segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Filha de Peixe, Peixinha é...







Já tinha me encontardo com a cineasta iraniana, Samira Makhmalbaf, na coletiva de sábado para a apresentação do júri internacional que escolherá o melhor filme de ficção na categoria Novos Diretores.
Tímida e ao mesmo tempo solícita, a jovem diretora era apresentada pelos organizadores da Mostra, Leon Cakoff e Renata Almeida aos convidados do evento e ouvia tudo com muita atenção.
Nesse primeiro encontro com os jornalistas, ela disse estar muito feliz de participar da Mostra e poder escolher o melhor filme indicado através do gosto popular. Adepta do cinema independente e seguidora dos passos do pai, o também cineasta Mohsen Makhmalbaf, Samira disse não se importar em presidir o júri, caso seja convocada para a função e que deixará o coração lhe guiar para escolher a melhor película.
“Não importa se quem dirigiu foi um homem ou uma mulher, isso não pesará na minha escolha. Antes de ser mulher e iraniana, sou humana e o filme que mais me tocar, terá meu voto”, disse, ao ser questionada pela jornalista Rosário Caetano, se tinha predileção pelo olhar feminino no cinema.
No dia seguinte, num bate-papo mediado pelo crítico de cinema, Rubens Ewald Filho, pude observar melhor a diretora de “A Maçã” e “Cavalo de Duas Patas”.
Apesar de jovem, Samira era segura nas respostas dos questionamentos feitos por uma platéia interessada. Uma persona extremamente sensível e sincera, que já escapou até de um atentado no Afeganistão, durante as filmagens de seu último longa, “Cavalo de Duas Patas”.
“Uma bomba foi lançada num mercado durante as filmagens. Não sei exatamente se para nos atingir, mas aconteceu exatamente quando estávamos naquele lugar. Seis pessoas da minha equipe ficaram feridas, e uma delas, após dias no hospital, não resistiu e acabou morrendo. Pensei em interromper as filmagens, mas a própria equipe não aceitou e terminamos indo para outro local, finalizar as tomadas. Senão fosse um cavalo que serviu de ‘escudo’ para a gente, provavelmente teria acontecido o pior”, revela.
Perguntei a ela se conhecia a filmografia de alguns cineastas brasileiros em alta no exterior, como Walter Salles, José Padilha e Fernando Meirelles, mas sua resposta foi negativa, já que no Irã existe uma censura muito grande e não teria como conferir esses filmes, a não ser pelo DVD.
Aliás, ultimamente, a diretora e sua família não moram no país de origem. Banidos pelo governo e proibidos de filmar na terra natal, a família Mahkmalbaf vive entre o Paquistão, Índia e outros países vizinhos. Essa vida de andarilha a cansa e seu sonho é poder voltar para o Irã em paz.
Fã de Fellini e do filme “Nanook- o Esquimó” de Robert Flatherty, Samira é um exemplo de mulher, cineasta, ser humano. Realizou além dos filmes citados no início da postagem, um curta muito bonito na coletânea de curtas-metragens, “11 de Setembro”. Inclusive falou que a experiência foi ótima, onde explorou ao máximo a falta de comunicabilidade inserida num contexto muito especial. “Apesar daquelas crianças afegãs viverem no meio do terrorismo, elas não sabiam o que acontecia no outro lado do mundo. Não sabiam nem onde ficavam as Torres Gêmeas. Da mesma forma como muitos pessoas não se importam com o que acontece naquele país”.
Samira é uma luz contrastando com as vestes escuras que sempre utiliza. Que essa luz não se apague tão cedo...

Foto 1: Eu e a cineasta que tanto admiro

Foto 2: No bate-papo com Ewald Filho e a platéia, ela se mostrou segura, madura e humana. A tradutora Marina Gilii passou tudo na íntegra

Foto 3: Antes da coletiva da imprensa, pausa para uma conversa

Fotos e Texto: Suyene Correia

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