximando quase que,
instintivamente, e não tardam a descobrir que possuem mais afinidades do que
disparidades. Porém, seriam eles capazes de liberar as emoções reprimidas ?
É o que os diretores nos faz conferir, ao longo dos
quase 100 minutos de projeção. Diga-se, uma projeção que foge ao modelo
tradicional- já que a tela retangular horizontalizada cede ao formato
quadrangular (3 x 3), mais restrito- provocando um estranhamento inevitável no
espectador. Contudo, esse experimentalismo é um dos pontos altos do filme,
implicando uma reconfiguração da relação câmera-atores-espaço e num trabalho de
mise en scène primoroso.
A câmera acompanha Juvenal, não no ritmo frenético
com que a cidade tenta engoli-lo, mas no seu próprio compasso de espera. Já
Margô, ao iniciar o contato “real” com seu colega de trabalho, parece ter
encontrado um sentido para sua vida, além dos monitores que a cercam dia e
noite. Ambos, porém, expressam-se de forma contida, com poucos diálogos e
gestos sutis.
Enquanto os planos fixos predominam na primeira
parte do filme, quando a trama se concentra mais no cotidiano de Juvenal, num
segundo momento, os movimentos fluidos da câmera acompanham os dois personagens
em seus encontros cada vez mais frequentes. Destaque para a fotografia desbotada
de Ivo Lopes Araújo e a escolha por filmar através de anteparos, reforçando o
distanciamento dos personagens com o resto do mundo.
O filme, que ganhou o Grande Prêmio do 26º
Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse (França) dois troféus no
Festival Internacional de Cinema de Guadalajara (México), dentre outros, encerra de forma brilhante, a
trilogia de filmes sobre a solidão dirigida por Cao Guimarães (“A Alma do Osso”
(2005) e “Andarilho” (2007)). É cinema de uma poesia estética arrebatadora!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário