Quando assisti ao trailer de “A Fonte das Mulheres”, há meses atrás, pensei que o novo filme de Radu Mihaileanu (dos ótimos “O Concerto” (2009) e “Trem da Vida” (1998)), seria mais uma comédia bem dirigida por ele. Ledo engano. A película é muito mais dramática do que cômica e traz para a tela, questões recorrentes ao universo feminino em países mulçumanos, sobretudo o tema da submissão.
Em um pequeno vilarejo, situado entre o Norte da África e o Oriente Médio, as tradições islâmicas são seguidas à risca. Enquanto, os homens passam o tempo jogando conversa fora no bar, as mulheres pegam no pesado, lavando, passando, tomando conta dos filhos e buscando água num poço distante da vila, tendo que enfrentar além do calor insuportável, uma trilha bastante acidentada e pedregosa.
O trabalho não é poupado nem mesmo para as grávidas, de modo que vários abortos “espontâneos” aconteceram durante o esforço implementado pelo caminho. Cansada dessa realidade e não concordando com a passividade das colegas, Leila (Leila Bekthi), uma das mais jovens e alfabetizadas do grupo, resolve comandar uma greve de “sexo”, com o intuito dos maridos, frente à abstinência forçada, assumirem a tarefa de pegar água na fonte.
Inicialmente, Leila não terá a adesão de todas as mulheres, sendo a própria sogra (Hiam Abbass), contrária à sua atitude liberal. Mas, aos poucos, contando com a aliança do “Velho Fuzil” (a atriz argelina Biyouna), e mais tarde, do marido Sami (Saleh Bakri) e do sogro, ela consegue alcançar seu intento.
Por trás desse engenhoso argumento, centrado na guerra dos sexos, o filme -que foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2011- faz uma crítica às condições da mulher em países islâmicos e evoca a luta pela liberdade. Mostra que nem todas querem usar a burka, muitas delas sonham em casar com o homem ideal (e aqui, Sami, seria o melhor exemplo disso), além do que o Alcorão pode ( e deve) ser reinterpretado à luz da visão feminina.
Em tempo de “Primavera Árabe”, esse “A Fonte das Mulheres” chega como uma fagulha que não deve ser apagada. O filme está em cartaz no Cine Cult do Cinemark Jardins, diariamente, às 14h.
Legenda: Leila (em destaque) comanda a revolta das mulheres no filme de Mihaileanu
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