O Cine Cult, neste final de semana, traz para a plateia sergipana dois títulos imperdíveis: “Vincere” de Marco Bellocchio e “127 Horas” de Danny Boyle. O primeiro, que será exibido no Cinemark Riomar, e concorreu à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, foca um aspecto da vida do fascista Benito Mussolini (Filippo Timi) pouco conhecido: o de que ele seria pai de um garoto, fruto de seu envolvimento com Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), antes de se tornar um líder político.
Na verdade, quando Ida conhece Mussolini em Milão, ele era apenas um jovem socialista, com extremo talento em orientar as massas contra o poder da Igreja e da Monarquia vigente. Encantada com sua postura de líder, ela financia o jornal Il Popolo d’Itália, que Mussolini funda para disseminar seus ideais fascistas e tamanha é a dedicação da mulher, que ela mina seu patrimônio em favor do futuro Il Duce.
Enquanto Ida ama, incondicionalmente, Mussolini parece só se preocupar em ascender politicamente e se afasta da mulher, ao voltar da I Grande Guerra, onde serviu ao seu país. Agora, com um filho pequeno, fruto de seu envolvimento com o fascista, Ida se vê rejeitada e trocada pela “oficial” esposa Rachele Guidi (Michela Cescon). Passional ao extremo, ela não desistirá de provar que foi a primeira mulher de Mussolini, mesmo que tenha que enfrentar o próprio ditador.
A partir daí, o que acompanhamos é um sórdido plano colocado em ação, contra Ida Dalser, a fim de que a imagem de Mussolini como líder, não seja maculada. Com tom operístico, Bellocchio conduz o drama de forma a mostrar num primeiro momento, o teste de honra de Mussolini, para depois contrapô-lo ao de Ida Dalser. Além disso, mostra as relações de conveniência entre a Igreja e Mussolini, que se num primeiro momento, nega a existência de Deus, depois chega a fazer as pazes com a própria Igreja.
O resultado é uma obra-prima em que se sobressaem a atuação de Giovana Mezzogiorno, o roteiro assinado a quatro mãos por Marco Bellocchio e Daniela Caseli, a direção de arte de Briseide Siciliano, e a fotografia de Danieli Cipri explorando os contrastes entre claro e escuro.
Já para quem preferir emoções fortes de outra natureza, a boa pedida é assistir ao filme “127 Horas” que entra em cartaz no Cinemark Jardins. Baseado em fatos reais, a película se detém nas 127 horas de agonia que o alpinista Aron Ralston (James Franco) passou no Parque Nacional de Canyonlands, em Utah, quando se viu preso em uma fenda profunda e estreita de um cânion.
Com pouca água e comida, sem uma jaqueta para enfrentar as noites geladas, ele lembrou que não havia avisado ninguém para onde estava indo, e essa demora em se soltar poderia ser fatal, já que poderia morrer desidratado ou afogado em uma inundação – ele estava 30 metros abaixo do nível do solo.
Usando sua câmera de vídeo, Aron começou a gravar mensagens de despedida para sua família e amigos, agradecendo a vida cheia de aventuras, esperando que alguém achasse essa gravação com seus últimos dias de vida. Mas na manhã de quinta-feira ele teve uma inspiração divina que poderia resolver o “enigma” da rocha, um extremo e desesperado ato de bravura que salvaria a sua vida.
É impressionante a atuação de James Franco que ganhou uma indicação este ano ao Oscar de Melhor Ator. Ele convence o espectador da transformação física e psíquica que o personagem sofre ao longo de cinco dias em situação crítica (com uma grande pedra esmagando o seu braço direito).
O diretor Danny Boyle também não decepciona, imprimindo uma narrativa bastante ágil, em que mistura imagens captadas da câmera de Aron, com flashbacks de sua infância e os delírios do alpinista. O mosaico imagético é bem editado, o que favorece à produção não se tornar algo maçante para aqueles que escolheram ficar durante 100 minutos sentados numa poltrona de cinema, acompanhando o martírio do alpinista solitário.
O filmes do Cine Cult são exibidos diariamente, às 14h, no Cinemark, com ingressos a preços populares R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Texto: Suyene Correia
Legenda da Foto 1: Mussolini (Filippo Timi) e Ida (Giovanna Mezzogiorno) em cena do operístico "Vincere"
Legenda da Foto 2: James Franco interpreta muito bem o alpinista Aron Ralston no dramático "127 Horas"
Um comentário:
Vincere é um dos grandes filmes que assisti recentemente. Bellocchio dispensa comentários. Ele e Moretti justificam o cinema italiano hoje. Já 127 horas... Boyle é um trambiqueiro e seu filme, como todos os anteriores depois de Traisnpoting, é vergonhosamente comercial. Não entendo porque tanto empenho em tornar ágil um filme cuja matéria-prima deveria ser a fruição do tempo em sua lentidão. Não há nuances no roteiro, há só a necessidade canhestra de prender a platéia ávida por emoções e conclusões edificantes! Pobre.
Robson Viana
on twitter @robvianadelima
e-mail: robsonvianadelima@hotmail.com
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