sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vera Cruz, o Retorno ?

A Prefeitura de São Bernardo do Campo inaugurou, na última segunda-feira, o Centro de Audiovisual, um moderno espaço para a formação de novos profissionais e de difusão de produtos cinematográficos e de peças para a TV e animação. A abertura do Centro de Audiovisual é a primeira etapa do projeto de revitalização dos antigos Estúdios Vera Cruz, marco importante na história cultural de São Bernardo do Campo e do Brasil. 

Com equipamentos de tecnologia de ponta, o Centro de Audiovisual vai oferecer cursos gratuitos, com matérias teóricas e práticas, nas áreas de Cine/TV e de Animação 2D e 3D. As inscrições estarão abertas a partir do dia 27 de novembro pelo site www.saobernardo.sp.gov.br/cultura/cav

A escola terá capacidade para atender 225 alunos. Os cursos terão duração de um ano e meio, divididos em três semestres. As aulas para a primeira turma, de 75 alunos, começarão em março, após o processo seletivo. O novo espaço é resultado de um convênio entre a Prefeitura de São Bernardo e o Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura (Minc).

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

GPCIR comemora 15 anos e lança livro



Para comemorar os 15 anos do Grupo de Pesquisa Culturas, Identidades e Religiosidades (GPCIR) da Universidade Federal de Sergipe, um dos idealizadores do grupo, o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, estará lançando, amanhã, às 17h, no Museu da Gente Sergipana, o livro “O Pulso de Clio...Religiosidade, Cultura e Identidade”.

“Eu e a professora Verônica Nunes fomos os fundadores desse grupo de pesquisa. Após 15 anos de várias realizações, faltava ainda reunir artigos num livro coletivo e, agora, estamos lançando ‘O Pulso de Clio...’ composto por textos de colegas do GPCIR e também dos alunos do CNPQ”, explica o organizador da publicação.

No livro, foram reunidos 10 artigos que refletem os mais recentes caminhos abertos pela pesquisa dos historiadores, não mais restritos aos campos dedicados à economia e à política. O artigo de abertura é de autoria do Prof. Dr. Antônio Lindvaldo. Em “Núcleos de Povoamento e Expansão da Cristandade na América Portuguesa no Século XVII: o caso de Sergipe Del Rey”, o historiador ocupa-se da formação de Sergipe Del Rey e chama a atenção, que tal organização espacial e econômica, dá-se em relação que envolve homens e mulheres que vivem em situação diferenciada daquela ocorrida na Pernambuco de Duarte Coelho.


Segundo Severino Vicente da Silva, professor adjunto do Departamento de História da UFPE, responsável pelo texto de apresentação do livro, Lindvaldo Sousa nos leva a uma releitura da historiografia e nos mostra que, apesar da inexistência dos engenhos, mas considerando a formação social específica por conta da necessidade dos espaços para o gado, formaram-se povoações que construíram capelas e essas construções toscas ou melhor acabadas, foram impostantes no processo de estabelecimento de uma civilização cristã no Sergipe Del Rey. 

“O meu texto é uma nova proposta dentro da História Cultural que vê que todos os historiadores clássicos, sempre minimizaram o papel dos núcleos de povoamento do Brasil Colonial. Como a principal economia estava no campo, considerava que o núcleo de povoamento era mais um entreposto entre a região que produzia e o mercado de fora. E há uma corrente agora, liderada por Ronald Ramineli e com a qual eu me filio, que os núcleos de povoamento tiveram uma importância muito grande no período Colonial, no sentido de expansão da Cristandade como esteio de dominação do Estado”, conta Lindvaldo.

Seguem outros textos de igual importância como “Imigração e Igreja Católica: a Pia Sociedade das Missões no Rio Grande do Sul” de Jérri Roberto Marin; “Igreja Presbiteriana na Bahia Entre 1872-1900: o cotidiano dos fiéis” de Mariana Ellen Santos Seixas; “Jardins de Memórias Verdes: História, Literatura e Narrativa” de Claudefranklin Monteiro Santos; “Montezuma: um venturoso “homem de cor” na Corte Imperial” de Petrônio Domingues, entre outros.

O livro, publicado pela Redes Editora, completa-se com mais cinco textos, assinados por Andreza Silva Matos, Alealdo Wendell Menêses Mendonça, Tatiane Oliveira Cunha, Andréa Bandeira e Uílder do Espírito Santo Celestino.


