Cena de "Rastros de Ódio" com John Wayne |
Atenção
cinéfilos!! “A América por John Ford” chegará nesta quinta-feira, à tela do Cine
Vitória, localizado à Rua do Turista. Trata-se de uma mostra promovida pelo
SESC, composta por oito filmes desse grande diretor norte-americano, que foi responsável
pela evolução e posterior amadurecimento do western
(gênero cinematográfico norte-americano por excelência).
Porém, nem todos
os títulos escolhidos para compor essa programação gratuita, que prosseguirá
até o dia 14 de maio, fazem parte deste gênero.
O público poderá conferir apenas três dos seus inúmeros faroestes: “No
Tempo das Diligências” (1939), “Rastros de Ódio” (1956) e “O Homem que Matou o
Facínora” (1962).
Além desses, constam
na programação o drama social, “As Vinhas da Ira” (1940); a aventura dramática,
“O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões” (1936); a comédia de costumes “Juiz
Priest” (1934); o drama político, “A Mocidade de Lincoln” (1940) e o romance,
“Médico e Amante” (1931).
Diariamente,
três filmes serão exibidos em três horários distintos. Sendo que nos dias 10 e
14 de maio, as sessões serão às 14h30, 16h30 e 19h e, nos dias 8, 9, 11 e 13 de
maio, ocorrerão às 14h, 17h e 19h
(excepcionalmente, dia 13, será às 19h20). Nesses dias, haverá debate após a
sessão das 14h. No primeiro dia da mostra, após a exibição de “O Homem que
Matou o Facínora”, o Prof. Msc. Caio Amado discutirá o tema “O Mito Atropela a
História”, enquanto que na sexta-feira, dia 9, após a sessão de “Rastros de
Ódio”, o Prof. Cristiano Leal abordará “O Uso da Linguagem Cinematográfica como
Recurso Narrativo por John Ford”.
No dia 11, o
jornalista e cinéfilo, Ivan Valença baterá um papo com a plateia sobre o tema
“Imprima-se a Verdade”, logo após o filme “O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões”
e no dia 13, a Profa. Msc. Maíra Ezequiel discutirá “No Tempo das Diligências e
a Alvorada da Linguagem Clássica Hollywoodiana Como a Conhecemos até Hoje” após
a sessão de “No Tempo das Diligências”.
Sobre os filmes- O filme mais antigo dessa mostra
é “Médico e Amante” protagonizado por Ronald Colman, Helen Hayes e Richard
Bennet. A história roteirizado por Sidney Howard a partir do romance de Siclair
Lewis (Prêmio Nobel de Literatura) gira em torno do médico Arrowsmith (Ronald
Colman) que abre mão de uma carreira promissora como cientista para se dedicar
à medicina em Dakota do Sul, cidade natal de sua esposa (Helen Hayes).
Seu trabalho
como cientista é resgatado, contudo, quando ajuda um fazendeiro e consegue
eliminar uma doença que havia afetado seu gado. A competência de Arrowsmith
como cientista o leva ao mais elevado instituto de pesquisa de Nova York. Lá, é
destacado às Antilhas para resolver um caso de peste bubônica, onde o trabalho
do médico e cientista se mistura.
John Ford
explora muito bem, as ambições e o fascínio emanado pelo poder nos indivíduos,
nesse drama, em que o médico se vê dividido entre a profissão e a esposa e os
amigos. Será exibido no dia 08, às 17h e no dia 10, às 19h.
Em “Juiz
Priest”, o diretor trabalha com o tema da tolerância. O juiz William Priest
(Will Rogers), um orgulho dos confederados veteranos, usa o bom senso e
humanidade consideráveis para fazer justiça em uma pequena comunidade no estado
norte-americano de Kentucky.
Mesclando
momentos de humor e drama com uma perspicaz utilização dos planos médios e
gerais, não deixa de tratar, ainda que sutilmente, a importância da integração
inter-racial nos Estados Unidos. O filme terá duas exibições: dia 08, às 19h e
dia 11, às 17h.
Em “O
Prisioneiro da Ilha dos Tubarões” o tema central é a injustiça. Em 1865, poucas
horas depois do assassinato do Presidente Lincoln, o Dr. Samuel Mudd (Warner
Baxter) ajuda John Wilkes, um pobre homem que se apresenta com a perna
quebrada. Porém, Wilkes é o assassino que quebrou a perna, enquanto fugia após
o assassinato de Abraham Lincoln.
Acusado de
cumplicidade, o Dr. Mudd é condenado à
prisão perpétua na terrível Ilha dos Tubarões, onde sofrerá maus tratos e o
ódio dos guardas, sobretudo do sádico sargento Rankin (John Carradine). Ótimo
exemplar do cinema clássico, onde o herói precisa superar obstáculos para
provar ao público o caráter predestinado
dos homens de bom caráter. O filme poderá ser conferido no dia 09, às 17h, dia
11, às 14h30 e dia 13, às 19h20.
