Diferentemente da exposição “Mondigliani: Imagens de uma Vida”- que já passou por Vitória, Rio de Janeiro e que está em cartaz no MASP, em São Paulo- e foi propagada aos quatro cantos como “a maior mostra” do pintor italiano no país, apesar de contar dentre os seus 230 itens, com apenas 12 pinturas e cinco esculturas de Amedeo Mondigliani, a mostra “Caravaggio e Seus Seguidores” que será aberta hoje, na Casa Fiat de Cultura em Belo Horizonte, e que a partir de 26 de julho, poderá ser vista no MASP, revela de imediato seu formato econômico.
Embora seja a maior concentração de obras de Michelangelo Merisi da Caravaggio em solo brasileiro, a exposição conta com apenas seis pinturas do mestre, acompanhadas por 14 obras de seus discípulos. Quem se dispuser a conferir de perto as perturbadoras telas do italiano nascido em 1571, em Milão, apreciará “São Francisco em Meditação” (1595), “São Jerônimo” (1606), “Medusa Murtola” (1596), “A Degola de São Genaro ou Santo Agapito” (1606), “São Francisco em Meditação” (1606) e “Retrato do Cardeal Benedetto Giustianiani” (1600).
Segundo a matéria “Os Retratos do Êxtase”, escrita por Francisco Quinteiro Pires e publicada na revista Carta Capital, desta semana, há controvérsias com relação à autoria dessas três últimas obras. Então, por quê se deslocar até Minas ou São Paulo, a fim de ver de perto seus traços vivos, apesar de passados cinco séculos ? Talvez pela chance de conferir o óleo sobre tela montada em madeira- “Medusa Murtola”- o grande destaque da exposição. (Causaria ela mais emoção do que senti, quando me deparei com "A Morte da Virgem" no Museu do Louvre?)
Tendo explorado como ninguém o poder do olhar, Caravaggio transforma sua “Cabeça de Medusa”- uma encomenda feita pelo Cardeal Francesco Maria Del Monte, a fim de presentear o duque Ferdinando de’ Medici- num monstro estarrecedor. Ele tinha apenas 26 anos quando foi incumbido de criar a obra substituta da que Medici possuía, pintada por Leonardo da Vinci, mas perdida no ano de 1580.
Se o jovem Caravaggio superou o genial Da Vinci, na produção dessa obra, é impossível saber, mas que ele tornou-se um virtuose do choque-horror (basta conferir outros de seus trabalhos, como “A Decapitação de São João Batista” (1608) e “Davi com a Cabeça de Golias (1605-06)), não resta dúvida.
O que mais chama a atenção na “Cabeça da Medusa” é seu realismo: os olhos saltando da órbita, os dentes cortantes à mostra, a boca aberta e imóvel, soltando um grito silencioso e o sangue vivo jorrando de sua cabeça não deixa qualquer dúvida sobre o mito da mulher de cabeleira de serpentes que transformava homens em pedra, só pelo olhar, mas que foi derrotada por Perseu, ao mirar o escudo espelhado e ser vítima de sua própria arma letal. A dramaticidade encontrada em suas obras dá-se pelo uso da técnica do chiaroscuro, em que o pintor trabalha com os contrastes de luzes e sombras gerando um resultado bastante peculiar.
O que mais chama a atenção na “Cabeça da Medusa” é seu realismo: os olhos saltando da órbita, os dentes cortantes à mostra, a boca aberta e imóvel, soltando um grito silencioso e o sangue vivo jorrando de sua cabeça não deixa qualquer dúvida sobre o mito da mulher de cabeleira de serpentes que transformava homens em pedra, só pelo olhar, mas que foi derrotada por Perseu, ao mirar o escudo espelhado e ser vítima de sua própria arma letal. A dramaticidade encontrada em suas obras dá-se pelo uso da técnica do chiaroscuro, em que o pintor trabalha com os contrastes de luzes e sombras gerando um resultado bastante peculiar.
