segunda-feira, 16 de outubro de 2017

ABRACCINE lançará livro sobre Documentários Brasileiros Essenciais

No ano passado, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) lançou em várias capitais o livro "100 Melhores Filmes Brasileiros" pela Editora Letramento com parceria do Canal Brasil. A parceria se repetiu esse ano, e no próximo dia 26 de outubro, às 19h, na Livraria Blooks (Shopping Frei Caneca- São Paulo) acontece o lançamento oficial de "Documentário Brasileiro-100 Filmes Essenciais" dentro da programação da 41a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Reunindo 100 ensaios sobre documentários de diferentes épocas e formatos, escolhidos em votação realizada no primeiro semestre de 2017, com a participação de integrantes da ABRACCINE e convidados, a publicação organizada pelo atual presidente da associação, Paulo Henrique Silva, ainda conta com 20 textos sobre personagens e movimentos importantes da história do gênero no Brasil. 

Com apresentação luxuosa e fartamente ilustrada, a publicação parte dos pioneiros do gênero no Brasil, que desbravaram o interior em busca de imagens nos anos de 1910, como Silvino Santos e o Major Thomas Reis. Nomes fundamentais ganham capítulos especiais, como Eduardo Coutinho, Andrea Tonacci, Silvio Tendler e os irmãos João Moreira Salles e Walter Salles.

O livro também se detém na representação das mulheres, negros, dos indígenas e da periferia no documentário e aborda a presença do gênero no desenvolvimento do cinema experimental, da Boca do Lixo e da videoarte. "Mesmo que alguns filmes marcantes não estejam presentes entre os 100 filmes essenciais, eles são analisados com profundidade nesta parte histórica", registra Paulo Henrique Silva.


Para o organizador, mais importante do que estabelecer uma ordem de preferência é a percepção de muitos diálogos que são travados silenciosamente entre os 100 textos sobre a produção documental no país. "O leitor não encontrará um movimento ou cineasta do que outro, mas como cada um deles foi importante para montar os alicerces do gênero", conclui.


O lançamento será precedido por um debate com o tema "A Representação da Raça e Gênero no Cinema Brasileiro- os Limites da Percepção da Crítica" contando com a presença de cineastas como Jeferson De e Helena Ignez e críticos de cinema. A entrada é gratuita.

domingo, 15 de outubro de 2017

Contagem regressiva para a 41a Mostra Internacional de Cinema de SP

Misericórdia de Fulvio Bernasconi_http://bangalocult.blogspot.com
"Misericórdia" de Fulvio Bernasconi abre a minha programação


A gripe me pegou nessa semana que antecede a 41a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ainda bem que já estou me recuperando e os dias que fiquei "de molho", em casa, contribuíram para que eu assistisse uma infinidade de trailers e lesse praticamente todas as sinopses dos quase 400 títulos que serão exibidos no evento desse ano.

Mas digo-lhes que a tarefa de organizar os 50 títulos (a princípio) da maratona que começa nessa quinta-feira, dia 19 de outubro e prossegue até o dia 1o de novembro, não foi nada fácil. Primeiro, eu priorizei os filmes que ganharam prêmios em festivais como Cannes, Berlim, Veneza, Toronto, entre outros. Depois, escalei os meus diretores prediletos, como Haneke, Kore-eda, Vardà, Zvyagintsev e fui elencando os títulos de suas produções mais recentes. Por fim, levei em consideração os trailers e sinopses da maioria dos filmes de cineastas iniciantes ou pouco conhecidos pelas bandas de cá e...seja o que Deus quiser. Tenho muito tiro que dei no escuro, mas espero que acerte o alvo da minha satisfação.

De um número inicial de 64 títulos possíveis de serem vistos, perdi 14 na arrumação final (com possibilidade de encaixar mais quatro). Infelizmente, a maioria dos filmes mais aguardados, pelo público e crítica, ficou concentrada na segunda semana, de modo que os choques de horários e algumas durações acima dos 120 minutos, barraram meu anseio de conferir um pacote maior de opções.

Do mesmo jeito que comemorei a inclusão, na minha programação, de "The Square" de Ruben Ostlund, vencedor da Palma de Ouro em Cannes; ""Esplendor" de Naomi Kawase; "Loveless" de Andrey Zvyagintsev, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Cannes; "O Terceiro Assassinato" de Hirokazu Kore-eda; "Zama" de Lucrécia Martel e "Happy End" de Michael Haneke, lamentei a exclusão de filmes, potencialmente interessantes, a exemplo de "A Hollywood de Hitler" (Alemanha), "Blue My Mind" (Suíça), "O Sabor da Flor do Arroz" (China), "Espinho" (Dinamarca/Grécia), "O Vale das Sombras" (Noruega) e "O Motorista de Táxi", representante da Coreia do Sul para Oscar 2018.

