Imagine juntar num mesmo evento, o lirismo dos paulistas Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz; o experimentalismo de Babilak Bah e do Graveola e o Lixo Polifônico; o virtuosismo do violonista mineiro Gilvan de Oliveira e do guitarrista baiano Armandinho; as incursões samba-rock do “imorrível” pernambucano Di Melo e a “pegada” alucinante do carioca Jards Macalé; o contundente rapper Flávio Renegado e a irreverente Maria Alcina; os roqueiros brasilienses do Móveis Coloniais de Acaju e os mineiros do Porcas Borboletas.
Pois de 25 a 29 de maio, esses artistas e tantos outros participaram da programação de encerramento da etapa Conexão Vivo, na capital mineira. O Parque Municipal, a Sala Juvenal Dias no Palácio das Artes e o Music Hall foram os locais escolhidos para abrigar os shows das bandas, cantores e musicistas, que em muitas ocasiões, recebiam no palco ilustres convidados da MPB.
Com preços populares (R$ 20/R$ 10) ou gratuitamente, os shows da Conexão Vivo foram prestigiados por um público de faixas etárias diversas, bastante antenado com novas promessas da cena musical brasileira. A blogueira viajou a Belo Horizonte, para conferir de perto algumas dessas atrações e conhecer a logística desse evento, que poderá chegar a Sergipe no ano que vem (dependerá somente da boa vontade do poder público e da iniciativa privada local).
Segundo Murilo Lima, o Kuru, diretor nacional do programa Conexão Vivo, a partir do segundo semestre iniciarão as articulações para que o projeto- que hoje contempla Minas Gerais, Pará, Bahia, Pernambuco e Espírito Santo- seja expandido para mais cinco Estados. “Iremos a Sergipe no segundo semestre para tentar articular com o poder público e a iniciativa privada, a fim de levar ações do Conexão Vivo para lá. Não só pela proximidade com a Bahia, que desde o ano passado entrou no roteiro do projeto, mas também por ter uma produção musical interessante e a operadora ser a de maior aceitação no mercado local, é que pensamos em presentear os sergipanos com ações do projeto, que ajudará no desenvolvimento cultural do Estado”, diz Kuru.
O Conexão VIVO é um programa cultural nacional que gera oportunidades, conteúdos e serviços para todos que gostam ou vivem da música. Formado por uma rede colaborativa de artistas, público, produtores, gestores, selos, comunicadores e demais elos da cadeia produtiva do setor, o Conexão possibilita a seus participantes ampliar o alcance de suas carreiras e projetos, além de engajar um grande número de pessoas em movimento nacional para pensar e construir um novo momento para o mercado musical no Brasil.
“É bom lembrar que essa programação que está acontecendo em BH é apenas um etapa do programa que trabalha com várias frentes e que acumula até então, mais de 150 projetos patrocinados e articulados em rede. Uma dessas ações é esse conjunto de shows que tem os custos compartilhados com os artistas. Eles participaram de todo o processo de construção desse evento, inclusive ajudando a pagar a conta. Essa etapa aqui no Parque, está recebendo artistas de sete Estados diferentes, mas tivemos várias etapas ao longo de 40 dias em Belo Horizonte, contemplando nomes de quase todo o país”.
Há 11 anos no mercado, o programa nasceu na capital mineira, a partir de uma série de articulação do setor musical, no final dos anos 1990. Materializou num projeto através de Lei de Incentivo, em 2000 e em 2001, esse projeto foi assumido pela Telemig celular que era uma operadora de telefonia local. “Quando a Vivo comprou a Telemig, pensávamos que o projeto iria acabar, mas pelo contrário, a Vivo comprou a causa e tem começado a levar o projeto para outras capitais”, explica Kuru.
Conexão musical- Seria ótimo se o programa aportasse por aqui, pois os sergipanos ávidos em conhecer novos e (velhos) artistas do cenário musical brasileiro teriam acesso a esses shows mais independentes.
Na sexta-feira, por exemplo, tive a oportunidade de conferir as apresentações das bandas mineiras The Hell’s Kitchen Project e Julgamento; do cantor mineiro Lucas Avelar; do violonista Gilvan de Oliveira e do paulista Marcelo Jeneci.