A proposta é de que após o lançamento em Aracaju, “O Pulso de Clio...” também ganhe lançamento em outras praças do país.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Prêmio Portugal Telecom divulga Vencedores

A cerimônia de entrega do 10º Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa consagrou o português Valter Hugo Mãe. O escritor e poeta foi agraciado com o Grande Prêmio, escolhido entre os vencedores das três categorias da edição 2012 do Prêmio. Valter Hugo Mãe ganhou o prêmio como melhor Romance, enquanto Dalton Trevisan venceu a categoria Conto e Nuno Ramos, a Poesia. O anúncio foi feito ontem, à noite, no Auditório do Ibirapuera, em evento que contou com a presença dos autores e de outras personalidades da Cultura Brasileira.

Nascido em Angola, em uma cidade chamada Henrique de Carvalho, Valter Hugo Mãe foi premiado por seu último livro, "A Máquina de Fazer Espanhóis", segundo título de ficção mais vendido em 2010, em Portugal. Trata-se do quarto volume de uma tetralogia formada pelos romances: "O Nosso Reino (2004), "O Remorso de Baltazar Serapião" (2006, vencedor do Prêmio Saramago) e "O Apocalipse dos Trabalhadores" (2008).

O curitibano Dalton Trevisan, vencedor da categoria Conto com a obra "O Anão e a Ninfeta", tem mais de 40 livros publicados, em 50 anos de carreira. Já conquistou o Prêmio Portugal Telecom em 2003, com o livro "Pico na Veia", e em 2007, com a obra "Macho não Ganha Flor". Em 2012, o escritor foi eleito por unanimidade o vencedor do Prêmio Camões, principal reconhecimento da literatura em língua portuguesa, criada em 1988 por Brasil e Portugal. O escritor ainda venceu quatro vezes o prêmio Jabuti, entre 1960 e 2011.

Um dos mais importantes nomes da arte contemporânea brasileira, Nuno Ramos é autor de livros de contos, ficção, poesia e ensaios biográficos, e foi premiado por sua obra Junco. Formado em filosofia, o artista multimídia foi o ganhador do prêmio Portugal Telecom em 2009, com "Ó". Nuno Ramos, atualmente, está com uma instalação no Rio de Janeiro na qual mostra diversos objetos pessoais e outros coletados aleatoriamente, que serão todos destruídos ao final da exposição.

10ª edição do Prêmio- Os conceitos norteadores do prêmio são a transparência em todo o processo e o caráter democrático das três etapas de votação.

Atendendo às solicitações de curadores de várias edições, pela primeira vez os 60 primeiros classificados e os 12 finalistas foram votados separadamente, em três categorias: poesia, romance e conto/crônica. O vencedor de cada categoria recebeu um prêmio no valor de R$ 50 mil. 

Valter Hugo Mãe, escolhido dentre os três vencedores como o ganhador do Grande Prêmio Portugal Telecom, levou R$ 50 mil adicionais.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

"A Bofetada" aporta no Teatro Atheneu




A Companhia Baiana de Patifaria sobe ao palco do Teatro Atheneu neste final de semana para apresentar, no sábado, às 21h e domingo, às 20h, um dos principais espetáculos de seu repertório: “A Bofetada”.  Comédia de sucesso nacional e montada pela primeira vez, há 24 anos, “A Bofetada” utiliza a marca registrada da Cia. Baiana, centrada no humor e na capacidade de improviso dos atores, para a contínua renovação do espetáculo, com notícias do cotidiano do país e da cidade em que se apresentam. 

O elenco, formado por Nilson Rocha, Alexandre Moreira, Jarbas Oliver e Lelo Filho, que também assina a direção, estabelece uma relação direta e de grande empatia com a plateia tornando cada apresentação imprevisível. 

Para arquitetar a montagem composta de três esquetes, os “patifes” foram buscar inspiração em clássicos da comédia brasileira da década de 80. No primeiro quadro ‘O Calcanhar de Aquiles’, baseado em texto de Mauro Rasi, a crítica e a vanguarda são os alvos, ao confrontar a crítica teatral Vânia Leão e sua amiga Dirce Mendonça (interpretadas pelos atores Nilson Rocha e Jarbas Oliver) com Eleonora, atriz decadente (vivida pelo ator Alexandre Moreira), que se dispõe a interpretar, sozinha, 60 personagens de uma tragédia grega e que, nessa nova versão, surge inspirada no filme “Cisne Negro”. 