Alguns títulos brasileiros também foram deixados em stand by (na esperança do Cine Vitória exibi-los em breve), como "Açúcar", "Aos Teus Olhos" e "Henfil", mas consegui "salvar" "Arábia"  de Affonso Uchôa e João Dumans, vencedor do Festival de Brasília; "Vazante" de Daniela Thomas, "Callado" de Emília Silveira" e "Gabriel e a Montanha" de Fellipe Barbosa.

A maratona será árdua, com pouco tempo para se alimentar e descansar, mas acredito que o saldo final será positivo, assim como foi na Mostra de 2014, quando também fiquei duas semanas na capital paulista e curti muitos títulos incríveis do Foco Escandinávia. Esse ano, o não menos gélido cinema suíço ganha destaca com 47 títulos selecionados entre produções de Alain Tanner, Georges Schwizgebel e novos diretores.

A partir dessa sexta-feira, pretendo fazer um balanço dos filmes vistos (amados e odiados) quase que diariamente. Espero que vocês acompanhem e mandem seus comentários. Até lá, sigo tomando meu Allegra e meu chá de limão, alho e mel e sussurrando: Xô gripe!!!  

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Cine Vitória realiza pré-estreia de "Na Praia à Noite Sozinha"


Min-hee ganhou o Urso de Prata vivendo um papel autobiográfico

Com pré-estreia prevista para esse sábado, às 18h, no Cine Vitória (Rua do Turista), o filme “Na Praia à Noite Sozinha” do diretor sul-coreano Hong Sang-soo, traz sua atriz fetiche Kim Min-hee num papel desafiador que lhe valeu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim desse ano.
O filme trata de uma atriz coreana famosa Young-hee (Min-hee) que resolve dar um tempo em Hamburgo, na Alemanha, após se relacionar com um homem casado. Lá, ela reflete sobre seus sentimentos pelo ex-amante e cineasta (Moon Sung-keun), e divaga sobre o sentimento que este ainda pode nutrir por ela, com uma amiga também sul-coreana (Seo Young-hwa), que discorre sobre sua relação conjugal.

Explorando a atmosfera melancólica, por vezes, desoladora da Alemanha, durante o inverno, Hong Sang-soo intensifica o sentimento de solidão de Young-hee, sobretudo nos planos abertos, em que contrasta a imensidão de um parque deserto com a pequenez da dupla asiática que passeia despreocupadamente. Em certo momento, há um rapaz que interfere na conversa íntima das duas, para perguntar as horas. Parece uma cena casual, mas esse personagem anônimo retornará mais adiante.

Ainda na primeira parte da narrativa, Young-hee vai almoçar com sua amiga na casa de um casal alemão e, em seguida, seguem para um passeio por uma praia. Lá, Young-hee se afasta um pouco do trio. Ela segue em direção ao mar. A câmera faz uma meia panorâmica enquadrando os três acompanhantes da atriz de longe. Quando a câmera volta para onde a jovem atriz deveria estar, sem muita explicação, vemos a garota sendo carregada, no ombro, por um desconhecido para um destino incerto. Seria o mesmo rapaz de sobretudo que a interceptou no parque ?

Hong Sang-hoo não permite que o espectador fique por muito tempo incrédulo com a cena. Corta rapidamente para a segunda parte da narrativa, momento em que vemos a atriz, sã e salva, num cinema, emocionar-se com a película que acabou de assistir. Ela agora, está na Coreia do Sul e, ao reencontrar com um velho amigo, decide rever aqueles que deixou para trás ou por vergonha ou por falta de apoio com o ocorrido.

É num jantar já meio bêbada, que Young-hee provoca, insulta e irrita os amigos. As conversas entre eles ficam cada vez mais fora de controle, revelando descobertas e verdades. Nesse encontro, Young-hee demonstra que quer amar e ser amada e notamos toda a sua fragilidade como ser humano. Refugiando-se numa praia, da cidade de Gangneung, ela reencontra um colega de trabalho do seu ex-amante e descobre que ele está na cidade, envolvido numa nova produção cinematográfica.

O reencontro entre os dois será inevitável e, também num jantar, ambos revelam seus sentimentos um pelo outro e deixam aflorar suas mágoas. São nessas cenas de reencontros à mesa, que Min-hee se destaca, como atriz. Na vida real, ela teve um caso extraconjugal com Hong Sang-soo, que quando revelado, causou uma reviravolta na vida de ambos. Não deve ter sido fácil trazer à tona, num set de filmagem e sob a direção do ex-amante, parte de sua vivência, mas a jovem atriz parece ter superado o que aconteceu num passado bem próximo.  A marca biográfica da história torna-a mais interessante.

Na última cena, vemos Young-hee deitada na área da praia, talvez, tentando saber qual a importância do amor na vida de alguém. Quanto a Min-hee parece que ela já encontrou  a resposta.