Como eu voltaria no domingo, às 13h, tinha que ver tudo que quisesse, no sábado. Saí, do Cine VIVO (Paseo Itaigara) após o "porradão" "Tarde Demais" e segui para o Cinema do Museu (Corredor da Vitória),a fim de assistir a "Late Bloomers- O Amor Não Tem Fim" de Julie Gavras e "Isto Não é um Filme" de Jafar Panahi.
O primeiro teve sessão quase lotada. Já fazia muito tempo que não via um filme com Isabella Rossellini (apesar dela aparecer em "Marido Por Acaso" (2008)) e estava ansiosa para conferir sua performance em outro papel principal ( na minha mente, ao ler seu nome no cast desse filme de Gavras, só vinha as imagens de "Veludo Azul" (1986)).
Pois bem, passaram-se 25 anos, mas a filha de Ingrid Bergman com Roberto Rossellini, continua linda. Talvez até mais bonita, agora. Em "Late Bloomers", ela vive a personagem Mary casada com Adam (Wiliam Hurt) há 30 anos. Ambos entrando na "terceira idade", cada um a seu modo, vai enfrentar essa nova etapa da vida, arcando com o ônus e o bônus do envelhecimento.
Como já demonstrou antes em "A Culpa é de Fidel", a diretora Julie Gavras é bem mais amena ao tratar de temas pesados, se comparado a seu pai Constantin Costa-Gavras. Deixando a temática política de lado, mas voltando à questão dos personagens encontrarem seu espaço no mundo, no seio familiar, dessa vez, ela envereda pelo terreno do amor, das relações interpessoais, numa idade que é vista por muitos como o "início do fim".
Oscilando entre o drama e a coméda romântica, "Late Bloomers" não tem um roteiro primoroso como "A Culpa é de Fidel", mas reforça como a diretora (em uma obra um tanto autobiográfica, ela seria a filha do meio do casal Mary e Adam) sabe tratar com bom humor e elegância, assuntos tão delicados, como o envelhecimento e a morte.
* Repare nos diálogos impagáveis da mãe de Mary, vivida pela atriz Doreen Mantle. Vale metade do ingresso. A outra metade é pelas atuações de Hurt e Rossellini.
Faltavam pouco minutos para às 20h30, horário do terceiro filme do dia, que eu iria assistir, e ainda estava saindo da mesma sala, que dali a pouco eu entraria novamente. A sessão de "Late Bloomers" estava quase lotada, enquanto que contei apenas 28 espectadores para "Isto Não é um Filme". Será que o público levou ao pé da letra o título do mais novo trabalho se Jafar Panahi e decidiu tomar uma cervejinha ?
Não sabem o que perdeu. Um verdadeiro libelo à censura, à intolerância e, ao mesmo tempo, uma bela declaração de amor ao fazer cinematográfico. Proibido de filmar nos próximos 20 anos e ainda cumprindo pena de seis anos (prisão domiciliar)- por ter feito um filme sem autorização e incitado protestos oposicionistas ao atual governo iraniano- o dia a dia de Jafar Panahi é uma tortura só.
Ele então teve uma ideia: convidar um amigo com uma câmera, para registrar quase 24 horas de sua vida reclusa. Já que não pode "dirigir", Jafar se deixa filmar, faz leitura do roteiro de um "futuro" filme, torna-se o personagem principal desse documentário, que "não sendo um filme seu", pode ser visto mundo afora.
É bem verdade, que o doc, até pelo seu caráter caseiro, tem limitações. Por vezes, torna-se maçante (motivo pelo qual, houve uma evasão de 40 % do público pagante), mas a paixão do diretor pela arte que abraçou e sua necessidade vital de se expressar através de uma câmera, emociona.
Se não fosse pela esperteza do diretor, em enviar um pen drive, com o conteúdo do filme, camuflado num bolo até Cannes, jamais teríamos acesso a essa pequena obra-prima, assinada em conjunto por Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb. Quem venham mais produções do cineasta de "O Balão Branco", "O Espelho" e "O Círculo". Os cinéfilos agradecem.
Legenda da Foto 1: Rosselini e Hurt, apesar da idade, estão em ótima forma no filme "Late Bloomers"
Legenda da Foto 2: Jafar Panahi em cena de "Isto Não é um Filme" com o "bichinho" de estimação
Nenhum comentário:
Postar um comentário