Os dois esquetes seguintes foram escritos por Miguel Magno e Ricardo de Almeida e também tratam do universo do teatro. Em ‘O Ponto e a Atriz’, vários gêneros teatrais são ironizados ao resgatar a função do Ponto, figura que lembrava o texto para as divas das grandes companhias de teatro, durante as apresentações. 

No último esquete, ‘Fanta e Pandora’, o ensino do teatro é o foco central e a plateia é transformada em mais um personagem com quem duas professoras universitárias passam a interagir. O ator Lelo Filho, interpretando Fanta Maria, divide a cena, desta vez, com Jarbas Oliver, que dá vida a Pandora Luzia.

Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ao preço de R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

Crédito da Foto: Manoela Carvalho

Sergipano vence Prêmio de Literatura Contemporânea



Quando escreveu o livro-reportagem “Os Ônibus, O Pêndulo, Uma Frase, Algumas Histórias e, Quiçá, o Diploma” entre setembro e dezembro de 2009, como Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da Universidade Tiradentes, o jovem estudante, Rodrigo Bardo, só desejava que as histórias reunidas no livro, fossem conhecidas por um público bastante abrangente.

Por isso, em 2011, disponibilizou na internet, através do site http://pt.scribd.com , o livro em PDF, obtendo mais de oito mil leitores. Rodrigo, no entanto, pensou em materializar o texto em “papel” e decidiu publicá-lo. O orçamento das gráficas e editoras o afastaram, momentaneamente, do sonho de ver seu primeiro livro, sendo vendido nacionalmente. Após pesquisar outras alternativas para divulgar seus escritos, Bardo conheceu o site Clube de Autores ( líder em publicação gratuita e impressão sob demanda de livros produzidos por autores independentes) e teve seu projeto aprovado.

Surpresa maior, no entanto, viria semana passada, quando recebeu a notícia de que “Os Ônibus, O Pêndulo, Uma Frase, Algumas Histórias e, Quiçá, o Diploma” tinha sido escolhido como o melhor livro da 3ª edição do Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea.

Com mais de 502 obras inscritas no prêmio, o livro do sergipano, classificou-se para a segunda fase na quinta colocação. As 10 obras finalistas foram julgadas por um comitê de profissionais especializados e convidados pelo Clube de Autores, e com nota máxima em quase todos os quesitos (estilo, fluidez, criatividade, conteúdo e correção), o livro de Rodrigo Bardo, sagrou-se vitorioso e ele ganhou um iPad 2.
“O Clube de Autores abriu portas que, hoje em dia, são muito difíceis de serem abertas, quando se trata de publicação, tudo é muito complexo. Orgulho-me em ter vencido este prêmio e parabenizo todos os meus companheiros. O mais importante é saber que existe a matéria prima da literatura: o leitor”, completa Bardo.

“Os Ônibus, O Pêndulo, Uma Frase, Algumas Histórias e, Quiçá, o Diploma” reúne depoimentos de universitários que moram em municípios sergipanos e, diariamente, deslocam-se para a capital, a fim de alcançarem a “glória” do diploma de nível superior. O jovem escritor lagartense, inspirado em suas aventuras ao longo dos quatro anos de universidade, dentro do “busão” (Lagarto-Aracaju-Lagarto), decidiu registrar as experiências semelhantes de outros colegas, apostando num discurso metafórico para enriquecer as histórias.

“O que está dentro do livro, é um pouco da vida diária de vários estudantes do interior de Sergipe, que vêm à capital, para frequentar as universidades. Ninguém sabia como era essa rotina. Só, ocasionalmente, quando havia um acidente de ônibus, é que a imprensa noticiava, tinha-se uma noção pelo que passava esses passageiros. Mas poucas pessoas sabem como é trabalhar o dia inteiro e depois ter que correr para pegar o ônibus escolar, única chance de você chegar até a universidade. Ao ler esses depoimentos, percebe-se que pouca coisa muda de uma cidade para a outra. As experiências são semelhantes e as dificuldades, idem”, explica Bardo.

Além do sufoco nas estradas (ônibus quebrados, perigo iminente de acidentes), os passageiros-estudantes têm que lidar com situações inusitadas, como o fato do ônibus não sair da garagem num determinado dia, por questões políticas. “Quando o ônibus é particular, fretado por um grupo de alunos, esse problema não acontece. Mas quando se depende do ônibus da prefeitura, se houver briga entre a situação e a oposição, corre o risco dos alunos ficarem na mão por uns dias. O mesmo acontecendo na transição de governo”, diz o escritor.

No momento desempregado e estudando para concurso público, Rodrigo Bardo não descarta a possibilidade de ainda publicar o livro em Sergipe (por enquanto, só é possível adquiri-lo através do site http://www.clubedeautores.com.br ao preço de R$ 29,90). Ele, que foi responsável por todo o projeto gráfico de “Os Ônibus, O Pêndulo, Uma Frase, Algumas Histórias e, Quiçá, o Diploma”, procura patrocinadores e apoiadores, a fim de fazer circular o livro por aqui.

Torçamos pelo lançamento em breve!!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Público prestigia Concerto de Trilhas

A última vez que tinha visto o Teatro Tobias Barreto lotado, numa apresentação da Orquestra Sinfônica de Sergipe, foi quando o maestro e compositor fancês Michel Legrand tocou junto com a referida orquestra, em junho de 2009. Na época, não teve ingresso para quem quis.

Ontem, no concerto em que a ORSSE dedicou o repertório a famosos temas de filmes, como "Guerra nas Estrelas", "Super Homem", "Piratas do Caribe" e "Harry Potter e a Pedra Filosofal", o público também se fez presente em massa e, acredito que a disputa por um dos 1.340 lugares do teatro, deve ter sido acirrada.

Na primeira parte, regida pelo maestro assistente Daniel Nery, aconteceram alguns deslizes no naipe de metais. Os trompetes pareciam ainda "frios" para alcançarem de forma satisfatória as notas que o tema de "Indiana Jones", composto por John Williams, exige. O problema se repetiu, no não menos exigente, tema de "Super Homem".

O músicos começaram a entrar "nos eixos", a partir da execução de "Por una Cabeza" de Carlos Gardel, presente numa das cenas chave do filme "Perfume de Mulher". O solista da canção foi o spalla da ORSSE, Márcio Rodrigues. O encerramento da primeira parte deu-se com a execução do tema de "Star Wars", também de John Williams. Dessa vez, os músicos estavam mais sintonizados e foi um deleite ouvir a 'Marcha Imperial' e o 'tema de Yoda'.

Depois de uma breve pausa de 15 minutos, os músicos voltaram ao palco, dessa vez sob a regência do maestro titular Guilherme Mannis. A ORSSE parecia outra. Estava todo mundo concentrado, afinado, com os naipes de cordas e percussão sobressaindo-se na passagem dos temas de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" e "O Senhor dos Anéis". Foi arrasador!!!

Não menos importante foi a execução do melancólico tema de "A Lista de Schindler", tendo Márcio Rodrigues mostrado também seus dotes artísticos como violinista, ainda que a performance tenha sido mais burocrática que emocionante. O grand finale aconteceu com a execução do tema de "Piratas do Caribe".O público ovacionou a ORSSE depois da apresentação.

Torço para que na temporada da ORSSE do próximo ano, Guilherme Mannis organize dois concertos similares a estes (um em cada semestre), privilegiando compositores como Ennio Morricone, Nino Rota ou Henry Mancini, Gabriel Yared, Michael Nyman, Thomas Newman, Hans Zimmer. 

Os cinéfilos agradecem !!! 

domingo, 18 de novembro de 2012

"Era uma Vez Eu, Hermila"

Uma Vez Eu, Verônica_cena do filme_http://bangalocult.blogspot.com
Verônica e Gustavo tentando se acertar em pleno carnaval

Foi no ano de 2006, por ocasião do lançamento do filme "O Céu de Suely" de Karim Aïnouz, em Aracaju, que entrevistei a pernambucana Hermila Guedes. O bate papo ocorreu no hotel, pouco antes dela embarcar para Recife. Ali, eu já profetizara que o Brasil  iria ouvir muito falar de Hermila, por conta de seu talento na arte de interpretar. Parece que eu tinha razão.

Tendo feito uma participação em "Cinema, Aspirinas e Urubus" de Marcelo Gomes e ganho vários prêmios protagonizado Suely, no filme do Karim, foi na televisão que a jovem atriz, acostumada com os palcos pernambucanos, ganhou visibilidade, ao viver Elis Regina no especial "Por Toda a Minha Vida" da Rede Globo. Depois disso, marcou presença nas novelas "Ciranda de Pedra", "Amor Eterno Amor" e na minissérie "Força Tarefa".

No entanto, é na telona, que Hermila parece encontrar o tom certo, quando bem dirigida (esqueça aquele "papelão" que arranjaram prá ela em "Assalto ao Banco Central"). Se não vejamos, "Era uma Vez Eu, Verônica" em que novamente é dirigida por Marcelo Gomes e contracena com João Miguel.

O filme, que entrou em cartaz em algumas capitais do país, na última sexta-feira, foi um dos brasileiros que conferi na 36a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Não sou muito atraída pelos títulos nacionais, em eventos dessa magnitude. Priorizo os estrangeiros, sobretudo as produções de países como Canadá, Dinamarca, Austrália, Argentina, Alemanha, entre outros.

Duas coisas porém, atraíram-me àquela sessão verpertina, no Espaço Itaú Frei Caneca, do dia 25 de outubro:  o fato da produção ter ganho alguns Candangos no 45o  Festival de Brasília (incluindo Melhor Filme e Roteiro) e da atriz voltar a interpretar um personagem tão complexo. Minha aposta foi certeira.

Ainda que o filme tenha algumas questões que me incomodam, como a insistente voz "interior" da protagonista, em off, que teima em pontuar a narrativa e um João Miguel completamente apático como Gustavo (namorado de Verônica), "Era uma Vez..." é  obrigatório para o público mais exigente, quando o assunto é cinema nacional.

Verônica é uma médica psiquiatra, recém-formada, que vive uma crise existencial, onde questões profissionais e afetivas têm lhe afligido muito. Ao mesmo tempo que ela quer ser livre, sente necessidade de namorar sério; a Medicina ensinada nos bancos da Universidade não é a mesma que ela põe em prática diariamente no hospital público em que trabalha, havendo divergências com o diretor da unidade, em relação à conduta nos tratamentos dos pacientes. Como se não bastasse, ela  só tem o pai idoso (o excelente W. J. Solha) como companhia diária. Mas devido a uma doença fatal que se manifestou, inesperadamente, Verônica terá que lidar com a ideia da perda iminente e com a sensação de "vazio". 

Um dos grandes méritos do filme é a entrega de Hermila ao personagem. Quem já não passou por situações semelhantes ao da protagonista e viveu seus anseios, dúvidas e angústia? Está tudo lá, na telona, captado com  delicadeza pelo olhar de Gomes, amparado pela bela fotografia de Mauro Pinheiro Jr. (o mar de Boa Viagem nunca se mostrou tão belo...).

Outro ponto positivo do roteiro é mergulhar no universo da classe média urbana nordestina. Nove em cada 10 fillmes rodados nesta região, ainda privilegiam o interior, com seus personagens caricatos, de sotaques carregados e tramas ensopadas de desgraças. O próprio Marcelo Gomes, em "Cinema, Aspirinas e Urubus", explorou alguns desses elementos. Agora, mostra versatilidade como roteirista e diretor, nesse longa-metragem que não passou despercebido no Festival de Cinema do Amazonas (Melhor Filme e Melhor Atriz), encerrado há uma semana.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Septuagenário Zé Carioca

 
 
Depois do Pato que inaugurou as publicações da Editora Abril completar sete décadas, é a vez do mais célebre personagem de HQ já criado no Brasil virar setentão: Zé Carioca, o mais clássico de todos comics tupiniquins, fez sua estreia no longa dos Estúdios Disney “Alô Amigos” em 1942. Para comemorar essa data, a Editora Abril fará uma coletânea de todas as histórias já publicadas ao longo deste tempo, algo que nunca foi feito antes.

São dois volumes de 300 páginas cada, sendo que o primeiro está nas bancas desde o dia 30 — exatamente um mês depois, a segunda edição desembarca. No total, 103 tiras serão republicadas com as cores originais com que foram lançadas. A Abril reuniu um time de especialistas que devotaram cerca de dez meses a uma pesquisa minuciosa para conservar os mesmos tons vintage de gibis de décadas passadas.

