A imigração ilegal (ou não) dos nascidos em países do Oriente Médio e da África para a França e o choque cultural entre esses imigrantes e a sociedade parisiense tem sido um tema recorrente do cinema atual daquele país. Basta se lembrar de "Bem-vindo" de Philippe Lioret e "Entre os Muros da Escola" de Laurent Cantet, ambos bastante contundentes em suas respectivas temáticas.
Agora, as atenções se voltam para "Um Profeta" de Jacques Audiard, que estreia nacionalmente no dia 11 de junho, mas teve exibição antecipada no Brasil, por conta do Festival Varilux de Cinema Francês (www.festivalcinefrances.com) que se encerra nesta quinta-feira.
Vencedor de 9 César (o 'Oscar' do Cinema Francês), do Grande Prêmio no Festival de Cannes 2009 e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, o filme radiografa o sistema prisional francês, focando no jovem Malik El Djebena, que com apenas 19 anos, é condenado a 6 anos de detenção.
O espectador não sabe ao certo que crime o protagonista cometeu, mas vai acompanhar ao longo de 2h40 de projeção, num misto de drama e suspense, a 'ascenção social' de um árabe semi-analfabeto entre as quatro paredes de uma prisão.
O magistral Tahar Rahim (em sua estreia no cinema) dá vida ao anti-herói, Malik, que de capacho de um líder mafioso italiano transforma-se num líder reverenciado pelos companheiros de carceragem. Se logo nos primeiros minutos, ele é refratário à missão de eliminar um perigoso criminoso que acabou de chegar à prisão, horas depois, o extermínio movido pela vingança lhe parece a coisa mais natural do mundo. É assim que ele, sabiamente, trocará o 'respeito oferecido' pelo mafioso italiano pelo 'respeito conquistado' por seu próprio esforço.
O filme, apesar da longa duração e de concentrar 70 % da ação dentro do complexo penitenciário (especialmente construído para as filmagens) prende a atenção do espectador sobretudo pelo engenhoso roteiro, pela boa atuação do elenco (a maioria dos atores são desconhecidos do público brasileiro) e direção competente de Audiard (mesmo diretor do filme "De Tanto Bater, Meu Coração Parou").
Destaque para a última cena de "Um Profeta" embalada por uma bela versão de "Mack The Knife", música composta por Kurt Weill e escrita por Bertolt Brecht.
Texto: Suyene Correia
Foto: Malik (à direita) aprende com um companheiro de prisão "A Lei do Mais Forte"
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