quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Almodóvar revigorado

A Pele que Habito_filme de Almodóvar


Talvez Pedro Almodóvar seja um dos poucos cineastas nos tempos atuais, em que os cinéfilos ainda apostem suas fichas. Deixe eu me expressar melhor: ele pode ficar dois, três anos sem filmar, mas quando anuncia um novo projeto, ficamos ansiosos para conferir o que sairá de sua "caixa de pandora".

"A Pele Que Habito" é um típico Almodóvar, com sua temática girando em torno da construção de identidade,   personagens um tanto bizarros, a exemplo de Zeca/Tigre (Roberto Álamo), a presença de atores recorrentes nas suas obras, como Antônio Banderas e Marisa Paredes, a trilha sonora  marcada por canções de lamento (dessa vez, "Pelo Amor de Amar" de José Toledo e Jean Manzon, interpretada pela garota Ana Mena).

Ao mesmo tempo, surpreende o espectador acostumado com sua filmografia, tendo em vista que essa história é baseada no livro "Mygale" de Thierry Jonquet (geralmente, o cineasta espanhol cria seus próprios roteiros, outra exceção é "Carne Trêmula"), os cenários dessa vez são menos kitsch, a atmosfera de thriller que é retomada depois de muitos anos, como não se via desde "Matador".

Já sexagenário e com 17 longas nas costas, Almodóvar parece estar testando outras formas de conquistar o expectador, arriscando-se, inclusive, num distanciamento inical de seus personagens para com o público, mas que à medida que a trama se desenrola, não há como deixar de criar cumplicidade com eles. Acontece isso com Vicente (Jan Cornet). Se no início, temos uma postura um tanto arredia para com ele, no decorrer da projeção, esse sentimento se inverte completamente.

Apesar de às vezes, beirar a canastrice, Antônio Banderas está muito bem como o cirurgião plástico Roberto Ledgard, que depois de uma dupla tragédia em sua vida (o suicídio da esposa e da filha) decide trabalhar exaustivamente nas pesquisas de produção de uma pele artificial. Ainda que seus avanços na área científica gerem polêmica, por conta da transgênese com seres humanos, ele segue adiante nos experimentos em sua casa, utilizando como cobaia, a bela Vera (Elena Anaya) e tendo como cúmplice, a sua mãe Marília (Marisa Paredes).

Para ver e rever...sempre.

Legenda da Foto 1: "Os apaixonados" Vera e  Roberto Ledgard em cena de "A Pele Que Habito"

P.S. Em tempo, vale a pena dar uma lida no livro "Conversas com Almodóvar" de Frederic Strauss, lançado em 2008, por Jorge Zahar Editor. O livro é uma compilação de entrevistas feitas pelo escritor ao cineasta  que discorre sobre suas produções até  "Volver" de 2006.


Um comentário:

Rui disse...

Suyene,
Almodóvar é sempre sinal de interesse,mas não achei esse filme tão bem resolvido. Tem uma primeira hora claudicante e melhora quando começam os flashbacks. No final das contas, acabei gostando muito (a cena final é ótima). Muito melhor do que o fraquíssimo "Abraços Partidos".