Pessoal, o Bangalô Cult entrará em recesso, a partir de amanhã. Após o Carnaval, o blog voltará recheado de novidades culturais e com um balanço sobre os indicados ao Oscar (meus palpites sobre os vencedores nas principais categorias).
Aqueles que não viajarem para outros Estados, durante a festa Momesca, aproveitem que no Cinemark Riomar entrará em cartaz "A Dama de Ferro" e no Jardins, "Hugo Cabret". Atentem que os filmes do Cine Cult também irão mudar.
Pelo jeito, não será um Carnaval tão ruim assim, em termos cinematográficos para os sergipanos.
Um comentário:
O momento em que a ação de um filme termina e no qual os seus créditos finais começam a surgir na tela, é aquele instante no qual respiramos fundo, damos de ombro e pensamos, enfim (na hipótese, claro, de o filme não ter sido decepcionante), que “puxa vida!, chegou a hora de sair dessa realidade possível, imaginada, sonhada e voltar para a outra realidade”, a real, esta realidade tão mundana e sem grandes reviravoltas, cortes abruptos, flashbacks reveladores e grandes efeitos – a nossa realidade comezinha e tão sem graça da qual buscamos abrigo ou simples intervalo quando vamos ao cinema (ainda que, por vezes, sejamos devolvidos à mesma por cineastas realistas e ávidos por denunciar problemas sociais ou dramas humanos que toquem mais ou menos a uns e outros).
Os créditos finais, contudo, integram o filme. Não devemos ser totalmente alheios a eles, pois os mesmos são pensados para que estejam adequados ao espírito da obra, a alguma intenção específica do seu criador. Assim, quando os créditos são cortados numa sala de exibição, não somos apenas privados da gradual saída para a realidade que citei acima, somos privados de parte do filme. Verdadeiros amantes da sétima arte entenderão o que seria ir ao cinema e não acompanhar a afetiva dedicatória de Scorsese a um querido professor no final de Touro Indomável, não se sentir inebriado com o colorido almodovariano dos créditos finais de Volver, não gelar a espinha com os criativos e bizarros créditos de Seven, ou não ver o emocionante tributo de Paul Thomas Anderson ao então recém falecido Robert Altman nos créditos de Sangue Negro.
Mas há ainda outro aspecto importante que deve ser levado em consideração, um aspecto financeiro, por assim dizer. Não faz sentido pagar por um produto ao qual falte algo ou por um serviço mal-prestado. Se os créditos finais fazem parte do filme e se a exibição do mesmo é um serviço prestado, quando pagamos um ingresso e tal corte acontece, somos lesados no bolso. Lesados enquanto consumidores. Isto tem sido mais comum do que se pensa em Aracaju, nas duas filias da multinacional Cinemark. Hoje, 17/02/2012, na primeira exibição da formidável aventura infantil (e apaixonante declaração de amor ao cinema) dirigida por Martin Scorsese (seria redundante designá-lo como um dos maiores cineastas vivos?) na capital sergipana, não apenas os créditos finais, mas também os derradeiros minutos da última cena foram cortados. Quem esteve presente na sala 6 do Cinemark Jardins pôde apenas ouvir o áudio. É um fato desagradável que vem se somar a outros parecidos: o corte dos créditos finais de Tetro e O Garoto de Liverpool (ambos trazidos para cá pelo Cinecult em parceria com a rede monopolizante), as luzes acesas antes do término de Os Descendentes (quando fui assisti-lo a duas semanas no mesmo Cinemark Jardins) e etc. Pergunto-me: quem são os (ir) responsáveis por essas projeções? Terão eles algum conhecimento de cinema? Terão eles algum respeito pela cinefilia? Saberão eles que nem só do preço da pipoca e dos copos de refrigerante vive os caixas da empresa, mas também de gente que como eu ama o cinema e é, de certa forma, ajudado por ele a viver? O caso de hoje relevei: depois de argumentar com a gerente de bilheteria, tive o preço do ingresso devolvido. Do gerente de projeção obtive apenas desculpas para algo indesculpável, justificativas para algo injustificável (o mal serviço) e o oferecimento de que eu entrasse na sala para poder acompanhar o final da última cena e os créditos (esse, declinei, precisado que estava de resolver outros problemas). Ao menos ele não foi hostil como a gerência de projeção do Cinemark Riomar, que nem conversar quis, chegando a virar as costas e me deixar falando sozinho quando a procurei para reclamar por ocasião da exibição da cinebiografia de Lenon.
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