terça-feira, 3 de março de 2015

Hilda Hilst "ocupa" o Itaú Cultural





Ocupação Hilda Hilst_Itaú Cultural_ foto Andre Seiti

Ocupação Hilda Hilst_foto André Seiti
"Ocupação Hilda Hilst" segue até 21 de abril  no Itaú Cultural


“Quero ser lida”, repetia sempre Hilda Hilst (1930-2004). Os curadores da “Ocupação Hilda Hilst” montada no Itaú Cultural, em São Paulo, buscam, assim, desmitificar a premissa que ela é uma escritora cujos textos são difíceis de serem entendidos. A exposição aberta no último sábado, no centro cultural da Paulista, é para ser lida, vista, ouvida e sentida entre a vida e obra desta que também foi dramaturga e prosadora. Com curadoria compartilhada entre os núcleos de Audiovisual e Literatura, Comunicação, Enciclopédia e Educação e Relacionamento, do Itaú Cultural e o Instituto Hilda Hilst, a “Ocupação Hilda Hilst” permanecerá em cartaz até 21 de abril – data de nascimento da autora.

Hilda foi lida em cerca de 40 títulos publicados, nas centenas de artigos impressos em jornais com a sua assinatura, entrevistas, peças de teatro encenadas, poemas musicados. Hilda Hilst foi e é reconhecida como uma das principais escritoras brasileiras contemporâneas. Hoje está na lista dos 10 títulos mais vendidos em ficção na livraria da Vila, em São Paulo.

Com a preocupação de apresentar o rastro da autora na produção de algumas de suas principais obras, a exposição revela o seu processo de criação e seu cotidiano, apresentando originais das obras “Kadosh” (1973), “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão” (1974), “A Obscena Senhora D.” (1982), “Com Meus Olhos de Cão” (1986). Também está lá “O Caderno Rosa de Lori Lamby” (1990) revisado e comentado pela própria escritora. 

A exposição se completa com trechos de seus diários, descrições de sonhos, desenhos, anotações cotidianas, e depoimentos próprios registrados em vídeo e áudio. Lança, ainda, perguntas selecionadas das obras e anotações da autora. 
Muito do material é exibido pela primeira vez, em uma mostra consistente do seu processo de criação, depois de extensas pesquisas realizadas pela equipe do Itaú Cultural no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE/Unicamp). Lá está a maior parte do acervo da escritora, vendido por ela, na década de 90, e meticulosamente organizado em grupos e subgrupos que somam 3.257 manuscritos, 1.321 impressos, 246 fotografias e 150 desenhos, todos disponíveis para consulta pública.

A outra fonte de pesquisa foi a Casa do Sol, em Campinas, construída por ela e onde viveu e recebeu amigos e intelectuais por 35 anos até o fim. Ali está sediado o Instituto Hilda Hilst e é onde se encontra parte do acervo relacionado aos seus últimos anos de vida e à sua intimidade – como a biblioteca, fotografias, cartas e diários. 

A equipe do Itaú Cultural recebeu, ainda, a consultoria de Luisa Destri, doutoranda em Literatura Brasileira na USP, organizadora da antologia “Uma Superfície de Gelo Ancorada no Riso” (Globo, 2012), de Hilda Hilst, e coautora de “Por que ler Hilda Hilst” (Globo, 2010). Foi selecionada no Rumos Literatura 2008, com o artigo “A língua pulsante de Lori Lamby”.  

Espaço expositivo- Henrique Iodeta, gerente do Núcleo de Produção do Itaú Cultural assina a cenografia da “Ocupação”. A Casa do Sol inspirou as cores, os materiais e até o som usados naquele espaço. Não há, por exemplo, plásticos, acrílicos ou quaisquer outros sintéticos. Todo o material usado é cru, linho, minerais, assoalho de madeira escura, veludo, couro. A iluminação é rebaixada. As cores são ocre e rosadas, o colorido vem das canetas e papéis de muitos tons que ela usava.

O lugar se personifica, ainda, na reprodução da enorme Figueira- árvore e ícone da casa- nas imagens dos seus quase 100 cachorros e nas anotações sobre os cuidados dispensados a cada um. Também nos versos e depoimentos, alguns inéditos, da própria poeta e na exibição de suas fotos prediletas – não somente dela, da família e dos amigos, como de autores-referência, como Sigmund Freud e Franz Kafka.

Ali estão registros e anotações do primeiro livro, “Presságio”, lançado em 1950, ao último em prosa “Estar Sendo. Ter Sido” de 1997, escritos pela autora. A vida e obra da poeta irradia em painéis e vitrines a partir de uma mandala composta com madeiras de cores diversas e reproduzida no chão. Parte dali o material relacionado com os seus livros “O Caderno Rosa de Lori Lamby”, “Kadosh”, “Obscena Senhora D.” e “Com os Meus Olhos de Cão”, além de ‘Miscelânias’ um espaço para abrigar os processos criativos e fixações da autora.

Ao redor, outros nichos desvendam a sua obra e pensamentos. Um deles se volta para “Júbilo, Memória Noviciado da Paixão”. Em outros, encontram-se os registros dos sonhos, que ela anotava vigorosamente de próprio punho – Hilda não gostava de usar máquina de escrever e passava longe dos computadores. Aplicados sobre madeira, mostram a evolução da caligrafia da escritora como em uma linha do tempo. Exibe, também, os desenhos que fazia e muitas listas – de compras, de nomes, de recados, de livros, de autores –, além de 20 perguntas selecionadas entre as inúmeras que sempre lançou no ar.

Hotsite e publicação- No dia da abertura da mostra foi lançada a publicação do Itaú Cultural sobre a poeta, que aprofunda o material exposto. O jornalista Gutemberg Medeiros comenta a recepção da obra, a mestre em teoria e história literária Luisa Destri fala das relações entre vida e ficção e o doutorando em literatura brasileira Ronnie Cardoso analisa as cores e os sons usados por Hilda para abordar temas centrais em sua produção. Além dos artigos críticos, há o depoimento dos atores Donizeti Mazonas e Suzan Damasceno sobre a experiência de encenar o “Osmo” e a “Senhora D.”

O site da série Ocupação, hospedado em www.itaucultural.org.br publicou no mesmo dia, uma seção dedicada à autora, com parte do material da mostra e conteúdo exclusivo: entrevistas com a artista visual Maria Bonomi e a poeta Maria Luíza Mendes Furia, um bate-papo entre os jornalistas José Castelo e Humberto Werneck e um minidoc sobre a Casa do Sol – sua força como espaço de criação e convívio artístico – com os artistas visuais Olga Bilenky e Jurandy Valença e o produtor cultural Daniel Fuentes, que viveram com a escritora e são responsáveis pelo Instituto Hilda Hilst.

A ocupação “Hilda Hilst” prossegue em cartaz até o dia 21 de abril, no Itaú Cultural (av. Paulista, 149. A visitação pode ser feita de terça a sexta-feira, das 9h às 20h e, aos sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h. Entrada gratuita.

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