Decerto, a coleção encherá de nostalgia gerações inteiras influenciadas pelos quadrinhos Disney, e fará um importante trabalho em resgatar aos leitores mais jovens este valioso legado da produção brasileira de HQ. Fato, porém, é que a Editora Abril dará um passo adiante ao publicar as primeiras histórias inéditas de Zé Carioca em mais de dez anos. Quem assina os roteiros são dois desenhistas que escreveram algumas das mais célebres histórias no apogeu do gibi de Zé Carioca aqui no Brasil, durante os anos 70, 80 e 90, Arthur Faria Jr. e Luiz Podavin. A Editora Abril passará a publicar histórias inéditas da Vila Xurupita a partir do 1º trimestre de 2013.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MASP expõe Gravuras do Renascimento Alemão


"Três Cabeças Orientais"- obra de Schongauer


Até o dia 13 de janeiro de 2013, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) abriga uma mostra significativa da coleção Barão Edmond de Rothschild ao Museu do Louvre. Trata-se da exposição “Luzes do Norte” composta por 61 obras (gravuras e desenhos) renascentistas alemãs, que pela primeira vez são mostradas ao público (nem mesmo no Louvre, essas obras-primas, até então, tinham sido expostas). 

A representatividade dessa exposição, não está diretamente ligada ao número de obras que atravessaram o Atlântico para serem apreciadas pelos brasileiros. Levando-se em conta que a coleção completa do Barão é formada por 100 mil obras, o que são apenas 61 ? A importância deve-se não só ao ineditismo da mesma, como o fato da exposição comportar o que de mais relevante foi produzido na arte do desenho, nos séculos XV e XVI, em solo alemão.

Colecionador de obras de arte que, à frente de seu tempo, compreendeu o Zeitgeist do Renascimento, o Barão Edmond de Rothschild “reuniu as mais belas peças da gravura alemã dos séculos XV e XVI que a curiosidade intelectual, o estudo erudito e, algumas vezes, a sorte ofereceram para seu excepcional gosto pelo Belo”, diz Henri Loyrette, diretor presidente do Louvre.

Ainda em vida, o barão francês externou à família o desejo de que sua primorosa coleção, após sua morte, fosse doada ao Museu do Louvre. Pouco mais de um ano depois de sua morte, no dia 28 de dezembro de 1935, os herdeiros do Barão e da Baronesa doaram ao Estado o conjunto da coleção (mais de três mil desenhos, mais de 40 mil gravuras, manuscritos e livros raros).

Para o MASP, que contribui com a exposição “Luzes do Norte” com os óleos sobre madeira “O Poeta Henry Howard, Conde de Surrey” (1542), de Hans Holbein, o Jovem e “Retrato de Jovem Aristocrata” (1539), de Lucas Cranach, o Velho, essa é mais uma excelente oportunidade de evidenciar o valor do papel (como suporte), que costumeiramente é mal apreciado.

Depois de mostrar ao público em 2010, as colagens de Max Ernst e, em 2011, as gravuras e desenhos de Sigmar Polke, agora é a vez do MASP exibir obras do Mestre do Baralho, do Mestre E. S., Martin Schongauer, e Albrecht Dürer, pertencentes ao Renascimento- movimento artístico e intelectual nos séculos XV e XVI, que lançou bases ao desenvolvimento do comércio, crescimento de cidades, rompimento com a mentalidade de misticismo e com forte inclinação ao Humanismo. Suas características principais eram, sobretudo, a exaltação do individualismo e da personalidade humana e o apreço à arte comercializável, possível graças à invenção da prensa por Gutenberg. 

Os destaques ficam por conta de um dos mais antigos desenhos alemães que se tem conhecimento “O Imperador Sigismundo com o Rei da Boêmia e o Rei da Hungria” do Mestre Anônimo; o buril “A Prisão de Jesus Cristo”, realizado pelo Mestre do Baralho em atividade por volta de 1430-1450; “O Banquete Amoroso” do Mestre E.S.; a gravura realçada com guache “Três Cabeças Orientais” de Martin Schongauer e o buril “Adão e Eva ou A Queda” de Albrecht Dürer.

Este último, incontestavelmente, o maior artista do Renascimento Alemão, foi o responsável por levar o movimento artístico, oriundo da Itália, para o Norte da Europa.  Para Teixeira Coelho, curador do MASP, Dürer “foi o maior nome da gravura em todos os tempos até a chegada de Rembrandt, e foi a gravura que firmou seu nome internacional ainda em sua própria época. [...] Seu grande aporte, por arbitrário que seja destacar um dentre vários, foi a originalidade da invenção, algo que se poderá verificar nesta exposição, de modo central embora não exclusivo, nas peças ‘Santo Eustáquio’, ‘A Trindade’ e o popular ‘Rinoceronte’, três de suas muitas obras-primas”. 