Em “A Mocidade de Lincoln” protagonizado por
Henry Fonda, seguimos os primeiros passos do jovem Abraham Lincoln: sua
formação no Direito, a perda da primeira esposa e a difícil defesa dos irmãos
Matt e Adam Clay, acusados de homicídio do bêbado e arruaceiro Scrub White.
Nesse filme, o cineasta reafirma os valores
fundamentais da nova nação em construção, como justiça, a força do homem
simples para a sociedade como capaz de dominar a natureza e o da religiosidade
e da cultura popular. No
elenco, Alice Brady, Marjorie Weaver, Arleen Whelan, Eddie Collins. “A
Mocidade de Lincoln” será exibido nos dias 09, às 19h e dia 10, às 14h30.
Se esses
primeiros quatro filmes, talvez sejam pouco conhecidos da maioria dos leitores,
os próximos são verdadeiros clássicos do cinema. Com “No Tempo das Diligências” John Ford
celebra a glória dos vencidos, além de desenvolver um road movie emocionante.
Nove pessoas são
obrigadas a embarcar em uma perigosa diligência através do Arizona. A caminho
de Lordsburg estão um banqueiro corrupto, um médico alcoólatra, uma prostituta,
a esposa de um oficial, um rígido xerife, um jogador decadente, um condutor
abobalhado, um vendedor de bebidas e um fora da lei que fugiu da cadeia. Este
último, é brilhantemente interpretado por John Wayne (o mais fordiano dos
atores).
Contando com um
elenco estelar (Claire Trevor, Thomas Mitchell, Andy Divine, George Bancroft e
John Carradine), “No Tempo das Diligências” ganhou o Oscar de Melhor Ator
Coadjuvante e Melhor Música e será
exibido no dia 13, às 14h e dia 14, às 19h.
Inspirado na
obra de John Steinback, “As Vinhas da Ira” narra a história de uma pobre
família de trabalhadores rurais durante a Grande Depressão de 1929. Buscando
oportunidade de uma vida melhor Tom Joad (Henry Fonda) após cumprir pena, leva
sua família em uma pequena caminhonete de Oklahoma para a Califórnia, onde
dizem ser um lugar mais próspero.
Durante a
viagem, eles deparam-se com a nova realidade, ao mesmo tempo que descobrem que
o lugar para onde estão indo pode ser pior do que o deixado para trás. Destaque
para as interpretações de John Carradine (Casy) e Jane Dawell (Mãe Joad) nesse
retrato amargo da sociedade norte-americana traçado por Ford. Vencedor do Oscar
de Melhor Diretor e Atriz Coadjuvante, o filme será exibido dia 10, às 16h30 e
dia 14, às 14h.
Considerado por
muitos como o melhor filme de John Ford, “Rastros de Ódio” é centrado na figura
de Ethan Edwards (John Wayne) que parte em busca de vingança contra os índios
que exterminaram sua família, ao mesmo tempo, em que tenta resgatar com vida, sua sobrinha Debbie
Edwards (Natalie Wood).
John Wayne
representa o clássico personagem do filme de faroeste, aquele com passado
nebuloso que chega mitologicamente por detrás da montanha e só parte ao final
de sua empreitada heroica. O filme conta ainda com uma magnífica fotografia
assinada por Winton Hoch e trilha sonora composta por Max Steiner. O filme será
exibido do dia 11, às 19h e dia 13, às 17h.
“Quando a lenda
se torna fato, nós a publicamos”. Essa frase declarada no final de “O Homem que
Matou o Facínora” contém, em si, todo o esforço de Ford criar, por meio da
linguagem cinematográfica, um lastro histórico grandioso para os Estados
Unidos.
Uma das últimas
obras do diretor, esse filme narra a chegada do advogado Ransom Stoddard (James
Stweart) em uma pequena cidade do velho oeste dominada por um pistoleiro
violento chamado Liberty Valance (Lee Marvin).
Para combatê-lo,
o diretor nos apresenta o caubói Tom Doniphon (John Wayne). O conflito então se
estabelece: a justiça virá por meio da lei ou da violência armada? Décima nona
parceria entre Ford e Wayne ( de um total de 22), essa produção poderá ser
conferida no dia 8, às 14h e no dia 14, às 16h30.
Biografia do diretor- Filho de
imigrantes irlandeses católicos, John Ford nasceu sob o nome John Martin Feeney
no dia 1º de fevereiro de 1894 em Cape Elizabeth, Maine, na fazenda de seus
pais. Mais tarde, a família se mudaria para Portland, onde Jack, como seria
chamado até 1923, passou a infância e a adolescência.
Jack, então um
rapaz de 20 anos, iria ao encalço do irmão mais velho, Frank, em Hollywood,
onde atuava como ator, sob o nome Francis Ford. Adotando o sobrenome do irmão,
Jack passou por um intenso aprendizado de três anos durante o qual trabalhou
para Francis como figurante, ator, assistente de direção, câmera, entre outras
funções.
