segunda-feira, 20 de abril de 2015

"A Paixão de J.L." ganha o Festival É Tudo Verdade 2015

A Paixão de J.L._http://bangalocult.boogspot.com
Frame de "A Paixão de J. L.",vencedor do É Tudo Verdade 2015

Eu deveria ter jogado na mega sena ou na lotofácil. "Cantei a pedra" dessa vitória, numa das sessões de cabine que o Festival É Tudo Verdade promoveu, dois dias antes de iniciar sua 20a edição, no último dia 9. Assisti a quatro longas nacionais- além de "A Paixão de J.L." de Carlos Nader-  "Eu Sou Carlos Imperial" de Renato Terra e Ricardo Calil; "Filme Sobre um Bom Fim" de Boca Migotto e "Sete Visitas" de Douglas Duarte, mas fiquei arrebatada pelo primeiro e arrisquei o palpite: esse será o vencedor.

A certeza veio ontem, com a divulgação dos premiados da mais recente edição do festival, exclusivamente, voltado para documentários. Além do prêmio de melhor Documentário Nacional, na categoria,  longa-metragem, "A Paixão de J.L." arrebatou o prêmio concedido pela ABRACCINE (Associação Brasileiros de Crítico de Cinema). 

Já "Cordilheira de Amora II" de Jamille Fortunato venceu na categoria curta-metragem nacional e ainda arrebatou os prêmios ABD São Paulo e Mistika. A ABRACCINE ainda concedeu o prêmio de Melhor Documentário Nacional na categoria curta-metragem ao filme "Sem Título # 2, LA MER, LARME e o Canal Brasil premiou na categoria curta-metragem o brasileiro "De Profundis" de Isabela Cribari.

Na competição internacional, os prêmios fora divididos entre os filmes "A França é Nossa Pátria" de Rithy Panh (longa-metragem) e "Supercondomínio" de Tereza Czepiec (curta-metragem). Foram também concedidas duas menções honrosas para os filmes "Hora do Chá" de Maite Alberdi (longa-metragem) e "Urso" de Pascal Flörks (curta-metragem).

Diário gravado- Vencedor do É Tudo Verdade de 2014, com o filme "Eduardo Coutinho, 7 de Outubro", Carlos Nader acertou no alvo, novamente, ao realizar esse tocante e revelador "A Paixão de J.L.". As iniciais do título referem-se ao artista visual José Leonilson (1957-1993). Para quem desconhece, Leonilson foi um dos grandes expoentes da arte contemporânea brasileira, que morreu no auge da carreira, aos 36 anos, vítima da AIDS.

Membro do Grupo Geração 80, o artista cearense participou das Bienal de São Paulo e Paris, em 1985. Em 1998, a Bienal de São Paulo prestou uma homenagem ao artista com uma sala especial. Mas foi na  exposição "Sob o Peso dos Meus Amores" montada no Itaú Cultural, em 2011, que mergulhei no seu universo evocativo do amor, da dor e morte. Temas que ficaram mais latentes no seu trabalho, a partir de 1990.

O documentário de Carlos Nader, sobre seu amigo Leonilson, percorre os três últimos anos de vida do artista. Os trechos escolhidos pelo diretor, nas gravações em áudio, revelam um artista sensível, amoroso, antenado à contemporaneidade, mas também, muito solitário. Enquanto, ouvimos a voz pausada de Leonilson demonstrando suas angústias, seus conflitos, vemos imagens de arquivo de acontecimentos no Brasil e no mundo e também de seus bordados, objetos e assemblages.

O trabalho singular e intimista  do artista cearense- que tinha Arthur Bispo do Rosário como referencial- já comporta uma carga autobiográfica que ele nunca fez questão de esconder. "Todo o meu trabalho é um diário", teria dito certa vez, em entrevista ao curador Adriano Pedrosa. Porém, "A Paixão de J.L." não soa redundante, fazendo com que o espectador, ao final da projeção, sinta-se íntimo, cúmplice desse exercício de autoconhecimento de Leonilson.

Descobrimos um artista extremamente romântico e de uma sensibilidade...que mesmo "condenado à morte" (numa época em que o AZT era, praticamente, a única alternativa para os pacientes com AIDS) não desistiu da arte, deixando um legado de 3 mil obras.



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