quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Antes de Desbotar, o Azul Chegou...


 
Nem sempre o vermelho é a cor da Paixão 

Cerca de dois meses depois de sua estreia em circuito nacional, eis que chega ao cinema local, um dos filmes mais comentados do ano de 2013: “Azul é a Cor Mais Quente” do franco-tunisiano Abdelatiff Kechiche. Antes tarde, do que nunca. E mesmo aqueles que já assistiram ao vencedor da Palma de Ouro em Cannes de 2013, nos seus computadores, não devem se privar de contemplar o longa-metragem em tela grande. As parcas sessões (dias 04 e 06/02, às 19h10, no Cinemark Jardins) prometem ser disputadas. 

Mas por quê o filme causou tanta polêmica (desnecessária ?) ? Em parte, por conta das cenas de sexo intensas entre as duas personagens Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux). Também por conta das declarações de Seydoux, que se antes das filmagens começarem, queria muito trabalhar com o diretor, depois da experiência visceral de “Azul é a Cor Mais Quente”, não pensa em dividir um set de filmagem com ele, tão cedo. 

Kechiche, que já tinha “tirado o couro” da atriz cubana Yahima Torres, no filme “Vênus Negra” em que vive a sul-africana Saartjie Baartman, objeto de curiosidade para os burgueses e cientistas da Londres e Paris, do início do século XIX, parece ter passado dos limites, no seu mais recente filme, procurando o auge do realismo íntimo entre um casal de lésbicas. E exigiu tanto das jovens atrizes, que Léa Seydoux, por exemplo, já declarou em entrevistas que “sentiu-se usada, manipulada, violentada pelo diretor”.

Adèle Exarchopoulos, em seu primeiro papel de destaque, não quis “entrar de cabeça” na briga com Kechiche. Mas não se furtou de declarar para a mídia francesa, em Cannes (quando dividiu o prêmio de Melhor Atriz com Léa Seydoux), que o diretor chegou a ser abusivo, filmando durante 10 dias, a relação sexual que dura em torno de sete minutos na tela. 

Polêmicas à parte, “Azul é a Cor Mais Quente” é um dos filmes mais lindos que já vi sobre o primeiro amor. Logo no início da projeção, Kechiche nos apresenta Adèle como uma adolescente bonita, tímida e, relativamente ingênua, que vem sendo cortejada por um colega da escola, mas que não parece estar empolgada com o rapaz, suficientemente, a ponto de engrenar um namoro.

Seu interesse volta-se para uma garota de cabelo azul (Emma) que ela vê na rua fortuitamente. O destino faz com que as duas se reencontrem num bar gay e a paixão, à primeira vista, desabrocha rapidamente. O relacionamento flui mais tranquilamente para a experiente Emma, enquanto que Adèle vai ter que lidar com as próprias dúvidas, seus medos e o enfrentamento com colegas homofóbicas.

O diferencial aqui, é a forma intimista com que o diretor trata dessa história, baseada na HQ homônima de Julie Maroh. O espectador torna-se íntimo da vida de Adèle devido ao seu carisma imediato. Vibramos com suas conquistas, sofremos com suas angústias, perdas e torcemos pelos novos caminhos a trilhar. Tudo isso regado a muita comida, música e sexo. Nunca a privacidade de um casal foi tão belamente esmiuçada e mostrada na telona.

É inegável o trabalho de Abdelatiff Kechiche com as atrizes, mas sem o talento da jovem Adèle Exarchopoulos (que tinha 18 anos na época das filmagens), o filme não alcançaria o status de obra-prima.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Música Sergipana com Sotaque Belga



 
Anavantou: união dos talentos de músicos sergipanos e belgas


A princípio, uma banda com músicos sergipanos e belgas pode parecer estranho. Pode-se pensar que a música não irá soar bem. Mas essa impressão precipitada dissipa-se, assim que o grupo Anavantou começa a revisitar de maneira surpreendente, as tradições musicais dos dois lados do Atlântico, mesclando melodias tocantes com percussão explosiva.

A ideia do projeto surgiu da mente do percussionista e baterista Dudu Prudente e do cineasta Damien Chemin. Esse último, ao finalizar ‘A Pelada’ (uma co-produção Bélgica/Brasil) e lançá-lo na sua terra natal, em junhode 2013, propôs a Prudente (responsável pela trilha sonora do filme) apresentações musicais na Bélgica com a trupe que embalou os personagens de ‘A Pelada’. Convite aceito, embarcava para o Velho Mundo, o grupo Membrana e mais um convidado : o cantor e compositor Nino Karvan.
Lá chegando, os sergipanos fizeram longos ensaios com os belgas da banda Turdus Philomelos e realizaram cinco apresentações de sucesso, com o que viria a se chamar Anavantou.
 
