Fui poucas vezes acompanhar de perto os Lambe-Sujos e os Caboclinhos, na cidade de Laranjeiras. Confesso porém, que dessa vez fiquei assustada com o que vi. Carros em alta velocidade, por ruas estreitas; muita gente alcoolizada desde cedo (mais preocupada em "encher a cara" do que propriamente seguir a tradição) e pouco policiamento... muito pouco. Eram 8 da matina e a cidade já fervilhava.
Enquanto que, em várias esquinas, os "lambe-sujos" se cobriam de melaço- ao som de um desses grupos de arrocha qualquer que insistia em penetrar nos ouvidos sensíveis dos pobres mortais-, mais adiante eram os caboclinhos que se paramentavam, pintando-se com uma mistura de água e xadrez.
Os primeiros, sempre mais arredios, tentavam a todo custo tirar um trocado dos transeuntes, a fim de não "incomodá-los" com a mistura negra, mais parecida com piche. Já os índios, estavam preocupados em tocar seus tambores e escapar das chicotadas dos capitães do mato. Nessa batalha encenada, nem sempre o que víamos era uma interpretação.
Se um rapaz mais exaltado ou com o nível etílico à flor da pele, se aproximasse do capitão do mato, este não pensava duas vezes, jogando-lhe o chicote com toda força, pegasse onde pegasse; machucasse onde machucasse, sem dó nem piedade.
Juro que nessa hora, pensei em cair fora daquela parafernália toda, mas ainda tinha a benção, em frente à Igreja Matriz e decidi captar as últimas imagens da minha aventura dominical. Valeu a pena, a espera.
De lá de cima da escadaria, o pároco abençoou o folguedo e deixou-se ser melado no rosto, sem nenhum pingo de arrependimento. Eram quase 10 h e eu ainda não tinha sido "batizado" por aqueles negros da roça que impunhavam foices e outros instrumentos da lavoura.
Achei melhor não correr o risco de minha câmera sair avariada e nem minhas vestes. Flagrei ainda alguns bons momentos do cortejo e, depois, arredei no pé. Poderia ter conseguido instantâneos melhores. Mas fica para o ano que vem. Prometi a mim mesma, ir mais bem protegida, quem sabe até como um cinegrafista, que vestiu um macacão avermelhado e teve sua vestimenta protegida do mela-mela.
No mais, a festa precisa ser "resgatada". Voltar a ter um caráter mais folclórico e menos carnavalesco. E de preferência, dando mais segurança aos turistas e visitantes.
Texto e fotos: Suyene Correia
2 comentários:
Faz uns três anos que não compareço a festa por esses motivos tristes que não acompanharam a arte da guerra encenada. Uma pena que a tradicional violência moderna continua pintando por lá.
falando sobre fotografia -
Suyene,
A última foto tá parecendo aquelas que saem nos jornais locais.Sem muita criatividade,um artifício de quem não quer pensar.
Não informa nada.Entende?
...
É só uma provocação.
Abração
obs!Já tirei foto de retrovisor.
www.flickr.com/photos/alejandrozambrana/
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