quarta-feira, 23 de abril de 2014

Curtas Metragens Sergipanos serão lançados no Teatro Atheneu



 
 "Conflitos e Abismos": segundo curta de Everlane Moraes
 
No seu primeiro curta como diretora, Diane Velôso também atua
Depois de um mês de espera (a primeira data de lançamento seria em 24 de março), eis que os cinco curtas-metragens contemplados pelo II Edital de Apoio a Produção de Obras Audiovisuais Digitais de Curta Metragem, lançado pelo Governo de Sergipe, através da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), finalmente, poderão ser conferidos.
O lançamento dos filmes acontecerá amanhã, às 19h, no Teatro Atheneu e o público terá acesso livre às sessões. Logo depois da exibição dos curtas, “Conflitos e Abismos”, “Para Leopoldina”, “Operação Cajueiro”, “M.A.D.O.N.A” e “Morena de Olhos Pretos”, a banda sergipana Coutto Orchestra realizará um show.
A repórter já conferiu, com exclusividade, os filmes “Conflitos e Abismos” de Everlane Moraes e “Para Leopoldina” de Diane Veloso. O primeiro é um misto de documentário com animação, em que a diretora foca na história de seu pai, o artista plástico sergipano José Everton Santos, analisando a estética do seu trabalho e enfatizando a sua concepção sobre o universo artístico. O principal objetivo é tratar filosoficamente sobre a relação existente entre arte e vida, usando um tema ao qual o artista se detém: a expressão da condição do homem.

Segundo Everlane Moraes, que é estudante do curso de Artes Visuais da UFS e diretora do premiado curta “Caixa D’Água: Qui-lombo é Esse?”, um dos fatores que a fez se debruçar nesse projeto, foi o fato da obra de seu pai analisar, profundamente, a condição do afrodescendente neste país e também aspectos relevantes dos conflitos e mazelas que afetam o homem moderno. 

“Eu tento cada dia mais me debruçar e analisar esse tema. Crescendo em meio a longas conversas e momentos de aprendizagem com o meu pai, acompanhei praticamente toda a sua trajetória e desenvolvimento artístico, e desde a minha mais tenra idade, tenho visto o esforço tamanho de um artista em ser reconhecido por seu trabalho e também o seu esforço pessoal em superar as suas ideias, externar os seus pensamentos e compartilhar artisticamente os seus conflitos internos. Mas insisto, em dizer, que antes mesmo de ser sua filha, e por ocasião de minha ligação com o estudo da História da Arte, tanto no âmbito acadêmico como no âmbito autodidata, tenho me voltando, há três anos, ao estudo e análise iconográfica de sua obra, percebendo mais conscientemente o quanto o artista é polêmico pela irreverência da sua temática”, explica.

Quanto às cenas animadas (que respondem por mais da metade da duração da obra), Everlane Moraes diz que foi a primeira vez que trabalhou com essa técnica bastante complicada na sua concepção. “As cenas animadas foram desenvolvidas por quatro profissionais da Produtora Lamparina. Primeiro, houve o processo manual de planejamento de como cada movimento ia acontecer, depois as imagens dos quadros foram captadas através de fotografias e, posteriormente, passou-se pelos programas especializados em animação. Foi um processo que demorado e muito minucioso. Ainda não tinha trabalhado com animação (a não ser com bonecos de manipulação nas “Aventuras de Seu Euclides” ). A animação como foi feita, precisa de muita habilidade e paciência, mas os caras são profissionais e tiraram de letra”, conta Everlane. 

Quando questionada sobre as inevitáveis comparações que devem surgir entre “Conflitos e Abismos” e seu filme anterior “Caixa D'Água: Qui-lombo é Esse?”, a diretora responde, com tranquilidade. “Meu primeiro filme foi um sucesso de crítica, mas minha preocupação principal nesse segundo trabalho, foi divulgar a obra do artista, além de dialogar sobre artes, levando em consideração que sou uma estudante da área e claro, fazer com que as pessoas se identifiquem com a mensagem  ou que através dela, conheçam um pouco mais sobre o universo da arte. Sempre dá um friozinho na barriga, quando a gente vai lançar um trabalho, mais não quero ser uma cineasta de um filme só, ou viver na sombra de um trabalho que deu certo. Se ele é melhor do que ‘Caixa D’Água’, ainda não sei. Talvez não seja... mas tentei fazer com que ele tenha autonomia. Os trabalhos são diferentes, o que tem de parecido é o meu estilo, minha subjetividade”.