Não demorou
muito até que o rapaz pudesse dirigir integralmente seu primeiro filme, “O Furacão” de
1917. Neste mesmo ano, teria início a prolífica parceria entre Ford e o ator
Harry Carey, que deu origem a 25 filmes protagonizados pelo personagem
“Cheyenne Harry”, um bondoso fora da lei (como seriam muitos heróis de Ford
futuramente). Esta parceria representou um verdadeiro sucesso para a Universal.
No início de sua
carreira, trabalhando na Universal, Ford realizou um total de 39 filmes, entre
os quais apenas dois não eram westerns. Em 1921, o diretor assinou um contrato
com a Fox, estúdio onde realizaria 50 filmes. Com o fracasso comercial de “Três
Homens Maus” (1926), o diretor acabou abandonando o gênero, ao qual só foi
retornar em 1939 com “No Tempo das Diligências”.
Uma importante
guinada na carreira do cineasta ocorreu quando o diretor alemão Friedrich
Wilhelm Murnau se mudou para os Estados Unidos a convite de William Fox e
realizou “Aurora”
( 1927), que se tornaria
um dos filmes mais influentes da história. O trabalho de Murnau provocou em
Ford o interesse em trabalhar a composição espacial como nunca havia feito
antes, o que se consolidou ao longo dos anos como uma das características mais
marcantes de seu cinema.
De 1927 a 1931,
John Ford não apenas experimentaria diversos gêneros cinematográficos, entre
eles a comédia e o drama musical, como também filmaria em outros países. Foi
quando retornou pela primeira vez à Irlanda, com Justiça de amor (1928), e
realizou “Polícia
Solteirão” (1928), um filme cheio de peripécias ao redor da Europa,
além de “A
Guarda Negra”(1929), passado no Paquistão.
O início da
década de 1930 marcaria também a parceria de Ford com Will Rogers, popular
comediante com quem fez três filmes: “Doutor Bull” (1933), “Juiz Priest” e
“Nas Águas do Rio”
(1935). Em 1939, veio “No Tempo das Diligências” e, enfim, o retorno de Ford ao
gênero pelo qual ficaria eternamente ligado.
O período
pré-guerra seria um dos momentos mais importantes da carreira de John Ford,
incluindo a realização de seu primeiro filme a cores, “Ao Rufar dos Tambores”
(1939) e dos aclamados dramas “A Mocidade de Lincoln (1939), “As Vinhas da Ira (1940),
filme que rendeu a Ford seu segundo Oscar de direção, e “Como era Verde meu Vale”
(1941), vencedor de cinco Oscars, incluindo os de melhor filme e,
novamente, diretor.
Ao retornar da
guerra e após realizar “Paixão de Fortes” (1946), baseado no caso do famoso tiroteio
no O.K. Curral, com Henry Fonda interpretando Wyatt Earp, Ford recebeu uma
lucrativa proposta de Darryl F. Zanuck para trabalhar na Fox, mas negou-a para
fundar seu próprio estúdio, a Argosy Pictures.
Dois anos
depois, da produtora decretar falência, Ford voltou ao western com a Trilogia da Cavalaria, composta pelos
filmes “Sangue
de Herói” ( 1948), “Legião Invencível” (1949) e Rio Grande (1950),
todos protagonizados por John Wayne.
Em 1952, Ford
realizou “Depois
do Vendaval”, cujo projeto existia desde a década de 1930. Este foi
seu filme mais lucrativo, e teve sete indicações ao Oscar, conquistando o
quarto e último prêmio de melhor diretor que Ford receberia da Academia. Seu
filme seguinte, “O
Sol Brilha
na Imensidão” (1953), traria a primeira passagem do cineasta pelo
Festival de Cannes, e logo em seguida, com “Mogambo” (1953),
filme passado na África e estrelado por Clark Gable, Ava Gardner e Grace Kelly,
Ford emplacaria mais uma vez um absoluto sucesso de bilheteria.
Após três anos
parado, devido a um desentendimento com Henry Fonda, que o levou à reclusão, o
diretor retorna ao set de filmagem com “Rastros de Ódio” (1956), o único
western que realizou nessa década. Foi um dos filmes mais populares do ano,
embora não tenha recebido nenhuma indicação ao Oscar.
A década de 1960 seria marcada pelo declínio das
condições de saúde de Ford, resultado dos abusos de álcool e cigarro ao longo
de sua vida, além do agravamento das feridas que sofreu durante a batalha de
Midway. Curiosamente, seria nesse período final de sua obra, entre 1960 e 1973,
que Ford dirigiria alguns de seus filmes mais elogiados pela crítica de hoje,
entre eles os westerns crepusculares “Audazes e Malditos” (1960), único filme
de sua autoria protagonizado por um negro, “O Homem que Matou o Facínora” (1962) e
“Crepúsculo de
uma Raça” (1964), além de “Sete Mulheres” (1966), último
longa-metragem de sua carreira.
John Ford faleceu em 31 de agosto de 1973, em
Palm Desert, na Califórnia.
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