sábado, 10 de setembro de 2016

Depois de "Campo Grande" e "Aquarius", Carla Ribas prepara-se para a estreia de "Me Chama de Bruna" na Fox

Carla Ribas_http://bangalocult.blogspot.com
Carla Ribas encontrou a felicidade sendo atriz
A carioca, Carla Ribas, vive mais um momento iluminado em sua carreira de atriz. Foram duas estreias no cinema, nos últimos três meses e, em outubro, seu rosto marcante, poderá ser visto na nova série do canal Fox + Brasil , "Me Chama de Bruna". Em junho, com a estreia de "Campo Grande" de Sandra Kogut, foi possível conferir mais um trabalho primoroso de Carla Ribas, interpretando Regina, uma mulher de classe média, recém-separada, que vê sua vida mudar de ponta a cabeça, quando sua única filha decide morar com o pai. Para completar a situação, já caótica, um casal de irmãos pequenos, é deixado na portaria do seu prédio com um bilhete, contendo apenas seu nome e endereço. Como se não bastassem os problemas familiares que vem tentando contornar nos últimos tempos, agora, Regina tem que lidar com o drama dessas crianças abandonadas e decide procurar a família dos pequenos, em Campo Grande, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro.

Na semana passada, mais uma estreia nos cinemas. Dessa vez, no tão comentado "Aquarius" de Kléber Mendonça Filho, em que vive a personagem Cleide, amiga e advogada de Clara (Sônia Braga), que tenta resolver um imbróglio com a construtora Bonfim. Clara é a única moradora do edifício Aquarius (a Bonfim já comprou todos os outros apartamentos e planeja construir um "espigão", em plena praia de Boa Viagem) e decide resistir à venda de seu imóvel. O herdeiro da empresa Diego (Humberto Carrão) não vai medir esforços para ter seu primeiro projeto arquitetônico realizado, após a especialização no exterior. Clara terá que se defender do jogo sujo do rapaz e, para isso, contará com a ajuda do salva-vidas Roberval (Irandhir Santos) e de Cleide.

Para quem tem o canal Fox + Brasil, no dia 8 de outubro, entrará no ar, às 22h, a série "Me Chama de Bruna". Contando com oito capítulos e baseada na história da personagem Bruna Surfistinha, a minissérie relata um momento da vida de Raquel Pacheco, a jovem de classe média que vira garota de programa, Bruna. Enquanto Maria Bopp vive a personagem principal, na série dirigida por Marcia Faria e produzida pela TV Zero, Carla Ribas dá vida a  Stella, a dona do Privê, onde Bruna irá trabalhar. Pelo teaser de divulgação da série, disponível na internet, nota-se que esta será mais uma personagem intensa da lista de criações da designer industrial, formada pela PUC-RIO.

Carla Ribas só começaria a carreira de atriz, aos 35 anos, por influência da irmã (atriz e diretora). Então, ela trocou um emprego estável pela vida de ralação no teatro, mas não se arrepende. Diz que antes, "a vida não lhe bastava", mas que ao se tornar atriz, encontrou a felicidade. Após oficinas de preparação de teatro com Fátima Toledo, Eduardo Wotzik, entre outros profissionais, ela estreou nos palcos, em 1995, na peça "Édipo Rei" dirigida por Moacyr Góes. O surpreendente é que Ribas não imaginava fazer cinema, pois achava que "saía de quadro", que sua expressividade era demasiada para a telona.

Fátima Toledo, ao contrário, viu nela um grande potencial. Numa das oficinas de atores, que ministrou -na mesma época em que o diretor Chico Teixeira procurava a protagonista para seu primeiro longa, "A Casa de Alice" (2007)-, a preparadora de elenco fez um improviso com Carla Ribas e enviou o registro para o cineasta. Ele não pestanejou e, escalou a atriz carioca para viver a manicure Alice, sendo sua estreia com uma grande personagem no cinema. Aliás, seu primeiro momento iluminado na 7a Arte, tendo em vista que recebeu mais de 10 prêmios nacionais e internacionais, pela sua interpretação emocionante. Um verdadeiro divisor de águas na sua vida. 