A estrutura do festival contava com dois palcos (Vivo e Conexão) montados no Parque Municipal, além de uma estrutura bem organizada de bares (incrível a eficiência dos caixas espalhados pelo local do evento, que vendiam os tickets de bebidas e lanches) e feira de discos.
A partir das 19h30, no palco Vivo, foi possível acompanhar a performance do trio The Hell’s Kitchen Project (THKP), composto pelo vocalista Jon, o contrabaixista Malk e o baterista Buddha. Mesmo sem guitarras, o som da banda mineira não deixa de sacudir a platéia, que foi ao delírio no final da apresentação, quando subiu ao palco a carioca Autoramas.
Jon e Gabriel Thomaz se revezavam no vocal, enquanto Bacalhau (baterista do Autoramas) e Buddha juntamente com Flávia Couri (baixo) e Malk tocavam num uníssono. Foram quatro canções tocadas de forma visceral. Logo em seguida, no palco Conexão, Lucas Avelar mostrou releituras de clássicos brasileiros em versão suingada. O repertório curtido pelo público foi baseado no CD “O Bicho que Mora na Gente” lançado em 2008. O show de cerca de 40 minutos teve a participação de outro mineiro: o compositor, instrumentista e produtor, Affonsinho.
Seguiram-se os shows do grupo Julgamento (MG) que faz um hip hop de muito boa qualidade e que convidou a cantora Nathy Faria, para uma “palhinha”. Depois, o excelente violonista Gilvan de Oliveira fez jus à tradição mineira de contar com musicistas de alto nível.
Explorando o disco - “Pixuim” (2010)- que comemora os 20 anos de carreira, o violonista conseguiu arrancar suspiros da plateia com seu dedilhado estilizado. O ponto alto da apresentação foi o duelo que travou com Armandinho, munido de seu bandolim, na música ‘Em Terra de Cego Quem Tem Cinema é Doido’.
Fechando a noite, o paulista Marcelo Jeneci mostrou no palco porque é tão querido pelos admiradores de suas canções líricas. Extremamente simpático, o musicista, cantor e compositor interagia a todo instante com o público, que cantou junto com ele e Laura Levieri, canções como “Quarto de Dormir”, “Feito pra Acabar”, “Show de Estrelas” e “Dar-te-ei”.
No sábado, foi a vez dos shows de Babilak Bah (MG), Senta a Pua! (MG) , Black Sonora (MG) , Graveola e o Lixo Polifônico (MG) e Renegado (MG). Eles contaram, respectivamente, com as participações de Juarez Moreira (MG), Eduardo Neves (RJ), Di Melo (PE), Jards Macalé (RJ) e Maria Alcina (MG), que na maioria das vezes, de coadjuvantes, passaram a artistas principais.
Destaques para o vigor de Jards Macalé cantando e tocando junto com os jovens do sexteto do Graveola e o Lixo Polifônico; a versatilidade de Eduardo Neves, ora na flauta, ora no sax acompanhando o samba de gafieira do Senta a Pua!; a presença marcante do samba-roqueiro Di Melo com a galera esfuziante do Black Sonora e Maria Alcina que, apesar de apenas interpretar duas canções com renegado, arrebentou em “Fio Maravilha”.
Já Babilak Bah, sozinho ou com Juarez Moreira, era suficientemente envolvente com sua Orquestra de Enxadas. O som experimental do rapaz era tirado de uma parafernália percussiva personalizada e, consequentemente, único.
Agora, é torcer para que Sergipe se conecte com essa iniciativa e tenhamos a oportunidade de conhecer de perto talentos como estes.
Texto e fotos: Suyene Correia
Legenda da Foto 1: O violonista Gilvan de Oliveira mostrou composições do disco "Pixuim"
Legenda da Foto 2: Marcelo Jeneci comprovou no palco que "Feito Pra Acabar" é um dos melhores discos de 2010
Legenda da Foto 3: O mineiro Babilak Bah mostrou seu experimentalismo percussivo
Legenda da Foto 4: Jards Macalé "incendiou" o Parque Municipal de BH juntamente com a galera do Graveola e o Lixo Polifônico
Legenda da Foto 5: O rapper Renegado interpreta "Fio Maravilha" com Maria Alcina
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