Para ver esses e outros trabalhos expostos no 2º andar do MASP, ele localiza-se à Av. Paulista, 1578. O museu funciona de terça a domingo e feriados, das 10h às 18h. Às quintas: das 10h às 20h. Ingresso: R$ 15 e estudante: R$ 7. Crianças até 10 anos e adultos acima de 60 anos não pagam. Às terças, o acesso é gratuito a todos.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A "Peleja" entre os Lambe Sujos e Caboclinhos


Caboclinho preparando-se para a "Peleja" com os Lambes Sujos

“Peleja”, exposição fotográfica de Alejandro Zambrana, que será aberta, hoje, às 19h, na Galeria Jenner Augusto, Sociedade Semear, é uma pequena mostra dos registros da festa, realizados pelo fotógrafo, há 11 anos.

Composta de 15 imagens coloridas, tiradas de uma câmera analógica (Zambrana aprecia trabalhar com filmes positivos- slides), a exposição comprova o talento do artista, quando o assunto é retratar eventos como Lambe Sujos e Caboclinhos, que apresenta uma dinâmica extremamente complexa, não só na sua duração, como no deslocamento espacial dos brincantes pela cidade de realização.

Quando questionado sobre o fascínio que a tradição popular lhe provoca, Alejandro responde que, apesar da festa acontecer, anualmente, no segundo domingo do mês de outubro, a cada ano ela oferece novidades, por vezes, sutis, aos observadores mais atentos.

“A festa é contagiante e demanda uma energia muito grande. A cidade de envolve com a batalha entre Lambe Sujos e Caboclinhos naturalmente e, além disso, tem as figuras anônimas e os personagens da trama que são impagáveis. Apesar de ser o mesmo ritual há décadas, a gente percebe que muita coisa vai mudando, com o passar dos anos”, conta.

É um pouco sobre o lado tradicional e as interferências sofridas pela festa, que se debruça o fotógrafo. Em “Peleja”, essas vertentes podem ser observadas nos três eixos temáticos que a compõe: Ciclo, Ritual e Herança. A ideia dessa divisão é da curadora Ana Lira, que junto com Zambrana, propõe uma discussão importante sobre a sobrevivência dos rituais religiosos e culturais populares. O resultado do trabalho mostra a força de uma encenação com mais de 100 anos de existência e a paixão de uma cidade por um de seus mais simbólicos patrimônios culturais. 

 Essa é  a primeira vez que Alejandro expõe em Aracaju, cenas dos Lambe Sujos e Caboclinhos. Uma exposição com formato maior (composta por 29 fotografias) foi realizada no ano passado em Laranjeiras. Algumas dessas fotos também foram mostradas em exposições coletivas realizadas no Rio de Janeiro e Uberlândia, tendo como curador, o fotógrafo Márcio RM.

A Galeria Jenner Augusto abriga “Peleja” até o dia 13 de dezembro e tem entrada gratuita. O horário de visitação é de segunda-feira à sexta-feira, das 9h às 19h. A Sociedade Semear localiza-se à rua Vila Cristina, 148.

Crédito da Foto: Alejandro Zambrana

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Curta Sergipano será exibido no Festival Mix Brasil

"Presente de Aniversário"_foto divulgação_http://bangalocult.blogspot.com
Ewertton (primeiro plano) protagonizando "Presente de Aniversário"


O 20º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade que começou na quinta-feira passada e prosseguirá até o próximo domingo, em São Paulo- seguindo depois para o Rio de Janeiro (22/11 a 01/12)- tem um representante sergipano. Trata-se do curta-metragem “Presente de Aniversário” de Hélio Marinho, que será exibido esta quarta-feira, às 19h, no Centro Cultural São Paulo.

Esta é a primeira vez que um filme das “Terras de Ará” é selecionado para participar do maior festival LGBT da América Latina. O filme mostra a história de um jovem (vivido pelos atores Leo Ribeiro, criança e Ewertton Nunes, na fase adulta) que sofreu violência do pai (Flávio Porto) na infância, quando os primeiros traços da sua homossexualidade (ou seria transsexualidade ?) começaram a aflorar. A sua predileção pelo universo feminino fizera com que o seu pai o privasse da liberdade desde cedo. Após o suicídio do genitor, ele decide sair às ruas dando liberdade à sua natureza, mesmo que tenha que chegar  ao limite para que isso aconteça.