De lá para cá, Carla Ribas continuou trabalhando no teatro e em TV e, se a conta de longas-metragens é, relativamente, reduzida- foram 5 trabalhos desde "A Casa de Alice"- é porque ela é muito criteriosa na escolha dos roteiros e dos profissionais envolvidos. Tendo sido dirigida por nomes como Karim Aïnouz, Ségio Machado, Antônio Carlos Fontoura, Marcos Bernstein e pelo próprio filho, Marcelo Grabowsky, ela já está com três projetos cinematográficos "engatilhados". Para falar um pouco sobre seus últimos trabalhos e o que vem, por aí, Carla Ribas concedeu, gentilmente, essa entrevista para o Bangalô Cult. Confira:

Como foi feito o convite para que você participasse de "Aquarius" e o que te atraiu no projeto ? 

Carla Ribas- Minha participação no filme "Aquarius" não veio através de um convite. Na verdade, eu soube pelo Facebook que estavam fazendo testes para o filme e escrevi para o produtor de elenco, o Marcelo Caetano, me oferecendo para participar da seleção. Eu tinha adorado o "Som ao Redor" e queria trabalhar com esse diretor que, na minha opinião, trás uma nova pegada, uma coisa muito original, ao cinema brasileiro.

Você gostou do resultado final do filme ? 

CR- Amei. Tem uma modernidade nessa personagem Clara, que Sônia Braga interpreta com brilhantismo, versus um status quo antigo, e enferrujado, dos personagens que representam o poder esmagador do dito progresso. Kléber constrói, com um olhar ligado nos mínimos detalhes, um universo encantador em cima dessa personagem que está anos luz a frente do nosso tempo, cada vez mais pobre, cheio de ódios, e preconceituoso. Clara é apaixonante, agregadora, despida de preconceitos, e relativiza a dor porque tem 65 anos é viúva, teve câncer, enfim, já conheceu dores maiores. 

Você conhece a filmografia contemporânea pernambucana ? Como avalia o sucesso dos filmes do Kléber Mendonça Filho e de seus conterrâneos ? 

CR- Conheço alguma coisa. Sou encantada também com o trabalho de Gabriel Mascaro, com quem gostaria de trabalhar, um dia. O sucesso deles, a meu ver, se deve muito por essa pegada única, pessoal, original, que ambos têm. É uma visão particular contemporânea e fresca. Os filmes deles não têm ranço. E são dois diretores corajosos que não têm medo de correr riscos.

De “A Casa de Alice” para “Campo Grande” passaram-se 8 anos, para que você protagonizasse um novo filme. O motivo dessa demora foram seus projetos no teatro, a escassez de convite para o cinema ou sua exigência para interpretar uma personagem que valesse a pena?

CR- Os motivos que você cita estão corretos. Fiz muita coisa no teatro, recebi poucos convites interessantes para cinema. Há poucos personagens para atrizes da minha idade. Mas, mais do que a personagem, me interessam as pessoas envolvidas nos projetos. Preciso confiar que vou ter condições de dar o meu melhor, caso contrário é muito frustrante para mim.

Conte um pouco sobre sua preparação para compor a personagem Regina. Em "A Casa de Alice" você se mudou para São Paulo, pesquisou sobre manicures e tal. Em "Campo Grande", seguiu a mesma experiência?

CR- Em ambos os filmes, tivemos preparação com a Fátima Toledo e esta é a melhor das experiências para que se atinja num trabalho, a qualidade que eu persigo. Adoro trabalhar com a Fátima, é quase uma garantia de que o resultado vai ser bom.

Conte um pouco sobre o clima dos bastidores desse filme e sua relação com os atores mirins, com Julia Bernat e a diretora Sandra Kogut.

CR- Os atores mirins foram muito bem escolhidos e preparados. Com a Julia, que eu já admirava como atriz, a química foi total e imediata, desde os testes. E a Sandra é uma artista que dedica ao seu trabalho o mesmo capricho que eu. Então, foi um clima sempre a favor, e cada um de nós teve condições de fazer um trabalho de qualidade. 

