"Ocupação Hilda Hilst" segue até 21 de abril no Itaú Cultural |
“Quero
ser lida”, repetia sempre Hilda Hilst (1930-2004). Os curadores da “Ocupação
Hilda Hilst” montada no Itaú Cultural, em São Paulo, buscam, assim, desmitificar a premissa que ela é uma escritora
cujos textos são difíceis de serem entendidos. A exposição aberta no último
sábado, no centro cultural da Paulista, é para ser lida, vista, ouvida e
sentida entre a vida e obra desta que também foi dramaturga e prosadora. Com
curadoria compartilhada entre os núcleos de Audiovisual e Literatura,
Comunicação, Enciclopédia e Educação e Relacionamento, do Itaú Cultural e o
Instituto Hilda Hilst, a “Ocupação Hilda Hilst” permanecerá em cartaz até 21 de
abril – data de nascimento da autora.
Hilda
foi lida em cerca de 40 títulos publicados, nas centenas de artigos impressos
em jornais com a sua assinatura, entrevistas, peças de teatro encenadas, poemas
musicados. Hilda Hilst foi e é reconhecida como uma das principais escritoras
brasileiras contemporâneas. Hoje está na lista dos 10 títulos mais vendidos em
ficção na livraria da Vila, em São Paulo.
Com a preocupação de apresentar o
rastro da autora na produção de algumas de suas principais obras, a exposição
revela o seu processo de criação e seu cotidiano, apresentando originais das
obras “Kadosh” (1973), “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão” (1974),
“A Obscena Senhora D.” (1982), “Com Meus Olhos de Cão” (1986). Também
está lá “O Caderno Rosa de Lori Lamby”
(1990) revisado e comentado pela própria escritora.
A exposição se completa com
trechos de seus diários, descrições de sonhos, desenhos, anotações cotidianas,
e depoimentos próprios registrados em vídeo e áudio. Lança, ainda, perguntas
selecionadas das obras e anotações da autora.
Muito
do material é exibido pela primeira vez, em uma mostra consistente do seu
processo de criação, depois de extensas pesquisas realizadas pela equipe do
Itaú Cultural no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE/Unicamp). Lá
está a maior parte do acervo da escritora, vendido por ela, na década de 90, e
meticulosamente organizado em grupos e subgrupos que somam 3.257 manuscritos,
1.321 impressos, 246 fotografias e 150 desenhos, todos disponíveis para
consulta pública.
A
outra fonte de pesquisa foi a Casa do Sol, em Campinas, construída por ela e
onde viveu e recebeu amigos e intelectuais
por 35 anos até o fim. Ali está sediado o Instituto Hilda Hilst e é onde se
encontra parte do acervo relacionado aos seus últimos anos de vida e à sua
intimidade – como a biblioteca, fotografias, cartas e diários.
A
equipe do Itaú Cultural recebeu, ainda, a consultoria de Luisa Destri,
doutoranda em Literatura Brasileira na USP, organizadora da antologia “Uma
Superfície de Gelo Ancorada no Riso” (Globo, 2012), de Hilda Hilst, e coautora
de “Por que ler Hilda Hilst” (Globo, 2010). Foi selecionada no Rumos Literatura
2008, com o artigo “A língua pulsante de Lori Lamby”.
Espaço expositivo- Henrique Iodeta, gerente do
Núcleo de Produção do Itaú Cultural assina a cenografia da “Ocupação”. A Casa do Sol inspirou as cores, os materiais e até o som
usados naquele espaço. Não há, por exemplo, plásticos, acrílicos ou quaisquer
outros sintéticos. Todo o material usado é cru, linho, minerais, assoalho de madeira
escura, veludo, couro. A iluminação é rebaixada. As cores são ocre e rosadas, o
colorido vem das canetas e papéis de muitos tons que ela usava.
O lugar se personifica, ainda, na reprodução da enorme Figueira-
árvore e ícone da casa- nas imagens dos seus quase 100 cachorros e nas
anotações sobre os cuidados dispensados a cada um. Também nos versos e
depoimentos, alguns inéditos, da própria poeta e na exibição de suas fotos
prediletas – não somente dela, da família e dos amigos, como de
autores-referência, como Sigmund Freud e Franz Kafka.
Ali
estão registros e anotações do primeiro livro, “Presságio”, lançado em 1950, ao
último em prosa “Estar Sendo. Ter Sido”
de 1997, escritos pela autora. A vida e obra da poeta irradia em painéis
e vitrines a partir de uma mandala composta com madeiras de cores diversas e
reproduzida no chão. Parte dali o material relacionado com os seus livros “O
Caderno Rosa de Lori Lamby”, “Kadosh”, “Obscena Senhora D.” e “Com os Meus
Olhos de Cão”, além de ‘Miscelânias’
um espaço para abrigar os processos criativos e fixações da autora.
Ao redor, outros nichos desvendam a sua obra e pensamentos. Um
deles se volta para “Júbilo, Memória
Noviciado da Paixão”. Em outros, encontram-se os registros dos sonhos, que ela
anotava vigorosamente de próprio punho – Hilda não gostava de usar máquina de
escrever e passava longe dos computadores. Aplicados sobre madeira, mostram a evolução da caligrafia da escritora como em
uma linha do tempo. Exibe, também, os desenhos que fazia e muitas listas – de compras,
de nomes, de recados, de livros, de autores –, além de 20 perguntas
selecionadas entre as inúmeras que sempre lançou no ar.
Hotsite e
publicação- No
dia da abertura da mostra foi lançada a publicação do Itaú Cultural sobre a
poeta, que aprofunda o material exposto. O jornalista Gutemberg Medeiros
comenta a recepção da obra, a mestre em teoria e história literária Luisa
Destri fala das relações entre vida e ficção e o doutorando em literatura
brasileira Ronnie Cardoso analisa as cores e os sons usados por Hilda para
abordar temas centrais em sua produção. Além dos artigos críticos, há o
depoimento dos atores Donizeti Mazonas e Suzan Damasceno sobre a experiência de
encenar o “Osmo” e a “Senhora D.”
O
site da série Ocupação, hospedado em www.itaucultural.org.br
publicou no mesmo dia, uma seção dedicada à autora, com parte do material da
mostra e conteúdo exclusivo: entrevistas com a artista visual Maria Bonomi e a
poeta Maria Luíza Mendes Furia, um bate-papo entre os jornalistas José Castelo
e Humberto Werneck e um minidoc sobre a Casa do Sol – sua força como espaço de
criação e convívio artístico – com os artistas visuais Olga Bilenky e Jurandy
Valença e o produtor cultural Daniel Fuentes, que viveram com a escritora e são
responsáveis pelo Instituto Hilda Hilst.
A
ocupação “Hilda Hilst” prossegue em cartaz até o dia 21 de abril, no Itaú
Cultural (av. Paulista, 149. A visitação pode ser feita de terça a sexta-feira,
das 9h às 20h e, aos sábados, domingos e feriados,
das 11h às 20h. Entrada gratuita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário