segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

"Trinca de Ases" rumo ao Oscar 2012

Histórias Cruzadas_Oscar 2012

O que seria de "Histórias Cruzadas" se não fosse as interpretações de Viola Davis, Octavia Spencer e Jessica Chastain ? Provavelmente, um filme cheio de fórmulas manjadas para fazer o espectador se emocionar a cada 20 minutos (como foi o caso de "Cavalo de Guerra", de Steven Spielberg) e mais nada.

O mérito da película dirigida por Tate Taylor (e com vantagem sobre Spilberg por não querer fazer algo pretensioso), sem dúvida, é seu casting de atrizes. Desde as empregadas negras Aibeleen Clark (Davis) e Minny Jackson (Spencer), até a novata jornalista e escritora 'Skeeter' (Emma Stone), a caipira Celia Foote (Chastain), a malvada Hilly (Bryce Dallas Howard) e a demente Missus Walters (Sissy Spacek, em atuação inspirada), o que dá para confirmar de imediato é o talento das atrizes mencionadas, além de um ótimo trabalho de direção de atores.

O assunto principal do filme, que concorre a 04 estatuetas do Oscar deste ano (Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante (02)) é o racismo que impera na cidade de Jackson, Estado de Mississipi em plena década de1960. Através de duas empregadas negras -Aibelenn e Minny- acompanhamos o tratamento imposto pelas empregadas brancas a essas domésticas e babás, que são tratadas como "escravas" e sofrem restrições sociais numa comunidade onde a Ku Klux Klan ainda agia.

Na contramão da lógica vigente, Eugenia Phelan, uma jovem recém formada jornalista retorna à sua cidade natal e, ao desconfiar que sua babá, depois de trabalhar quase 30 anos para sua família foi despedida, além de se deparar com situações constrangedoras envolvendo suas amigas da high society e a classe doméstica, decide escrever um livro denúncia, sobre a pesada segregação sofrida pela comunidade negra.

O problema é que a história será contada sob a ótica das empregadas e num Estado como o Mississipi, onde o silêncio deve imperar para os negros e brancos que forem a seu favor,  todo o cuidado é pouco. Tomadas as devidas precauções, Skeeter consegue arregimentar um número considerável de depoimentos e formatar um livro ousado e  emocionante.

Ainda que utilizando nomes fictícios para os personagens, quando as socialites da cidade de Jackson deparam-se com aquela publicação, é inevitável a identificação com certas situações narradas e Hilly Holbrook, a "megera indomada", não perderá tempo em se vingar.

Mesmo sendo um filme deliberadamente emocionante, sobre a segregação racial nos anos 1960, nos EUA, "Histórias Cruzadas" derrapa em alguns aspectos. Não se aprofunda nos eventos históricos e políticos da época, priorizando um tratamento mais intimista quanto aos dramas vividos pelos negros. En passant, é mostrado através de noticiários, o discurso de Martin Luther King em Washington e a morte do presidente Kennedy, mas nada além disso.

Ao mesmo tempo, "carrega nas tintas" quanto ao liberalismo de Celia Foot ( a ótima Chastain), que não hesita em comer na mesma mesa com Minny ou preparar um jantar especialmente para ela, em agradecimento pelos seus préstimos.

Ainda assim, é inquestionável a comoção que o filme provoca na plateia. Difícil é olhar para o lado após a sessão e não flagrar alguém com os olhos inchados. Mas isso me fez refletir uma coisa: quantas daquelas donas de casa, que choravam pelo drama mostrado em "Histórias Cruzadas", não agiam em suas casas como uma espécie de Hilly, versão atenuada ?

Legenda da Foto: Skeeter (Emma Stone) aperta a mão de Aibeleen (Viola Davis) enquanto Minny (Octavia Spenser) observa

2 comentários:

Rui disse...

Suyene,
Não foi à toa que esse filme ganhou o SAG de melhor elenco, atriz e atriz coadjuvante. As atrizes compensam plenamente a falta de inspiração do roteiro e da direção. A dúvida a agora é se Viola vence Meryl no Oscar. E por falar nisso, esse ano não tem a promoção? Sugiro que o prêmio seja um Blu-ray (ehehe...). Abs!

Bangalô Cult disse...

Olá, Rui, como vai??
Pois é, o roteiro de "Histórias Cruzadas" segue uma cartilha do cinema americano para 'pegar' o espectador, abusando do melodrama.
Eu até que chorei, mas confesso que a questão do racismo, intolerância, poderia ser explorada de forma mais consistente.
Estou para assistir A Dama de Ferro por esses dias. Vamos ver.
Acredito que "O Artista" mereça o prêmio de melhor filme e ator. Já assisti e o filme, apesar da história de amor singela, fisga a gente pela nostalgia.
Agora, quanto à promoção, farie um texto explicando porque decidi não fazer este ano.
Bjs