Há, no entanto, mas do que isso para se apreciar nessa exposição que privilegia obras do barroco italiano. Quatorze quadros de pintores “caravaggescos”, como Artemisia Gentileschi (1593-1653), Bartolomeo Cavarozzi (1587-1625), Giovanni Baglione (c.1566-1643), Giovanni Battista Caracciolo (1578-1635), Hendrick van Somer (1615-1684/85), Jusepe di Ribera (1591-1652), Leonello Spada (1576-1622), Mattia Preti (1613-1699), Orazio Borgianni (1574-1616), Orazio Gentileschi (1563-1639), Orazio Riminaldi (1593-1630), Simon Vouet (1590-1649), Tommaso Salini (1575-1625) e Valentin de Boulogne (1591-1632), merecem apreciação. Trata-se de seguidores do mestre, da segunda metade do séc. XVI e início do séc. XVII.
A exposição “Caravaggio e Seus Seguidores”, que integra a programação do Momento Itália-Brasil 2011-2012, reúne obras da Itália, de Malta e da Inglaterra. Além de pertencentes a coleções particulares, as pinturas provêm de três dos mais prestigiados museus estatais italianos – Galleria Borghese (Roma), Palazzo Barberini (Roma) e Galleria degli Uffizi (Florença).
A idealização da mostra é de Rossella Vodret, uma das principais especialistas em Caravaggio na Itália e chefe da Superintendência Especial para o Patrimônio Histórico, Artístico e Etnoantropológico e para o Pólo Museológico da Cidade de Roma. Na Itália, a curadoria tem participação de Giorgio Leone e, no Brasil, de Fabio Magalhães.
A exposição ficará em cartaz até o dia 15 de julho na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte e poderá ser visitada de terça a sexta-feira, das 10 às 21h e sábados, domingos e feriados, das 14 às 21h. De 26 de julho a 30 de setembro, “Caravaggio e Seus Seguidores” estará em cartaz no MASP, em São Paulo.
Sobre Caravaggio- Michelangelo Merisi, mais tarde conhecido como Caravaggio por causa do lugar de origem da família, nasceu em Milão, provavelmente em 29 de setembro de 1571, dia de São Miguel Arcanjo. Foi o primeiro de quatro irmãos, filhos de Fermo, mestre de obras, e Lucia Aratori, cujo pai, Giovan Giacomo, tinha cargo de destaque na administração financeira dos bens dos Sforza-Colonna. O povoado de Caravaggio era sede do marquesado de Francesco Sforza e Costanza Colonna, aquela que foi um dos maiores sustentos em toda a penosa existência dos Merisi. Após a morte do marido, em 1577, causada pela peste, Lucia seria obrigada a vender terrenos para pagar os estudos do primogênito, que muito cedo manifestaria interesse pela pintura.
Em 1584, segundo contrato estipulado em 6 de abril, Michelangelo é confiado ao artista Bergamasco Simone Peterzano (1540-1596), para que lhe ensinasse a arte da pintura em seu estúdio de Milão. O aprendizado milanês durou até 1588, mas não se sabe nada dos movimentos do jovem até 1591. É plausível, entretanto, que Michelangelo não tenha retornado imediatamente a Caravaggio, pois completaria sua formação na Lombardia e no Vêneto, ao estudar com os grandes mestres quinhentistas, cuja influência pode ser percebida em suas obras. O último documento que atesta a presença do artista na Lombardia é de 1º de julho de 1592, quando ele é citado como testemunha em um documento de cartório.
Ao longo da vida, Caravaggio envolveu-se numa série de brigas, fruto, em grande medida, de seu temperamento explosivo e dos permanentes problemas financeiros. Em 1606, o artista seria acusado de matar um jovem. À época, foge de Roma com a cabeça, literalmente, “a prêmio”. Passa, então, por Nápoles, Malta e Sicília, cidades onde se envolve em novos conflitos: como exemplo, basta lembrar que, quando em território napolitano, sofre atentado engendrado por inimigos jamais identificados pelos estudiosos.
O grande Michelangelo Merisi da Caravaggio morreria a 18 de julho de 1610, aos 38 anos, em Porto Ercole.
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