Não tive (ainda) a oportunidade de assistir ao documentário "Testemunha 4", mas pelo pouco que vi, no youtube, esse deve ter sido um dos papéis mais desafiadores da sua carreira como atriz. Conte um pouco dessa experiência dupla: de viver a Testemunha 4 nos palcos, no cotidiano normal do teatro, de apresentações semanais e de viver a Testemunha 4 por 24 horas ininterruptas para o cinema, sendo filmada. 

CR- O documentário “Testemunha 4” foi feito pelo meu filho Marcelo Grabowsky a partir do espetáculo de estreia de “O Interrogatório” com direção do Eduardo Wotzik e que teve duração de 24 horas ininterruptas. Na verdade, eu fiz meu trabalho de atriz para o teatro e não para a câmera, pois o documentário foi feito sem que eu me preocupasse com a gravação. Em cartaz, a peça durava 6 horas apenas, mas em São Paulo fizemos uma apresentação de 12 horas. 

Como foi a repercussão da peça na época e do filme?

CR- Quando o filme foi lançado o espetáculo já tinha saído de cartaz, mas ele deu ao meu filho o prêmio de melhor direção na  Semana dos Realizadores, no Rio de Janeiro. Nós percebíamos nas entrevistas que as pessoas ficavam muito curiosas sobre esta apresentação de estreia, de 24 horas, então, falamos muito da peça, também.

Você disse numa entrevista, que não se via fazendo Telenovela, porque o "time" da TV é bem diferente do cinema (ainda que você tenha feito alguns poucos trabalhos para a TV). Agora, está prestes a estrear a série "Me Chama de Bruna" na Fox Mais Brasil, no papel de Stella. Você poderia falar um pouco sobre a série e da concepção do seu personagem? As gravações já começaram?

CR- Quando eu falo em TV penso mais em novelas que têm um ritmo muito veloz de produção, com textos que chegam sem tempo suficiente para que o ator possa trabalhar em cima deles e gravações muitas vezes de apenas um único take, o que acaba sendo muito cruel para o ator. Você tem que acertar de primeira. As gravações das séries das TVs pagas tem uma rotina mais parecida com cinema. Stella, minha personagem na série “Me Chama de Bruna”, é a dona do Privê One, onde Bruna pede para trabalhar quando sai da casa dos pais. A série já está pronta e deve ir ao ar na Fox, no próximo mês. Tivemos uma preparação incrivelmente caprichosa do Tomás Rezende. Gosto muito dos processos de preparação e ensaios. A diferença a gente pode ver no resultado do trabalho.

Quais são seus próximos projetos para teatro e cinema ?

CR- Vou para onde o vento me leva... Mas há alguns projetos em vista. Fátima Toledo está querendo dirigir seu primeiro longa de ficção e já andamos conversando, de modo que farei parte do elenco do filme. Também fiquei encantada com o roteiro de um filme do diretor pernambucano Daniel Bandeira, de modo que o projeto está em fase de captação, mas é que eu quero muito fazer. E tem o primeiro filme do Robney Bruno Almeida- "Dias Vazios"-, lá de Goiás, que vou participar, interpretando uma freira, diretora de uma escola. 

Pretende algum dia se arriscar como diretora de cinema ou teatro ?

CR- Não tenho essa vontade, mas nunca se sabe...

Quais os atores ou atrizes que você admira ? E aqueles que gostaria de contracenar ?

CR- Andréa Beltrão é uma atriz que admiro muitíssimo. Espero um dia trabalhar com ela. Andréa Horta, é outra atriz que admiro e com quem já tive a sorte de estar em cena na série Alice dirigida pelo Karim Aïnouz para a HBO. Wagner Moura é genial e fizemos juntos, no teatro, o "Hamlet". Foi um enorme prazer. Enfim, estes são alguns dos muitos que admiro.


Crédito da Foto: Carla Ribas 

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