Ao contrário de Everlane Moraes, a atriz Diane Velôso se arrisca, pela primeira vez, na direção. Juntamente, com a experiente diretora de fotografia, Moema Pascoini, ela comanda a ficção “Para Leopoldina”, um filme que nasceu de um insight de Velôso, quando ela trabalhava na SMTT, em 2003.

“Eu trabalhava na escolinha de trânsito da SMTT, nesta época, e todos os dias eu pegava um ônibus que passava em frente ao Asilo Rio Branco. Um dia visualizei uma cena, um plano sequência, onde a minha personagem (que ainda não era personagem), entrava nos quartos e lia cartas para os idosos. Aquilo ficou na minha cabeça. Um certo dia, minha mãe me contou a história de uma tia dela, Leopoldina Leopoldo, que foi obrigada a casar com o viúvo da irmã, aos 14 anos. A história me impressionou muito e juntei uma coisa com a outra, dando esse filme”.

Além de dirigir, Diane Velôso assina o roteiro e atua, ao lado de Walmir Sandes. Sobre a tripla função no curta, ela diz não ter sido fácil dividir as tarefas, mas contando com uma equipe sintonizada, as dificuldades foram amenizadas. “Estar em cena, ter esse olhar de fora e amplo do projeto não foi moleza. Só foi possível o sonho virar realidade, porque a equipe estava muito sintonizada, muito apaixonada pelo projeto. ‘Para Leopoldina’ só foi viável porque tive pessoas como Moema Pascoini, que divide a direção comigo e assina a direção de fotografia;  como Nah Donato, produtora do filme, que sempre acreditou e se apaixonou desde quando o curta era só uma viagem da minha cabeça. É um projeto de equipe, cada um soube explorar o melhor do outro, respeitando, ouvindo, opinando ...é um projeto de muitas mãos. Antes mesmo de ganharmos o edital, todos os envolvidos, já haviam topado fazer o curta com ‘a  cara e a coragem’..
‘Para Leopoldina' sempre esteve muito vivo em minha cabeça, o meu envolvimento nessas três áreas dá-se por conta disso”.

Depois de oito dias de filmagens e cerca de quatro meses de pós-produção, “Para Leopoldina” traduziu-se num curta delicado, cujo tema central é a solidão. Com um trabalho de câmera competente de Pascoini e uma trilha bem elaborada pelos irmãos Alex Sant’Anna e Léo Airplane, o filme peca, porém, na falta de dramaticidade e num roteiro mais encorpado. O conflito poderia ser melhor desenvolvido.

Mas duas cenas devem chamar a atenção do espectador pela estética.  A primeira é quando a personagem de Sandes está encostada numa árvore e a câmera desce num travelling vertical, focando o rosto da atriz. A segunda é justamente a cena final, quando a personagem de Diane, saiu do asilo, debaixo de uma garoa. Combinação perfeita de imagem e trilha sonora potencializando a atmosfera desoladora.

Além dessas duas produções, será lançado o curta “M.A.D.O.N.A” de André Aragão, autor do projeto inspirado em Amós Lima Chagas, que pretende revelar a história de amor vivida entre um homossexual (Madona) e uma prostituta (Folosa); “Operação Cajueiro- um carnaval de torturas” de Werden Tavares, Fábio Rogério e Vaneide Dias que destaca o Estado de Sergipe como parte do cenário ditatorial que se instalou no Brasil, na década de 1960, tendo na ‘Operação Cajueiro’ uma das manifestações impositivas mais violentas, realizada com participação de militares que vieram da Bahia especialmente para acabar com qualquer tipo de reorganização do PCB em Sergipe e “Morena de Olhos Pretos” de Isaac Dourado, que  procura traçar uma trajetória sobre a história de Clemilda, cantora radicada em Sergipe, tida como uma das responsáveis pelo amadurecimento e reconhecimento do tradicional pé-de-serra nordestino em todo o Brasil.

Cada realizador recebeu da Secult, o equivalente a R$ 30 mil para a produção do filme, através do II Edital de Apoio a Produção de Obras Audiovisuais Digitais de Curta Metragem.

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