quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Para Toda Família

Irene (Teles) não quer se desgrudar de seu "Benzinho" (Sarris)


Há um quê de "Pequena Miss Sunshine" (2006) de Jonathan Dayton e Valerie Faris em "Benzinho", novo filme de Gustavo Pizzi, que estreia hoje, em circuito nacional. A kombi, caindo aos pedaços, é o meio de transporte da família; a crise financeira que bate à porta do casal de protagonistas, apesar destes não perderem a esportiva; a corrida contra o tempo para um dos filhos realizar seu sonho são os principais pontos de aproximação entre as duas obras. Mas as semelhanças param por aí. 

Enquanto o roteirista Michael Arndt apostou num humor cáustico, ao formatar a família Hoover com membros excêntricos e disfuncionais, Karine Teles e Gustavo Pizzi- que dividiram a função de roteiristas-, criaram personagens extremamente empáticos para guiarem a história de tons levemente dramáticos. É quase impossível não se identificar com o casal Irene (Karine Teles, em estado de Graça) e Klaus (Otávio Müller, ótimo). 

Pais de quatro filhos- Fernando (Konstatinos Sarris), Rodrigo (Luan Teles) e os gêmeos Fabiano e Mateus (Arthur e Francisco Teles Pizzi)- Irene e Klaus lutam para se manter na classe média, já que a crise financeira que assola o país, insiste em puxá-los para baixo, na pirâmide social. Autônomos, ambos vêem a clientela minguar, gradativamente, enquanto sua casa, na região serrana de Petrópolis, começa a ruir (literalmente) com o aparecimento de rachaduras, vazamentos, entre outros. 

Em meio ao caos, surgem dois acontecimentos inesperados: o filho mais velho, Fernando é convidado para jogar handebol na Alemanha e Sônia (Adriana Esteves), irmã de Irene, vai passar um tempo na casa do cunhado, por conta da agressão que sofreu do marido (César Troncoso). Se para Klaus, a proposta profissional feita ao filho, é motivo de orgulho, para Irene soa ameaçador. Como se não bastasse tudo isso, Klaus deseja vender a casa de praia em Araruama, para investir num novo negócio e terminar a nova morada. Como Irene reagirá a essas mudanças ?

O resultado é possível saber após 96 minutos de duração do longa, que conta com alguns trunfos para alcançar o sucesso de público. Sem dúvida, o principal deles é o elenco. Dos mais experientes ao mais jovens, quase todos os atores e atrizes demonstram estar numa mesma sintonia, num entrosamento espantoso. Talvez, César Troncoso, que é um excelente ator, aqui esteja um pouco acima do tom, vivendo um marido drogado e abusivo. O destaque fica por conta de Karine Teles e Otávio Müller que criam com honestidade e com uma espontaneidade singular, personagens críveis, cativantes e agregadores.

Vale destacar também o trabalho de Gustavo Pizzi que demonstra habilidade na direção de atores, bem como os resultados obtidos por Pedro Faerstein (direção de fotografia), Dina Salem Levy (direção de arte) e Livia Serpa (montagem). O longa-metragem que foi produzido por Tatiana Leite e é uma co-produção Brasil e Uruguai, teve sua primeira exibição no país, no 46o Festival de Cinema de Gramado. Deve sair da Serra Gaúcha com alguns Kikitos.

Curiosidade 1: Gustavo Pizzi já foi casado com Karine Teles. Da união dos dois, nasceram os gêmeos Arthur e Francisco Teles Pizzi. Luan Teles é sobrinho de Karine Teles.


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Contagem Regressiva para o 51o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

"Domingo" será o filme de abertura do 51o Fest Brasília
"Bixa Travesty" novo doc de Claudia Priscilla e Kiko Goifman
"Guaxuma" curta de animação de Nara Normande


Falta menos de um mês, para o início do mais antigo festival de cinema do país: o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Para essa 51a edição, que acontece de 14 a 23 de setembro, sob a direção de Eduardo Valente, a diversidade em todas as suas formas de expressão ocupa o centro do debate produtivo do cinema brasileiro e este fator já se traduz em números registrados após a seleção de filmes para esta edição.

