Quem pensava que Alejandro González Iñarritu não teria condições de superar sua magistral trilogia (formada pelos ótimos "Amores Brutos", "Babel" e o regular "21 Gramas"), enganou-se. Sua mais nova produção- "Biutiful"- é uma 'pedreira' de 2h20 minutos, mas que deixa o espectador/cinéfilo com aquela sensação de plenitude ao final da sessão, por ter conferido um filme bem acima da média dos sofríveis títulos em cartaz nessas férias ( o sergipano, por enquanto, poderá conferi-lo em Salvador, no Cine Vivo).
O filme foi indicado para o Globo de Ouro deste ano, na categoria Filme Estrangeiro e, embora tenha perdido para o dinamarquêrs "In a Better World", tem grandes chances de ser indicado nesta categoria e na de melhor ator para a 83a Cerimônia do Oscar. Sim, mais uma vez Javier Bardem dá um show de interpetração (já premiado em Cannes 2010), na pele do sensitivo e atravessador Úxbal.
Vivendo num bairro pobre de Barcelona (incrível como Alejandro mimetiza a cidade espanhola com a Cidade do México), Úxbal ganha a vida fazendo trabalhos escusos (exploração de mão-de-obra imigrante) e nas horas vagas, ainda 'ouve' os mortes e leva suas últimas mensagens para os parentes sedentos de algum tipo de redenção. Vivendo com os filhos pequenos num apartamento de quinta categoria- já que a ex-mulher se prostitui e, recorrentemente, é internada por conta do alcoolismo- Úxbal é surpreendido com a notícia de que tem poucos meses de vida.
E como notícia ruim não vem sozinha, a partir de então, vários acontecimentos irão levar Úxbal a uma espécie de espiral sem saída, com ele enfrentando os policiais que perseguem "seus" trabalhadores ilegais; a mulher que volta a aprontar das suas, mesmo tendo lhe dado uma segunda chance; entre outras desgraças.
Como é de praxe em suas produções (apesar desta não ter a assinatura do roteirista Guillermo Arriaga), Inãrritu constrói várias subtramas em torno da principal, que aqui parece ser a sobrevivência do personagem central, em todos os sentidos. Apesar de explorar o realismo como de costume- de uma maneira exageradamente pertubardora- dessa vez ele abre concessões ao sobrenatural.
Parece-me que é um terreno deveras movediço para os desacostumados, mas se o diretor derrapa nesse ponto, Javier Bardem faz com que esqueçamos dos deslizes. Sua força está no olhar, nos gestos, na voz, na postura e é difícil imaginar que alguém o supere nessa corrida para o Oscar 2011. Quem viver verá...
Texto: Suyene Correia
Foto: Úxbal (Bardem) em má situação com a polícia
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