Por Margueritte Durrel
Quem nunca teve uma vontade enorme de ler um escritor considerado clássico e desistiu ou adiou a leitura por causa de comentários de que o autor é muito complexo e suas estórias são de difícil compreensão? E ao final, complementam, precisa-se de preparo intelectual e psicológico para enfrentar tal escritor.
Já me defrontei com essa situação e, confesso, relutei em seguir adiante. Este ano, entretanto, decidi me dedicar à leitura de Virginia Woolf, uma escritora respeitada pela crítica e muito valorizada pela academia, mas geralmente tachada de difícil. Não elaborei nenhum roteiro especial nem fiz qualquer preparação teórica. Apenas segui a ordem cronológica em que foram escritas as suas obras. Gostaria aqui de relatar minhas impressões sobre essa experiência, mas antes farei um breve relato sobre quem foi essa escritora.
Virginia (Adeline V. Stephen) Woolf nasceu em Londres, em 1822. Filha de editor, crítico e historiador Sir. Leslie Stephen, teve uma educação refinada e freqüentou cedo o mundo literário. Em 1912, casou-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que publicou obras de grandes escritores como Katherine Mansfield, T. S. Eliot, Freud, Proust, dentre outros. Participou do grupo Bloomsbury, círculo de intelectuais requintados que, após a I Guerra Mundial, atacariam as tradições literárias, políticas e sociais da era vitoriana.
Virgínia começou a escrever artigos de crítica e contos em 1905. Escreveu A Viagem, seu primeiro romance, em 1915. Suas obras consideradas mais importantes são Mrs. Dalloway, Orlando, As Ondas, Passeio ao Farol e Entre os Atos. Também escreveu ensaios (O Leitor Comum, Cenas Londrinas, Um Teto Todo Seu). Ela é considerada uma escritora inovadora, pois, aboliu a exposição linear da ação e do enredo e subverteu o conceito do tempo literário. É considerada a “Proust inglesa”. Em 1941, vítima de grave depressão, suicida-se.
Tive a oportunidade este ano de me deleitar com quase a totalidade de sua obra e descobri inúmeras/múltiplas Virginias. Alguns dos seus romances são bastante convencionais e podem ser lidos sem nenhuma dificuldade, como A Viagem e Noite e Dia. Outros são bastante experimentalistas, neles não há enredo e ação, apenas vida interior, pensamentos e sentimentos dos personagens. Algumas dessas obras lembram um quadro impressionista como é o caso de O Quarto de Jacob e Os Anos. Outras são verdadeiros romances-poemas, como As Ondas.
Há também a Virginia ensaísta, crítica literária de O Leitor Comum, como também a de em Um Teto Todo Seu, um ensaio crítico de ironia fina, onde ela diz, com sabedoria: "Seria mil vezes lastimável se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como os homens, ou se parecessem com os homens, pois se dois sexos são bem insuficientes, considerando-se a vastidão e a variedade do mundo, como nos arranjaríamos com apenas um? Não deveria a educação revelar e fortalecer as diferenças, e não as similaridades? Pois atribuímos às semelhanças um valor exagerado".
Mas, se ainda assim, houver medo ou insegurança em se deleitar com as obras dessa escritora, não desista e procure a bem-humorada e deliciosa estória de Flush – Memória de um Cão. As aventuras de Flush, um cocker spaniel que ama raios de sol, pedaços de rosbife, a companhia de cadelinhas e de seres humanos, baseou-se na correspondência dos poetas vitorianos Elizabeth Barret e Robert Browning, onde falam sobre seu cão de estimação.
Para terminar esse texto só me resta reproduzir trechos do artigo Como se deve ler um livro? Incluído no livro O leitor comum: O único conselho, de fato, que uma pessoa pode dar a outra sobre o ato de ler é não seguir conselho algum, seguir seus próprios instintos, usar suas próprias razões, chegar a suas próprias conclusões. (...) Admitir autoridades, mesmo austeramente engomadas e togadas, em nossas bibliotecas e deixá-las nos dizer como ler, o que ler, que valor atribuir ao que lemos, é destruir o espírito de liberdade que é o exigênio desses santuários.
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