quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Prova de "Amor" ?

Um dia após, eu ter assistido ao filme "Amor" de Michael Haneke, ele foi escolhido pela Crítica Inglesa como o Melhor do Ano. Eu ainda estava desnorteada com a sutileza contundente de Haneke em tratar sobre a velhice, solidão, incapacidade e finitude.

Diferentemente de outros títulos, como "Longe Dela" de Sarah Polley e "Iris" de Richard Eyre, a produção austríaca enfoca o tema da degeneração física e mental da personagem feminina, Anne (Emmanuelle Riva), de uma maneira menos melodramática e mais crua. Não há espaço para choro, aqui. Haneke filma com intensidade, mas sem arroubos estéticos. Sua câmera pouco se desloca pelo apartamento onde toda a narrativa desenrola-se e o distanciamento emocional é a melhor escolha para o efeito a longo prazo de reverberação (incômoda) que causará no espectador.

O filme parece óbvio, com aquele início dramático e caótico. Mas Michael Haneke (“Violência Gratuita”, “A Professora de Piano”, “A Fita Branca”) já nos mostrou, em outras fitas, que a cereja do bolo, sempre fica para o final. Antes de saborear “o doce” amargo, no entanto, teremos que acompanhar o drama do octogenário Georges (Jean-Louis Trintignant)  em cuidar de sua esposa Anne, vítima de um acidente vascular cerebral.

O prognóstico não é bom e a degeneração da pianista é a única certeza de Georges. O  futuro dele, porém, é incerto. Desconhece até onde sua força e perseverança pode levá-lo e não sabe por quanto tempo aguentará com o escudo em riste.  Seriam alguns meses ou alguns anos ?

Poderia ter uma mão amiga da filha (Isabelle Huppert), mas o egoísmo desta, evidenciado nas poucas visitas que lhe faz, deixa claro que a batalha diária terá que ser travada, sozinho, num ambiente cada dia mais claustrofóbico e mórbido. Toda a agonia de Georges e Anne dar-se-á entre quatro paredes, mas o espectador terá algum alívio, quando a ternura e a cumplicidade do casal vier à tona. 

É bom frisar que o mérito de “Amor” não é só do diretor. Tanto Riva quanto Trintignant estão estupendos (injusta a não indicação dele ao Oscar). Huppert, ainda que aparecendo pouco em cena, dá conta do recado.  Talvez, agora, com esse filme mais contundente que “A Fita Branca”, Haneke leve a estatueta dourada prá casa. Desde a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, ele adiciona pouco a pouco os prêmios na estante.

É o meu candidato ao Oscar de Melhor Filme (mesmo não tendo visto ainda "Os Miseráveis", "O Lado Bom da Vida" e "Indomável Sonhadora") e Filme Estrangeiro. Com essa prova de “Amor”, Michael Haneke é imbatível!!!

3 comentários:

Diego Mota disse...

Não assisti "Amour", mas em breve quero ter o prazer. Percebi no trailer da película algo muito profundo, e curioso estou mais ainda depois de ler seu texto,muito bom.Já "Os Miseráveis" é magnífico,gostei deveras.Anne,Hugh,Crowe, entre tantos outros, souberam realmente "viver" o filme,a prova são expressões e vozes de arrepiar. Um ótimo musical,empolgante e muito triste. "Indomável Sonhadora", uma história excelente por conta da atuação magnífica dos atores, principalmente de Quvenzhané Wallis. A garota interpreta a própria naturalidade de ser a personagem, colocando-me em total realidade a sua.Mas, cansativo em seu todo, friso as interpretações de de pai e filha.Bom texto, Suyene. Estou correndo, quero encontrar... "Amour"

Laryssa Viana disse...

Oi Suyene, tudo bom. Concordo em gênero, número e grau! Na minha opinião "Amour" é de longe, junto com "Lincoln", o melhor filme que está concorrendo. Aliás, difícil comparar o filme de Haneke com os outros indicados.

Também acho que seja a melhor chance do diretor ser premiado pela Academia na categoria Filme Estrangeiro, ainda que seja seu filme mais maleável, ainda continua sendo um soco no estômago para ganhar Melhor Filme. Os dois atores principais estão ótimos, em especial Riva, que está perfeita. Mas, não acho que leve a estatueta dourada, que acredito eu ficará com a ótima Jennifer Lawrence, merecidamente.

Já conferi todos os indicados a Melhor Filme, e de longe o pior é Os Miseráveis. Achei-o longo e muito cansativo, aliás, grande erro fazer o filme todo cantado, porque as vozes dos atores, tirando a da Anne que combina com a situação da Fantine, estão péssimas. Muita coisa fica mal desenvolvida, e é frustrante a forma como tantas relevantes problemáticas são levantadas e depois são rapidamente descartadas. Prefiro as outras versões da obra de Hugo.

Aguardando a promoção e as criticas dos outros filmes indicados. Conferiu o SAG, se sim, gostaria de saber sua opinião.

Abraços :)

Bangalô Cult disse...

Menina, vc já viu tudo, foi ? Danada...
Falta eu ver Os Miseráveis, O Lado Bom da Vida e Indomável Sonhadora.
Bom, não gostei de Lincoln e nem de Argo. Ambos chatos prá caramba.
A Hora Mais Escura, eu amei. Principalmente, da direção de Bigelow e da atuação de Jessica.
Mas acho que Emmanuelle merece o Oscar, ainda que não tenha visto a performance de Jennifer. Vamos ver...
Laryssa, não vi a entrega do SAG e nem vi depois na internet os vencedores. Agora, é esperar a cerimônia do Oscar, e ver o que os acadêmicos aprontaram.
Devos estar lançando a promoção no blog, nessa sexta-feira.
Um beijo