Carmina saiu de casa como sempre, bem antes do horário da sessão do cinema. Ela tinha a tarde de sexta-feira livre para fazer o que quisesse, mas toda semana era a mesma coisa: programava um cineminha, tivesse ou não companhia. Naquela tarde ela estava só. Entrou na sala 02 daquele complexo de cinema do shopping mais antigo da cidade, 15 minutos antes das 14h e ficou esperando o ritual acontecer.
Ouviu aquela sequência musical que já sabia por demais decorada, esperou que alguns parcos espectadores aparecessem, mas...Estava tudo diferente. Seria o efeito da Copa ? A verdade é que nos seus 32 anos de carreira como cinéfila, nunca havia assistido a um filme no cinema de forma "privada".
Ouviu aquela sequência musical que já sabia por demais decorada, esperou que alguns parcos espectadores aparecessem, mas...Estava tudo diferente. Seria o efeito da Copa ? A verdade é que nos seus 32 anos de carreira como cinéfila, nunca havia assistido a um filme no cinema de forma "privada".
Olhou para um lado, para o outro, olhou por cima do ombro e não viu uma sombra sequer. Estava solitária, literalmente. Mas não tinha problema, até achava bom. Aquele cinemão todo só para ela. Que maravilha!! O problema é que "uma andorinha não faz verão" e naquele caso, especificamente, não tinha força suficiente para sensibilizar o projecionista.
"Será que esqueceram de mim ?", pensou Carmina. Afinal, o filme estava com 10 minutos de atraso e nada de começar, nada das luzes sequer apagarem. O jeito foi se levantar da poltrona e perguntar a um dos funcionários lá fora se estava na sala correta. Estava sim. O problema é que haviam se esquecido dela.
Voltou à sala achando que a sessão seria tranquila, afinal o que poderia perturbar seus 120 minutos de deleite com aquele filme de Ken Loach ("À Procura de Eric") ? Graças a Deus não tinha trailer. Não é que lá pelo meio do filme, a projeção começa a apresentar problemas? Não é possível, as cabeças dos atores estão cortadas...
Demorou sentada um pouco, na esperança do "abençoado" projecionista se ligar no problema. Ledo engano. Ficasse ela ali sentada mais um pouco e assistiria a um filme com visão de bifocal. Sai correndo, tropeça no degrau, mas não cai. Fala com a mesma funcionária sobre o novo problema e a jovem prontamente "passa o rádio" informando ao colega sobre a intercorrência.
Já tinha perdido uns dois minutos de filme nesse meio tempo e ninguém teve o bom senso de retornar "a fita" até o ponto nevrálgico. Ainda bem que o filme não era russo, nem sul-coreano. Seu inglês era sofrível, mas como a cena perdida só teve socos e pontapés, ficou no lucro.
Aconchegou-se novamente na poltrona, respirou fundo e comeu um cookie. Bateu uma sede depois, mas quem disse que ela se levantaria dali ? Só quando o filme acabasse. "Chega de stress", pensou. Cedo demais. Como Carmina tinha saudades daqueles cinemas de bairro...
Não é que faltando meia hora pro filme terminar, o problema das cabeças cortadas voltou. A vontade que Carmina tinha era de sair dali e não voltar mais. Tantas interrupções...antes tivesse esperado a película sair em DVD. Daria no mesmo.
Respirou fundo, não iria jogar seus míseros tostões no lixo. Quando apontou no meio do corredor, a funcionária a olhou e, imediatamente, "passou o rádio", acompanhando-a até a sala, com olhar de desconfiança. "Estaria essa garota duvidando de mim? Achando que eu estou querendo confusão?"
Nem um pedido de desculpas ouviu. Saiu à francesa da sala, que Carmina só ouviu o "baque" da porta se fechando. "Ufa!! Finalmente, a tortura acabou". Carmina não estava se referindo ao filme, mas de todas aquelas paradinhas sem direito a "Rebonine, Por favor". Decidiu que a partir de então, não queria mais ter o cinema só prá ela.
Texto: Suyene Correia
Um comentário:
é um momento desesperador! terrível estarmos no cinema e os "probleminhas" de projeção começarem a ocorrer e mesmo que corramos atrás de alguém para consertá-los,não obtemos respostas. Entendo perfeitamente Carmina, no lugar dela teria pirado!
de certa forma ter o cinema para você,num primeiro momento é bastante estranho e talvez até assustador. mas assim como nossa personagem, essa idéia passa a ser divertida tanto que nos faz relaxar e curtir toda a sala para nós. a coisa complica quando "probleminhas" feito esses acontecem.
enfim Carmina tirou uma excelente conclusão,torçamos agora para que ela não passe por isso mais uma vez!
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