segunda-feira, 1 de março de 2010

Noves Fora...Nada (ou quase)



Não me lembro de ter dado uma nota zero a uma produção cinematográfica e não será dessa vez que irei fazê-lo. Aliás, distribuir "estrelas" ou "bolas pretas" para os filmes não é tarefa fácil e, por vezes, injusta. Portanto, apesar do título dessa postagem, não darei pontuação nenhuma a "Nine" de Rob Marshall. Apenas apontarei os acertos (poucos) e erros (muitos) dessa película que recebeu quatro indicações ao Oscar 2010.

Foram poucos os pontos positivos que consegui detectar nesse novo musical do diretor Marshall- o mesmo de "Chicago" (2002), "Memórias de Uma Gueixa" (2005)- que tinha tudo para despontar, mas é uma sucessão de falhas. A começar pela estória frágil. Por mais que seja inspirado num musical da Broadway dos anos 80 e uma referência do clássico "8 1/2" de Fellini- em que um cineasta (Marcelo Mastroianni) se encontra em crise criativa- "Nine", que tem Daniel Day-Lewis no papel do diretor em crise Guido Contini, não consegue decolar.

E essa sensação de "pane na pista", por vezes é culpa do roteiro irregular de Michael Tolkin e Anthony Minghella, como também pelos fracos números coreográficos. Guido Contini, famoso cineasta italiano, está prestes a rodar seu novo filme, mas não tem ainda um roteiro definido; apenas o título "Itália" e a escalação de sua musa Cláudia (Nicole Kidman). Por conta das cobranças dos jornalistas e produtores, ele decide se refugiar num balneário, a fim de que as ideias saltem de novo de sua mente.

O problema é que Contini tem que administrar uma legião de mulheres à sua volta, como a esposa Luisa (Marion Cotillard), a amante Carla (Penélope Cruz), a jornalista (Kate Hudson), a figurinista Lili (Judi Dench), a mãe morta (Sophia Loren) e a prostituta Saraghina (a cantora Fergie), todas personagens que estão envolvidas na trama, seja na vida real ou no imaginário do diretor. Até sua criatividade vir à tona novamente, ele terá que resolver antes seus problemas sentimentais. Tarefa nada fácil, para um mulherengo inconteste e emocionalmente imaturo.

E é justamente no alinhavar desses dilemas de Guido que a estória de "Nine" perde fôlego. Como se não bastasse, os números musicais não têm força suficiente e, eventualmente, paira um enfado durante a projeção. Salvam-se as duas canções apresentadas por Marion Cotillard e a sensual dança protagonizada por Penélope Cruz. A diva Loren aparece mais como atriz homenageada do que propriamente figura de importância na trama, assim como Fergie e Nicole Kidman (sem o mesmo empenho flagrado em "Moulin Rouge"). Kate Hudson até que manda ver na coreografia escalada prá ela, mas a versão, quando filmada, parece mais um videoclipe da era MTV do que qualquer outra coisa.

No entanto, Day-Lewis, Judi Dench e Marion Cotillard, como excelentes atores que são, salvam o filme de um fiasco maior. A impressão que dá, no entanto, é que apesar do Oscar de Melhor Filme para "Chicago" (entre outras categorias), Marshall ainda não encontrou o "x" da questão, aquela  "pegada" quando o assunto é realizar um musical. Quem sabe se voltássemos no tempo de "Sinfonia de Paris", "Cantando na Chuva", "Sete Noivas Para Sete Imãos" e "Amor Sublime Amor", ele não conseguiria fazer algo melhor.

P. S. O filme concorre ao Oscar desse ano nas categorias Melhor Atriz Coadjuvante (Penélope Cruz), Melhor Canção ("Take it All"), Melhor Figurino e  Melhor Direção de Arte

Texto:  Suyene Correia

Legenda da Foto 1: Guido Contini (Daniel Day-Lewis) num dos poucos momentos de descontração com a jornalista vivida por Kate Hudson

4 comentários:

Ricardo Montalvão disse...

suy,caramba hein! não sabia que um filme que tinha tudo para ser um sucesso,o qual eu inclusive esperava ansioso pela sua estréia desde 2008 (ano o qual o filme ficou pronto e com os atrasos estreiou apenas agora), fosse ser um fiasco de produção. quando vc me contou da coreografia e seu erro de sincronia,eu fiquei de boca aberta. e o que era uma vontade de ver o musical aparentemente maravilhoso, passou a ser para registrar os erros gritantes que por vc ouvir falar, de certeza são absurdos. bom irei assiti-lo até quinta e passarei aqui para registrar minhas impressões,ok! parabéns pelo texto,você como sempre fazendo excelentes críticas e instigando bastante nós, o teu público.

beijo grande.!

Anônimo disse...

Eu tava esperando esse post. De fato, o filme não empolga. O enredo, por outro lado, e por razões muito particulares, me emcoionou.

A angústia da criação; a imaturidade do protagonista, um cretino simpático rodeado por mulheres; a busca por um norte na confusão cotidiana... Essas coisas falam ao meu coração.

Eu gostei do filme? Não. Não lembro de ter gostado de um único exemplar do gênero em minha vida inteira. Mas a reunião de temas que me são caros fez com que, apesar dos números musicais, a projeção não me parecesse tão enfadonha quanto a do laureado Chicago.

Laryssa Viana disse...

Concordo com o que você falou sobre 'Nine', o que é uma pena, já que tinha tudo para ser um sucesso assim como 'Chicago', mas gostei muito do figurino do filme e das interpretações da Marion, Daniel, Judi e Penélope, fora isso achei a história meio fraca. Suyene assisti também 'Preciosa' e de todas as críticas que li, a sua foi mais fiel ao filme. Mo'nique surpreendeu muito, pelo papel chocante e também por sua atuação marcante, acho difícil ela não ganhar o Oscar,se o Oscar for justo. Nem me arrisco a fazer uma crítica do filme, apesar de já ter tentado. Espero que 'Educação' chegue antes também, gostei da história e estou curiosa para assisti-lo.

Fátima Lima disse...

Realmente Nine tem essa sensação “ Noves fora”, ou seja, “ o que é mesmo o filme? A crise criativa que acaba sendo um mote interessante do ponto de vista cinematográfico perde o sentido subjetivo nas cenas caricaturais que envolvem Contini e seu drama. Salvo Marion Cotillard e o Daniel Day-Lewis, as outras “musas” pecam pela exagero e plasticidade. Penélope Cruz ( essa quase) num papel de obsessiva suicida apaixonada ( já fez esse papel antes) é “quase” caricatural, mas numa noite de sábado o musical Nine pode ser uma pedida para relaxar ou se entediar com tanto rebuscamento. O que mais interessante, como você mesma coloca no seu texto, é as 04 indicação para o Oscar... resta agora aguardar... Abraços.