sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Oscar 2012

Todo o ano é a mesma coisa. Por mais que eu ache a Cerimônia longa, enfadonha e muitas vezes injusta, não resisto a assistir a entrega do Oscar pela TV, cuja transmissão este ano, acontecerá no dia 26 de fevereiro, direto do Kodak Theater. Estarei domingo, à noite, torcendo para que “O Artista” de Michel Hazanavicius abocanhe os prêmios de Melhor Filme, Direção, Ator Principal, Trilha Sonora e Fotografia.

Ainda que dos nove indicados, eu não tenha visto “O Homem que Mudou o Jogo” de Bennett Miller, “Tão Forte e Tão Perto” de Stephen Daldry e “A Invenção de Hugo Cabret” de Martin Scorsese, acredito que somente este último (dizem os críticos que o conferiram, ser um arrojo de tecnologia aliada a uma boa história) possa ser páreo para o filme mudo e em P & B, do francês Hazanavicius.

Vários filmes com a temática das transformações ocorridas no cinema e seu impacto na vida dos astros e estrelas, já foram realizados de maneira singular, como em “Cantando na Chuva” de Stanley Donen e Gene Kelly e “Crepúsculo dos Deuses” de Billy Wilder, que abordam a transição do cinema mudo para o falado. Em “O Artista”, o assunto é trazido à tona novamente, e mesmo que o roteiro não seja lá dos mais inspirados, ele consegue aliar drama, comédia e romance, na medida certa, envolvendo o público e emocionando, sobretudo, os cinéfilos.

Martin Scorsese não deixa barato e oferece ao público jovem, através da tecnologia de ponta 3D, a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história de um dos inventores dos efeitos especiais, o cineasta George Méliès (1861-1938). É o diretor da contemporaneidade se aventurando pela primeira vez com essa tecnologia, ao mesmo tempo em que coloca em evidência o diretor francês de “Viagem à Lua” (1902), que levou para as telas no início do século passado, seus experimentos com trucagens que o celebrizaram em mais de 500 títulos.


“O Artista” concorre em 10 categorias e “A Invenção de Hugo Cabret” em 11. A briga pela estatueta de Melhor Direção também deverá ficar entre Martin Scorsese (sétima nomeação, venceu por “Os Infiltrados”) e Michel Hazanavicius (primeira nomeação). O sentimento de nostalgia parece ter tomado conta da Academia este ano. Resta saber qual das duas abordagens fisgará os acadêmicos.

Com relação ao Melhor Ator, penso que o francês Jean Dujardin sairá com a douradinha nas mãos no próximo domingo. Por mais que digam que George Clooney esteja bem em “Os Descendentes”, acho o filme tão pretensioso que não consigo vê-lo em grande forma ali. É uma pena que “Tudo Pelo Poder” dirigido por Clooney e estrelado por Ryan Gosling esteja completamente de fora da premiação. Ambos bem que poderiam estar concorrendo em suas respectivas categorias. Uma das injustiças desse ano.

Enquanto na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, parece ser certa a vitória de Christopher Plummer, pela sua atuação em “Toda Forma de Amor” de Mike Mills, a emoção deverá tomar conta no momento do anúncio das atrizes vencedoras, seja na categoria de Atriz Principal, seja na de Atriz Coadjuvante.

Viola Davis e Meryl Streep, que já atuaram juntas em “Dúvida” (2009) e também concorreram à estatueta, respectivamente, de Atriz Coadjuvante e Atriz Principal por aquele filme, agora duelam na mesma categoria principal e com grandes chances. Ou os acadêmicos irão preferir a técnica acurada de Streep que está soberba como Margaret Thatcher em “A Dama de Ferro” ou preferirão a emocionante interpretação de Viola Davis em “Histórias Cruzadas”, em que dá vida à personagem Aibileen Clark (bem que poderia ter um empate este ano, não?). Correndo por fora, estão também as competentes Rooney Mara (“Millennium- Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”), Glenn Close (“Albert Nobbs”) e Michele Williams (Sete Dias com Marilyn).

Já na categoria de Atriz Coadjuvante, aposto em Octavia Spencer pelo seu papel (que nada tem de secundário) em “Histórias Cruzadas” na pele da impagável Minny Jackson. Se ela estivesse concorrendo na categoria principal, daria a estatueta para a inglesa Janet Mcteer que está ótima no ainda inédito por aqui “Albert Nobbs”.

Se vou acertar em muitas categorias ? Não sei dizer, mas não me conformarei se o excepcional filme iraniano “A Separação” perder na categoria Filme Estrangeiro (deveria também ganhar como Melhor Roteiro Original) e  “Rango” não ganhar como Melhor Animação. No mais, a cerimônia de entrega do Oscar pode parecer óbvia em vários aspectos, porém sempre traz uma novidade, uma cena inusitada, um momento tocante e talvez por conta disso, valha a pena conferir ano após ano a premiação.

Um comentário:

Robson Viana disse...

Falando em Oscar, já sabemos o resultado... Foi um bom ano, o que, em termos de Academia de Hollywood, é pouco, muito pouco. Entre o mimetismo algo banal de O ARTISTA e o arsenal teórico e estético de Scorsese em HUGO, eu ficaria com o Martin e não abro. O laureado francês preto e branco e mudo tem uma forma simpática, mas não tem o poder de fogo discursivo da aventura scorseseana. É apenas forma, e o restante são sentidos que nós, enlevados num primeiro momento, atribuímos a ele. HUGO é uma defesa da preservação da memória cinematográfica, uma homenagem sem maneirismos que soam como golpe baixo para conquistar a audiência aos pioneiros do cinema, uma crônica emotiva sobre inocência e solidão, sobre ascensão e decadência. Um Scorsese puro sangue. O filme de um dos maiores conhecedores e restauradores da tradição cinematográfica. E O ARTISTA: o filme de um diretor até então de trabalhos medíocres que decorou uma ou outra firula do cinema de antigamente.