terça-feira, 29 de novembro de 2016

Mais Interpretação...Menos Imitação, Por Favor


Andréia Horta vive Elis Regina, no longa de Hugo Prata


Ainda, ontem, comentava com meus alunos de Argumento e Roteiro I, sobre o filme “Elis” de Hugo Prata. Fui direta ao ponto e disse que um dos problemas do longa-metragem, que estreou semana passada, em circuito comercial, era a Elis Regina “performática” de Andréia Horta. Explico.  

Andréia que revelou em entrevistas ser fã, desde pequena, da Pimentinha, não mediu esforços para incorporar seus trejeitos, sotaque, sorriso. Ensaiou durante três meses, exaustivamente, os números musicais escolhidos a dedo para enxertar o filme, a fim de que, após o comando de “Ação”, sua performance fosse tão convincente, que a sincronização com a voz da cantora gaúcha, combinasse perfeitamente.

O esforço nesse sentido foi válido, de certa forma, mas a obsessão pela identidade com a verdadeira Elis, por outro lado, parece ter custado caro à atriz global, já que ela não conseguiu relaxar o suficiente, deixando escapar um fio de autenticidade na sua interpretação. Não raro, notamos a linguagem gestual de Horta se antecipar à verbal. Soa estranho, artificial, caricatural. O incômodo, nesse sentido, duplica quando entra em cena Caco Ciocler (ator que admiro muito, é bom frisar), interpretando um César Camargo Mariano mais alquebrado do que tímido; quase um marido "de enfeite". Contudo, salvam-se Lúcio Mauro Filho (Miele), Gustavo Machado (Ronaldo Bôscoli) e Júlio Andrade (irreconhecível, na pele de Lennie Dale), irrepreensíveis em suas atuações.

O outro ponto frágil da produção, orçada em R$ 5,2 milhões, diz respeito ao roteiro. Assinado pelo próprio diretor, além de dois nomes experientes da área- Luiz Bolognesi (“Uma História de Amor e Fúria”, “Chega de Saudade”) e Vera Egito (“Amores Urbanos”, “Espalhadas Pelo Ar”)- o roteiro derrapa na estrada escorregadia do didatismo. Talvez, para o público jovem, que desconhece a trajetória de Elis Regina Carvalho Costa (1945-1982)- a jovem cantora, que desde a adolescência tornou-se “arrimo de família”, saindo do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro, para tentar alcançar o sucesso- a superficialidade da narrativa conjugada com o desfile de hits (nem todos, contextualizados) funcione. 

Já para quem leu toda a literatura relacionada à vida de Elis Regina e é "fã de carteirinha", o filme não acrescenta nada, provocando apenas um desejo de chegar logo em casa, após a sessão e botar no CD player, qualquer disco da coleção completa, desse ícone da MPB. Há de se elogiar, no entanto, a primorosa direção de arte e direção de fotografia, a cargo de Frederico Pinto e Adrian Teijido, respectivamente. Mas isso é muito pouco, para um obra cinematográfica que gerou tanta expectativa no meio crítico e nos aficionados.
Ainda assim, a receptividade do público tem se mostrado ótima, com o filme estreando em 224 salas brasileiras e arrecadando, no primeiro final de semana, pouco mais de R$ 2 milhões.  Aguardemos a avalanche de prêmios!!