Segundo Nino Karvan, o entrsoamento entre os músicos não foi difícil, tendo em vista que cada um dos grupos, conheceu, previamente, o trabalho do outro convidado. ‘Trocamos arquivos de músicas cerca de um mês antes de viajarmos para a Bélgica e cada um de nós foi se familiarizando com o estilo da outra banda. Lá chegando, fizemos mais de 50 horas de ensaio e quando nos apresentamos, tudo fluiu da melhor maneira possível’, explica Karvan.

Agora, o projeto Anavantou aterrisa em terras aracajuanas. Ao todo, serão três apresentações, começando pela de logo mais, às 21h, no One Lounge, seguida de outra, amanhã, às 19h, no Museu da Gente e a última, no sábado, às 17h, na Reciclaria, com gravação de DVD. Concomitantemente, os integrantes Julien De Borman (acordeon), Sébastien Willemyns (violino e órgão), Matthieu Chemin  (baixo), Martin Kersten (saxofone), Gwenael Francotte (bateria e percussão), Pedrinho Mendonca (percussão), Dudu Prudente (percussão e bateria), Julio Rêgo (harmônica) e Nino Karvan (voz e percussão) estão em estúdio gravando um EP. O material será masterizado na Bélgica e servirá como ‘cartão de visitas’ do grupo para  turnê que pretendem fazer no verão europeu entre 15 de julho e 15 de agosto.
 
‘O EP terá como título Anavantou e conta com as seguintes composições : ‘No  Kaasket Ska’ e ‘Sol Maior’ (Julien De Borman), ‘Maracatuê’ (Trio Nordestino), ‘O Canto da Ema’ (Jakson do Pandeiro) e ‘Sabiá’ ( Luiz Gonzaga). Estamos em fase de finalização da gravação e o material, depois de pronto, será distribuído para divulgação’, conta Karvan.

Para Damien Chemin, o DVD, que será gravado nesse sábado, durante o show ao vivo na Reciclaria, tem como principal objetivo registrar a apresentação contagiante do Anavantou e sua interação com o público. ‘Assim como foi importante para os sergipanos as apresentações na Bélgica, para meus compatriotas é super válido esse intercâmbio e experiência de tocar pela primeira vez no Brasil. Espero que a receptividade do público seja a melhor possível nesse dia da gravação e possamos registrar isso em imagens’, diz Chemin.

Quem não quiser perder os shows é bom ficar atento. Hoje, no One Lounge, a apresentação começa às 21h e o ingresso custa R$ 20. Amanhã, às 19h, no Museu da Gente o show é gratuito e, no sábado, às 17h, na Reciclaria (em frente ao Aeroporto), a entrada custa R$ 10.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A Dupla Vida de Isabelle



Marine Vacth encarna a "Jovem e Bela" de François Ozon

No ano passado, os brasileiros puderam conferir dois títulos, bastante diferentes do diretor francês François Ozon. Primeiro, foi lançado o desconcertante “Dentro da Casa” (2012) onde acompanhamos, paulatinamente, o desenrolar de uma engenhosa relação perigosa entre um prodigioso estudante, na arte da escrita, e seu frustrado professor de literatura.

Já, no segundo semestre, várias capitais do país receberam o filme “Jovem e Bela”, que agora, finalmente chega à nossa cidade, com duas sessões diárias, no Cine Vitória (Rua do Turista). A produção, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes 2013, é protagonizada pela modelo Marine Vacth. Com pouca experiência no cinema, a bela atriz de 23 anos, encarna de forma convincente, a adolescente Isabelle, que durante as férias de verão, perde a virgindade com um paquera alemão.

Ainda que acompanhada, sempre de perto, pelo olhar atento de seu irmão mais novo (vide os momentos voyeur de Victor (Fantin Ravat)), a garota quando retorna à sua rotina parisiense, começa a se prostituir, sem nenhuma explicação aparente, já que goza de uma vida confortável com a mãe (Géraldine Pailhas) e o padrasto (Frédéric Pierrot). Teria a frustração da primeira relação sexual desencadeado esse comportamento? Ciente de sua estonteante beleza, estaria Isabelle, testando o seu poder de sedução? Sua vida entediante, estimulou-a a viver perigosamente ?

Por mais que tentemos encontrar uma resposta e, por vezes, algumas supostas possibilidades sejam insinuadas em cenas que envolvem Isabelle e seus parentes, Ozon faz questão de acentuar o lado obscuro da ninfeta, além de não julgar suas atitudes, suas motivações. Longe de enveredar para um roteiro moralista, mesmo quando a dupla vida de Isabelle/Léa é descoberta pela família, o diretor e roteirista prefere desnortear o público com um encontro quase improvável, ao final da projeção.

Ainda que em “Jovem e Bela”, François Ozon confirme o domínio técnico na arte de conduzir seus filmes e atores, o roteiro não se apresenta tão bem estruturado quanto o do seu trabalho anterior, “Dentro da Casa”. No entanto, talvez o que mais inquiete o público, seja a frieza da personagem, acentuada por uma sensação de “não atuação” de Vacth.

Destaque para a trilha sonora, recheada de hits da cantora francesa Françoise Hardy e da música tema “Jeune et Jolie”