Como é difícil o aceso aos filmes africanos. Quando um aporta por aqui, o milagre não pode deixar de ser averiguado. "Um Homem Que Grita" de Mahamat-Saleh Haroun, e que está em cartaz no Cine Cult Riomar, foi o primeiro filme do Chade a competir em Cannes e não saiu de mãos vazias: venceu o Prêmio do Júri na edição passada.
No drama, acompanhamos o efeito devastador da guerra civil que se arrasta no Chade há 30 anos, através de uma família cujo patriarca Adam (Youssouf Djaoro) irá travar uma batalha com o único filho Abdel (Diouc Koma). Ambos trabalham como salva-vidas, num hotel administrado por chineses.
Campeão nacional de natação no passado, Adam que está com 55 anos, passa o maior tempo do trabalho, observando as atividades do filho, seu sucessor. O problema está no fato de que com a guerra, as demissões no hotel privatizado são inevitáveis e os mais velhos não são poupados. Talvez por consideração (ou teria sido um pedido do filho ?) a dona do hotel não tenha dispensado "o campeão", mas antes tivesse isso acontecido, pois Adam não suporta a ideia de ser transferido para a portaria, enquanto o filho assume seu lugar.
Como se não bastasse, ele vem sendo pressionado por forças do governo, a financiar a luta contra os rebeldes, ou na falta do dinheiro, enviar um filho para o combate. É a partir da decisão de Adam, que a trama vai tomando contornos mais drásticos, até chegar ao final "porradão".
O grito de Adam, ninguém nunca escutará. Só ele mesmo pode ouvi-lo. Mas esse grito eterno reverberando dentro de si, é incompatível com a paz que ele, teimosamente, tenta alcançar.
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