Tímida no início do século XX, profícua nos últimos anos, a produção de filmes com temática LGBT cresceu à medida que o preconceito diminuiu (nem tanto assim...). Hoje, o público tem uma ampla gama de películas à disposição. Em "Cine Arco-íris - 100 anos de cinema LGBT nas telas brasileiras", lançamento das Edições GLS, o jornalista Stevan Lekitsch apresenta uma seleção das melhores produções cinematográficas de cunho homo, bi ou transexual.
Fruto de mais de dez anos de pesquisa, o livro apresenta resenha, ficha técnica e curiosidades de bastidores de quase 300 filmes produzidos nos últimos 100 anos. "A ideia não era simplesmente fazer um compêndio de títulos. Procurei ir mais fundo, enfocando os filmes que tiveram importância histórica", afirma Lekitsch. De clássicos como "Morte em Veneza" a filmes polêmicos como "Transamérica", a obra traz o melhor da produção nacional e estrangeira.
O livro começa fazendo uma análise histórica do surgimento do cinema, em 1895, e chega até o fim da década de 1940 - época em que não havia tanta liberdade para abordar a temática LGBT. Ainda assim, encontram-se boas surpresas, como o sinistro "Festim Diabólico", de Alfred Hitchcock, em que a homossexualidade dos protagonistas fica apenas subentendida. Outro destaque é o drama histórico "A Rainha Cristina", estrelado por Greta Garbo, que faz o papel de uma monarca bissexual.
Nos anos 1950, com a relativa abertura vivenciada depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os filmes começam a abordar a homo, a bi e a transexualidade de maneira mais ousada. É o caso, por exemplo, de "Glen ou Glenda", do polêmico diretor Edward D. Wood Jr., que fala sobre travestismo e mudança de sexo - isso em 1953.
A partir da década de 1960, aumentam as produções de cunho LGBT, inclusive no Brasil, apesar da censura promovida pela ditadura militar instaurada em 1964. Um dos destaques mundiais é "Satyricon", dirigido por Federico Fellini, que retrata as vicissitudes do reinado do imperador romano Nero. Na Itália, Pier Paolo Pasolini provoca escândalo com "Teorema".
Mas é a partir dos anos 1970 que o cinema LGBT dá uma guinada. A liberação sexual faz com que a produção aumente progressivamente, chegando a mais de 5 mil filmes por ano.
De 2000 em diante, os filmes gays saem definitivamente das sombras e passam a concorrer de igual para igual com outras produções. Surgem películas engajadas, como "Antes do Anoitecer", que traz Javier Barden no papel do escritor cubano Reynaldo Arenas, e "Milk - A voz da igualdade", que rendeu a Sean Penn o Oscar de melhor ator por sua atuação como o primeiro gay assumido a ocupar um cargo público nos Estados Unidos. Mas talvez o maior destaque da década seja "O Segredo de Brokeback Mountain". Estrelado por Heath Ledger (que morreria três anos depois de overdose) e Jake Gyllenhaal, o filme rendeu o Oscar de melhor diretor a Ang Lee e deixou na memória dos espectadores cenas belíssimas.
De acordo com o autor Stevan Lekitsch, o número de filmes com temática LGBT tende a aumentar. "Apesar do crescimento de manifestações homofóbicas ao redor do planeta, o cinema gay vai continuar produzindo ainda mais filmes que destoem da heteronormatividade", acredita.
Para o jornalista Marcos Brandão, que prefacia Cine arco-íris, o maior mérito do livro "não está no que se diz sobre este ou aquele filme, e sim em sua declarada intenção de seduzir o leitor a conhecer, ou rever, o maior número possível deles e, assim, elaborar e emitir seu próprio julgamento de valor". "O livro não é dirigido apenas ao público LGBT", afirma Lekitsch, "mas também a todos os apreciadores da sétima arte", conclui.
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