“Quando pensamos em rodar o filme, queríamos contribuir com a discussão de um assunto sério: o bullying contra aqueles que possuem uma natureza diferenciada. Sergipe é um dos Estados com o maior índice de assassinatos a homossexuais e isso é muito preocupante. Não podemos achar normal essa violência, seja física ou moral contra aqueles que possuem particularidades na sua forma de ser ou se relacionar com o mundo. O cinema não pode deixar de participar dessa luta contra a homofobia e contribuir para que a sociedade discuta temas os quais ela possui dificuldade, a exemplo da homossexualidade na infância, por mais difícil que isso seja.” Diz o ator Ewertton Nunes, que também é roteirista e preparador de elenco de “Presente de Aniversário”.    
       
Para o realizador, Hélio Marinho, a seleção para o 20º  Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade é resultado da qualidade dos filmes produzidos no Estado, fruto de uma crescente demanda na produção audiovisual nas última década. “Estamos passando por um processo de amadurecimento técnico no setor do audiovisual em Sergipe, muito por conta do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe, dos cursos ofertados pelo Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira e das iniciativas isoladas dos realizadores. Sinto que logo o Estado terá uma demanda tão grande que será preciso mais investimento para produção e escoamento de tanta produção. Nossos atores estão ficando cada vez mais preparados para essa linguagem. Em resumo, sinto que teremos, em breve, um grande boom no cinema sergipano.”

Sobre o filme- A trama, adaptada de um conto de Ewertton Nunes é interessante, sobretudo pelo seu desfecho surpreendente.  A escolha da narrativa bifurcada em dois tempos (presente e flashback) funciona adequadamente, mas a angústia do personagem quando criança, não é tão acentuada quanto poderia ser expressada pelo jovem ator. Há um descompasso na atuação do pai (Flávio Porto), mãe (Stephane Paula) e filho (Leo Ribeiro), fruto da experiência profissional do primeiro em relação aos demais que contracena.

Ewertton Nunes, que é bailarino, escritor e ator, também se sobressai quando divide a cena com Ivilmar Gonçalves e Lucas Lins, mesmo tendo pouca experiência diante das câmeras. A grande pedra no sapato do casting sergipano quando escalado para atuar no cinema é a notória performance teatral dos atores. Afinal, eles estão mais acostumados com o palco que as telas. Porém, essa realidade terá que ser modificada, caso o cinema sergipano se encaminhe para o boom profetizado por Hélio Marinho.

Quanto ao diretor, há de se elogiar o esforço demandado por ele para desenvolver seus projetos audiovisuais em Sergipe, totalmente independentes. Intuitivo, inventivo e curioso, Hélio que era um técnico em informática até três anos atrás, mergulhou de cabeça no sonho de dirigir filmes, mesmo que não sejam do gênero terror e suspense que tanto admira.

Tendo feito vários cursos no Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPDOV), nas áreas de fotografia, produção, roteiro, direção e edição, o rapaz tem a possibilidade de galgar uma carreira promissora, mas precisará focar mais sua atenção no todo, aguçando seu olhar de diretor, ao invés de restringir sua atenção para a parte técnica (sobretudo a edição).

O filme apresenta problemas de iluminação (a cena pós-suicídio é extremamente escura) e a trilha sonora provoca um ruído, ao contrário de pontuar a dramaticidade. Outra cena que é demasiadamente problemática é a da passagem do tempo durante o plano do reflexo no espelho do personagem principal. Há uma demora  para se encontrar o foco da imagem pelo diretor e não acredito que isso seja escolha estética.

Enquanto aguarda repercussão de seu filme durante o 20º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, Hélio Marinho toca a pós-produção de três curtas: “A Menina da Casa” (filme de terror), “Entre o Hoje e o Amanhã” (série de 10 monólogos filmados) e  “Reagentes” (filme com temática LGBT) nos Studios Marinho. Prepara-se ainda para captar recursos para dois projetos aprovados pela Lei Rouanet “Miopia- Dário de uma fotografia” e “Helena- Vidas Iguais, Histórias Diferentes”.

Torçamos para que obtenha sucesso.