domingo, 22 de março de 2015

"Branco Sai, Preto Fica" continua em exibição no Cine Vitória


Branco Sai, Preto Fica_filme_http://bangalocult.blogspot.com
Marquim mostra um pouco da sua vida em "Branco Sai, Preto Fica"

Durante a exibição de "Branco Sai, Preto Fica", lembrei-me do filme "Distrito 9" de Neill Blomkamp. Neste, o apartheid sofrido pelos alienígenas que chegaram à terra em 1982 e não conseguem mais voltar ao seu planeta natal, sendo transferidos do Distrito 9 para um campo de refugiados fora da cidade, faz referência a um acontecimento ocorrido no chamado Distrito 6, na Cidade do Cabo, durante o período de extrema segregação racial. 

Já no filme de Ardiley Queirós, que apesar de flertar com a ficção científica- não conta com extraterrestres- os excluídos e vítimas da violência policial são os moradores de Ceilândia (cidade satélite de Brasília) representados por Marquim do Tropa e Shokito. Ambos dançarinos dos bailes blacks promovidos pelo Quarentão, na década de 1980, eles tiveram suas vidas, drasticamente, modificadas, após uma batida policial no local de lazer: Marquim levou um tiro que o deixou paraplégico, enquanto Shokito perdeu a perna esquerda, depois de ser pisotedo pela polícia montada.

Quase 30 anos depois, acompanhamos o cotidiano do DJ Marquim e do especialista em próteses, Shockito, ao mesmo tempo em que entra em cena um terceiro personagem, Dimas Cravalanças (Dilmar Durães), uma espécie de policial do futuro, que chega à cidade com o intuito de descobrir os culpados pelo ato contra os dois rapazes.

Enquanto Cravalanças segue com suas investigações, dentro de um "container teletransportador", Marquim e Shockito unem forças com o DJ Jamaica, a fim de lançar uma "bomba musical" (regada a música brega, rap, funk e aos ruídos que povoam as ruas da cidade periférica) no Congresso Nacional. Nesse ínterim, o policial futurista é avisado pela sua chefe (Gleide Firmino), que o teletransportador encontra-se com problemas e que ele tem uma nova missão: a de evitar o lançamento da bomba. 

 É nesse ponto do filme que o diretor e roteirista Queirós ousa mais uma vez, ao optar pelo humor crítico, para tratar de temas como a repressão do Estado e racismo, e pelo hibridismo do doc-ficção. Uma das cenas mais hilárias é a do "mercado negro" de passaportes, que dão o direito dos moradores de Ceilândia circularem por Brasília. O espectador também rende-se, facilmente, ao riso, todas as vezes que Cravalanças é sacudido dentro do "conteiner teletransportador".

Aliás, a estética do filme impressona, já que mesmo com um orçamento reduzido (R$ 230 mil reais), o diretor conseguiu  criar uma ambientação futurista a partir de locações sucateadas (a própria casa de Marquim, com aqueles elevadores e labirintos, é um achado). Outra tomada interessantíssima é a da parte inferior de um vagão de trem, em movimento, que nos faz lembrar cenas de acomplamento de ônibus  espaciais com seus módulos. 

Grande vencedor do 47o Festival de Brasília (foram 11 prêmios) e eleito o melhor filme pela Crítica no 55o Festival de Cartagena, "Branco Sai, Preto Fica" é, no mínimo, um filme curioso, que merece ser descoberto. Ainda que o roteiro, por vezes, cheio de boas intenções, pareça um tanto inconsistente.


Serviço

"Branco Sai, Preto Fica" (2015)
Diretor: Ardiley Queirós
Com: Markim do Tropa, Shockito, Dilmar Durães, Gleide Firmino
Em Cartaz: Cine Vitória (terça, às 17h e quarta, às 14h)

Nenhum comentário: