sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Premiado nos Festivais de Guadalajara e Gramado "As Duas Irenes" estreia em circuito nacional


Isabela Torres e Fábio Meira_foto Bangalô Cult_http://bangalocult.blogspot.com
Isabela Torres e Fábio Meira em coletiva no Festival de Gramado



Quase um mês depois de ter sido exibido no Festival de Cinema de Gramado, onde recebeu o prêmio da crítica e mais três Kikitos (Melhor Roteiro, Melhor ator Coadjuvante e Melhor Direção de Arte), "As Duas Irenes" de Fábio Meira estreia em circuito nacional.

A história gira em torno de Irene (Priscila Bittencourt), uma garota interiorana, de 13 anos, franzina, tímida, filha "do meio" do casal Tonico (Marco Ricca) e Mirinha (Susana Ribeiro) que como se não bastasse ter que disputar a atenção dos pais com as duas irmãs- uma quase debutante e outra cerca de cinco anos mais nova- é surpreendida com a descoberta de que tem uma meia-irmã, com a mesma idade e nome (Isabela Torres) fruto de um relacionamento extra-conjugal de seu pai com a costureira Neuza (Inês Peixoto).

Irene sente-se traída pelo pai, mas não perde a oportunidade de se aproximar da nova irmã, ainda que sem revelar sua verdadeira origem. Inicialmente, prevalece um misto de estranhamento com ciúme frente àquela menina mais atraente, cheia de atitudes e com espírito livre,  mas com a convivência, Irene percebe que a "nova amiga" pode ser uma aliada para ela lidar com os conflitos familiares e descobertas próprios da adolescência.

Em sua estreia em longas-metragens, o cineasta goiano Fábio Meira -que estudou na Escuela Internacional de Cine Y Televisión em Cuba e se especializou em Roteiro, em Barcelona- demonstra maturidade não só por dirigir com segurança um casting composto por atores experientes (Ricca, Ribeiro, Peixoto e Teuda Bara, essas duas últimas, atrizes do Grupo Galpão) e atrizes iniciantes (como a dupla que protagoniza as Irenes), como também pelas escolhas acertadas da equipe técnica, a exemplo da diretora de fotografia boliviana, Daniela Cajías, que explora bem a exuberância da luz natural do interior goiano; de Fernanda Carlucci, que nos fez voltar, sutilmente, 40 anos no tempo, com seu rigor e cuidado na direção de arte e Verônica Veloso que estreou, competentemente, no cinema, preparando os atores e revelando duas protagonistas excelentes.

Além disso, o filme que custou R$ 1.200.000,00 reais e começou a ser gestado há cerca de sete anos, chama a atenção também pelo roteiro bem urdido (cujo primeiro tratamento foi feito ainda no curso de Barcelona) e narrativamente bem cadenciado ( o diretor utiliza o tempo como um aliado
para  criar uma atmosfera singular) e pela trilha sonora. Sobre essa última, Meira explica algumas escolhas musicais. " 'Índia'  estava na minha memória há muito tempo. Minha mãe me contou que escutava essa canção com a empregada pelas noites, cantada por  Cascatinha e Inhana. Eu conhecia a versão com Gal Costa. Fiquei com isso na cabeça...Já 'Meu Primeiro Amor' foi orgânico, é a cara do filme. As outras canções foram escolhidas por mim, a montadora Virgínia Flores e Ruben Valdés, meu colaborador cubano que fez o desenho de som. A Rita Pavone surgiu de uma conversa com Virgínia na montagem. Daí, comecei a pedir sugestões a amigos, foi então que Roberto Borges me mandou 'Quando Sogno' e achei que cabia, perfeitamente, para aquela cena e aquela casa".

Sobre a boa receptividade de "As Duas Irenes" que foi exibido no início do ano no Festival de Berlim (Mostra Generation) e conquistou prêmios no Festival de Guadalajara (Melhor Primeiro Filme e Melhor fotografia) e no Festival de Cinema de Gramado, o diretor revela: "o filme tem me impressionado muito por sua capacidade de comunicação com diferentes países e gerações. O público tem se emocionado e alguém sempre tem uma história para contar a respeito do tema abordado no filme".

Desse diretor e roteirista que começou no cinema como assistente de direção de Ruy Guerra (no filme "O Veneno da Madrugada"), já dirigiu vários curtas como "Adios a Cuba" (2007), "Hoje tem Alegria" (2011) e "Pátria" (2012) e colaborou com Luiz Bolognesi para a concepção do roteiro de "Bingo- o Rei das Manhãs" (filme concorrente brasileiro ao Prêmio Goya), vamos aguardar o próximo projeto chamado "Tia Virgínia". "Venho escrevendo há quatro anos o roteiro desse próximo filme, que apenas aguarda financiamento. Trata-se de três irmãs de 70 anos, portanto continuarei no universo feminino e familiar. É um filme para grandes atrizes".

Para quem quiser conferir "As Duas Irenes", o filme está em cartaz, na capital sergipana, no Cine Vitória (localizado à Rua do Turista).

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