sábado, 20 de novembro de 2010

29a Bienal de SP- Doce ou Amarga ?






Ir a Sampa  nos próximos dias e não conferir a 29a Bienal de São Paulo, que se encerra no dia 12 de dezembro, no Parque do Ibirapuera, é marcar bobeira. Por mais que os trabalhos da maioria dos artistas selecionados não inspirem lá muito crédito, principalmente, ao lembrar que o tema perpassa pela  "Polítíca e Arte" e aí, eles passam longe da proposta, existem uns parcos trabalhos que valem a pena alguns minutos de contemplação.

Logo no térreo, ao adentrar no Pavilhão Ciccillo Matarazzo,  as grandes telas de Rodrigo Andrade compondo sua "Matéria Noturna" de São Paulo chamam a atenção do espectador. A princípio semelhantes a grandes fotografias noturnas, as telas pintadas a óleo por Rodrigo e com texturas bem trabalhadas, revelam a cidade grande adormecida.

Seguindo um pouquinho mais à frente, reserve uns segundinhos ao vídeo "Je Vous Salue Saravejo" de Jean-Luc Godard. As palavras chocam mais que as imagens... Preste atenção também na criatividade de Tatiana Blass com seu trabalho "Metade da Fala no Chão", em que um piano é calado por conta da parafina que foi derramada em seu interior. O piano por si só 'parafinado' não é tão interessante quanto a performance do pianista que pode ser vista num vídeo ao lado da obra.

Por falar em vídeo, vale a pena dar uma olhada na sequência de fotos de David Claerbout projetadas num quarto escuro. Ele mostra o terraço de um prédio em Argel, onde acontece uma pelada. Ao mesmo tempo em que compactuamos com a alegria dos rapazes em meio a uma diversão despretensiosa, deslumbramo-nos com o vigor do fotógrafo ao mostrar em enquadramentos inusitados, a revoada de pombos sobre suas cabeças. 

Ai Weiwei com suas esculturas gigantes de animais do horóscopo chinês não consegue passar incólume. Já as belas fotografias da americana Alessandra Sanguinetti poderiam estar num lugar mais visível. É preciso se desviar um pouquinho para a direita, praticamente na parede oposta da entrada do pavilhão, para apreciar suas cenas montadas com modelos infantis bastante expressivos.

Jacobo Borges com suas fotografias de Caracas também merece um destaque, assim como os trabalhos de Moshekwa Langa e Eduardo Navarro.  Ainda no primeiro pavimento, subindo a rampa, não deixe de entrar no terreiro "Longe Daqui, Aqui Mesmo" (misto de biblioteca e labirinto) projetado por Marilá Dardot e Fábio Morais. Rosângela Rennó, Mateo López e Karina Skvirsky Aguillera também merecem uma atenção ainda neste pavimento.

Já é possível a partir deste piso, visualizar a grande obra de Nuno Ramos, mas sem os urubus sergipanos, o trabalho perde muito do seu impacto. Vá logo para o terceiro pavimento, porque se você passear pelo segundo, não terá disposição para mais nada depois. Não perca por nada, a instalação de Alfredo Jaar, em que com um amontoado de slides (de uma única cena), o artista consegue fazer uma crítica feroz ao genocídio de Ruanda.

A carioca Alice Miceli, que mora atualmente em Berlim, arrasa com seu Projeto Chernobyl. Na instalação da artista é possível visualizar os negativos que foram sensibilizados com a radiação encontrada no local do acidente nuclear ocorrido em 1986. O abstracionismo do invisível dá um feito surreal.

Henrique Oliveira com sua gruta artificial "A Origem do Terceiro Mundo" demonstra que é, no mínimo, um artista que não tem preguiça de trabalhar (seja mentalmente, seja fisicamente). Colagem tridimensional dimensionada de forma gigantesca como nunca havia "experenciado".

Ainda neste andar,  valem uma conferida "O Barco dos Tolos" do fotógrafo Allan Sekula; o "Abajur" de Cildo Meireles; as fotos dos Penitentes assinadas por Guy Veloso; as fotografias de Miguel Rio Branco; o vídeo "Arte/Pare" de Paulo Bruscky e o "Tornado" de Francis Alÿs.

No segundo pavimento, obras instigantes como os jornais de Antonio Manuel; a série "Milagros" de Sandra Gamarra sobre personalidades políticas e cenas de guerra; a paca voadora de Nélson Leiner; os pêndulos suspensos de Tatiana Trouvé se sobressaem às demais. Aqui tem muita coisa completamente desnecessária, mas os poucos trabalhos dignos de uma apreciação mais demorada, vale a pena o esforço de vencer o cansaço. Resta ao internauta que visitar à 29a edição da Bienal, decidir se ela deixou um gostinho doce ou amargo. Para mim, ficou no agridoce.

Legenda da Foto 1: A blogueira ainda bem disposta, no início da visitação, em frente à obra de Rodrigo Andrade

Legenda da Foto 2: Não sei se meu signo corresponde ao Galo, no horóscopo chinês, mas esta escultura de Ai Weiwei foi a que mais simpatizei

Legenda da Foto 3: Interior do "Palácio de Papel" criado com precisão geométrica por Mateo López

Legenda da Foto 4: Detalhe da obra "350 Pontos Rumo ao Infinito" de Tatiana Trouvé

Legenda da Foto 5: Na obra do irreverente Nélson Leiner até pacas voam

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