quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Entre o Clássico e o Contemporâneo


Tabu_filme de Miguel Gomes_http://bangalocult.blogspot.com
O excelente "Tabu" entra em cartaz no Cine Cult do Riomar


Finalmente, a produção mais recente do jovem diretor português Miguel Gomes estreia nas telas sergipanas. Seu aclamado filme “Tabu” (vencedor do prêmio Alfred Bauer, voltado para trabalhos inovadores, e o prêmio Fipresci, concedido pela crítica, no festival de Berlim 2012) entra em cartaz no Cine Cult do Cinemark Riomar, a partir do dia 30 de janeiro,  para a alegria dos cinéfilos locais. 

O filme, realmente, é um dos melhores lançamentos do ano, muito por conta da ousadia estética e narrativa escolhida por Gomes, para contar a história de Aurora (interpretada pelas atrizes Laura Soveral e Ana Moreira, respectivamente). Dividido em duas partes bem distintas (Paraíso Perdido e Paraíso), mais um prólogo, o filme começa com a inusitada cena de um explorador numa selva africana, sendo a sua história narrada por uma voz off , de forte sotaque português, embalada por uma bela versão instrumental de “Insensatez”. 

 Com a imagem em preto e branco e o formato da tela em 1.37:1, o diretor já começa a preparar o espectador para a uma imersão sensorial e emocional, com aura de filme antigo. Essa história de amor e desilusão da abertura, aparentemente sem sentido, veremos depois, ter uma conexão com a vida de Aurora.
Em “Paraíso Perdido”, passado no tempo presente, vemos que a octogenária Aurora além de ser uma recorrente perdedora de jogos em cassinos, já apresenta sinais de demência. Mãe de uma única filha, que mora no exterior, tem na figura da solitária vizinha Pilar, sua protetora. Aurora anda às turras com a empregada Santa (Isabel Cardoso) e quando sofre um ataque e vai parar no hospital, expõe o desejo de rever Ventura, um personagem desconhecido, que tem muito a contar sobre seu passado e o de Aurora.

A partir das rememorações de Gian-Luca Ventura (Henrique Espírito Santo/Carloto Cotta), o diretor nos conduz a um flashback belíssimo, onde tomaremos conhecimento do que se passou há cinco décadas, no pé do Monte Tabu, numa ex-colônia portuguesa, localizada na África. Dá-se início à segunda parte do filme- “Paraíso”- narrada como um filme mudo por Ventura, de tom melodramático com contornos trágicos. Nitidamente, aqui, Miguel Gomes afasta-se do naturalismo, cada vez mais explorado no cinema.

 contemporâneo, e cria um elo com a forma narrativa da literatura do século XIX. No retorno ao passado, é inevitável a revisão histórica, o choque entre as civilizações, as consequências do imperialismo. Potencializando a atmosfera nostálgica, há a utilização de uma trilha sonora composta de hits dos anos 1950/1960.

É incrível como “Tabu” fala do passado sendo tão contemporâneo. Esse efeito magnificamente alcançado por Miguel Gomes, que deixa qualquer espectador desconcertado após a sessão, é a marca de sua originalidade. Um triunfo!!


Nenhum comentário: