terça-feira, 3 de abril de 2012

Heleno (de Freitas) em Dose Dupla

Livro Nunca Houve um Homem como Heleno_Zahar Editora

Rodrigo Santoro no filme Heleno


A depender da idade do internauta que leia esse blog agora, o nome do jogador Heleno de Freitas, talvez não represente nada. Mas, aos desavisados, o “Diamante Branco”, como era conhecido no meio futebolístico, foi o maior expoente do Botafogo, na década de 1940, ainda que tenha tido uma vida extremamente conturbada, devido à fama de mulherengo, ao temperamento explosivo e ao vício em éter.

Agora, 53 anos depois de sua morte, o nome de Heleno vem à baila, em dose dupla, por meio do relançamento do livro “Nunca Houve um Homem como Heleno” de Marcos Eduardo Neves e do lançamento, na última sexta-feira, em circuito nacional, do filme “Heleno- o Príncipe Maldito” de José Henrique Fonseca. Como a cópia não chegou por aqui até o momento (será que um dia chegará?), viajei a Salvador e conferi a excelente atuação de Rodrigo Santoro no papel título.

Muitos críticos já escreveram que, apesar de retratar um ídolo do futebol, pouco mostra de efetivo com relação ao desempenho de Heleno de Freitas no campo. Realmente, a película não privilegia a competição esportiva. Ela se pretende uma cinebiografia do jogador botafoguense, que foi do auge ao precipício no período de uma década e que morreu precocemente, aos 39 anos, num hospital psiquiátrico em Barbacena, focando mais no perfil do ‘homem’ do que, propriamente, no do atleta.

Talvez por isso, a escolha do diretor José Henrique Fonseca em finalizar a película em preto e branco (belamente fotografada por Walter Carvalho). Não só com o intuito de atingir uma maior dramaticidade em certas cenas, mas também por conta do período em que a história se passa: entre as décadas de 1940 e 1950.

Conhecemos os momentos de glória do jogador, já internado num manicômio, através de suas parcas lembranças. Apesar de formado em Direito, Heleno de Freitas abraçou o Botafogo como ninguém e os números não mentem com relação à sua dedicação ao clube e ao talento com a pelota: em oito anos de atuação (1940-1948) ele defendeu a “Estrela Solitária” em 235 partidas e converteu 209 gols.

Mas ele não era apenas um “terror” para as equipes adversárias. Galã e sempre vestido de forma impecável, Heleno abalava os corações do mulherio, que caía facilmente na sua lábia. No filme, a disputa entre a cantora de cassino, Diamantina (a atriz colombiana Angie Cepeda) e a jovem burguesa Silvia (Alinne Moraes), que viria a ser mais tarde sua esposa (o nome verdadeiro da mulher de Heleno era Ilma), é acirrada. A depender da ótica em que o espectador veja os envolvimentos do jogador com as duas beldades, o grande perdedor dessa batalha é o próprio Heleno.

Arrogante até não poder mais, Heleno de Freitas se desentendia com os colegas de time e treinadores com muita facilidade. Por conta disso, foi vendido pelo Botafogo ao Boca Juniors (Argentina), no final da década de 1940, mas quando retornou ao Brasil, foi rejeitado pelo presidente do Clube (interpretado por Othon Bastos) e seguiu atuando em outros clubes como Fluminense, Vasco da Gama e América. Deixou de jogar na seleção brasileira, na Copa de 1950, por conta de uma discussão com o treinador Flávio Costa e seu sonho de defender a “canarinho” num campeonato mundial, apagou-se de vez.

Os arroubos foram em parte o catalisador de sua derrocada, fazendo com que sua embriaguez com álcool e éter aumentasse, consideravelmente, sua deterioração física e mental. Como se não bastasse, adiou enquanto pode o início do tratamento da sífilis que lhe corroía a carne e os dentes pouco a pouco, sendo insatisfatória a resposta às drogas utilizadas para retardar o avanço da doença.

É nesse momento, que a estrela de Rodrigo Santoro brilha, numa caracterização que já lhe valeu o prêmio de melhor Ator, no Festival de Havana 2011. Seja no auge da carreira de Heleno, no melhor estilo almofadinha, seja no momento de sua deterioração como homem e ídolo, Santoro encarna como ninguém o personagem. Ele, inclusive, emagreceu 12 quilos para interpretar Heleno já depauperado, nos últimos anos de vida num manicômio mineiro.

Quem também brilha nas cenas de maior dramaticidade com Santoro, é o ator e músico mineiro, Maurício Tizumba, que vive o enfermeiro Jorge. Com uma dedicação extremada ao seu paciente famoso, ele confere ao filme os momentos de maior comoção. O problema é que a força do drama concentra-se nos intérpretes masculinos, ficando os femininos um tanto à margem.

Além disso, mesmo sendo escrito a seis mãos ( o diretor José Henrique Fonseca divide a função de roteirista com Felipe Bragança e o argentino Fernando Castets), “Heleno” possui algumas lacunas na trama e a escolha do uso de flashback de forma recorrente, faz com que os menos familiarizados com a trajetória futebolística do personagem, percam-se em um dado momento.

Ainda assim, o filme está acima da média dos lançamentos nacionais dos últimos meses, muito por conta da atuação visceral de Rodrigo Santoro, do comando da batuta de José Henrique Fonseca, da direção de fotografia de Walter Carvalho (preste atenção nos enquadramentos em primeiro plano), da maquiagem eficaz de Martín Macías Trujillo e da direção de arte de Marlise Storchi.

Aguardemos por aqui a chegada do livro e do filme, a fim de conhecer um pouco mais sobre a vida desse jogador formidável e ao mesmo tempo autodestrutivo.

Legenda da Foto 1: Capa do livro que foi relançado, recentemente, pela Zahar Editora

Legenda da Foto 2: Rodrigo Santoro  apresenta uma excelente atuação no filme "Heleno"

2 comentários:

Anônimo disse...

Gente sera q o filme do Heleno ñ vai ser passará aqui em Aracaju-se?

Anônimo disse...

Perfeito ...nunca mais tera um jogador que amava seu clube igual a ele.. orgulho-me dele apesar que suas atitudes nao sao muito de admirar. aff