Pela primeira vez, as diretoras do gênero feminino e/ou identificadas por gêneros não-binários figuram em número mais expressivo do que os diretores de gênero masculino. Dos 724 títulos inscritos para as mostras competitivas, paralelas, especiais, hours concours, Mostra Brasília e exibições em outras atividades, 52,4% são de diretoras, 9,5% se inscreveram sob a categoria não-binária (outros) e apenas 38,1% dos selecionados são de diretores.

Tais dados traduzem de forma prática a estratégia de se ampliar o escopo de vozes e pensamentos do nosso cinema. Eduardo Valente diz que “a curadoria apenas seguiu a sua missão de encontrar os filmes que acredita mais potentes para o evento e que o fato de termos mais filmes dirigidos por mulheres entre os selecionados representa tão somente a força do talento das mesmas”.

Dos mais de 120 títulos que serão exibidos durante 10 dias de programação,  nove longas-metragens e 12 curtas-metragens pleitearão o Troféu Candango nas Mostras Competitivas – Curtas e Longas. Entre os longas, estão os documentários “Torre Das Donzelas” de Susanna Lira (RJ), “Bixa Travesty” de Claudia Priscilla e Kiko Goifman (SP) e “Bloqueio” de Quentin Delaroche e Victória Álvares (PE); e as ficções “Ilha” de Ary Rosa e Glenda Nicácio (BA), “Los Silencios” de Beatriz Seigner (SP/Colômbia/França), “Luna” de Cris Azzi (MG), “New Life S.A.” de André Carvalheira (DF); “A Sombra do Pai” de Gabriela Amaral Almeida (SP) e “Temporada” de André Novais Oliveira (MG).

Os curtas-metragens participantes da Mostra Competitiva se dividem entre oito ficções, três documentários e uma animação. Os documentários são “Liberdade” de Pedro Nishi e Vinicius Silva (SP); “Sempre Verei Cores no Seu Cinza” de Anabela Roque (RJ) e “Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados” de Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cristiano Araújo e Pedro Maia de Brito (PE). As ficções selecionadas são “Aulas que Matei” de Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia (DF); “Boca de Loba” de Bárbara Cabeça (CE); "BR3" de Bruno Ribeiro (RJ); “Eu, Minha Mãe e Wallace” dos Irmãos Carvalho (RJ); “Kairo” de Fabio Rodrigo (SP); “Mesmo com Tanta Agonia” de Alice Andrade Drummond (SP); “Plano Controle” de Juliana Antunes (MG) e “Reforma”, de Fábio Leal (PE). Única animação da Competitiva, “Guaxuma” de Nara Normande (PE), também concorre ao Candango.

O longa-metragem responsável pela abertura do Festival é “Domingo” ficção de Clara Linhart e Fellipe Barbosa (RJ). Em caráter hour-concours, o filme fará sua estreia brasileira no Festival de Brasília. Já no encerramento, antes do anúncio dos premiados com o Troféu Candango, será exibido o documentário “América Armada” de Alice Lanari e Pedro Asbeg (RJ).

Além da Mostra Competitiva e da Mostra Brasília, realizada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal para premiar a excelente produção do cinema local, o Festival de Brasília conta com mostras paralelas- A Arte da Vida; Onde Estamos e Para Onde Vamos ? e Festival dos Festivais- que conferem grande variedade de títulos do novo cinema nacional. O festival também apresenta duas Mostras Especiais de tom competitivo em sua programação: Futuro Brasil e Caleidoscópio.

Homenagens

Serão homenageados com a medalha Paulo Emílio Salles Gomes- distinção criada em 2016, como forma de reverenciar os grandes nomes do cinema brasileiro na programação do festival-  o crítico e professor de cinema Ismail Xavier e um dos idealizadores do Festival de Brasília e pioneiro da cidade, o arquivista Walter Mello.

As figuras femininas que marcaram o cinema brasileiro também serão celebradas. O Festival de Brasília criou, esse ano, o Prêmio Leila Diniz que será entregue à atriz, dramaturga, professora e coordenadora de cursos de cinema Íttala Nandi e à montadora Cristina Amaral.

A programação detalhada pode ser conferida no site: http://www.festivaldebrasilia.com.br/