quinta-feira, 15 de março de 2012

Nem com reza...

Orlando Vieira em Rezou à Família e Foi ao Cinema

Antes de falar,  propriamente, do documentário "Rezou à Família e Foi ao Cinema" lançado na última terça-feira, no Museu da Gente Sergipana, dentro das comemorações dos 157 anos de Aracaju, é preciso chamar a atenção para um fenômeno que tem se intensificado nos eventos envolvendo seja a Prefeitura Municipal de Aracaju, seja o Governo do Estado: o inexplicável atraso.

Foi assim, na inauguração do Museu da Gente Sergipana, na recente reabertura do Teatro Atheneu e, quando eu pensava que não mas passaria por esse desrespeito, eis que fico esperando duas horas por alguém (que não chegou). Diga-se o prefeito Edvaldo Nogueira. Cabia ao bom senso da referida autoridade, vendo que seria impossível conciliar mais de um compromisso num espaço de tempo exíguo, delegar imediatamente, a tarefa para outra pessoa, como o fez,  ainda que tardiamente, a Tânia Soares.

Sei que esse atraso de 120 minutos, fez com que muitos desistissem de ver, em primeira mão, o curta-metragem em homenagem a Orlando Vieira. Os persistentes, como eu, assistiram ao filme de 17 minutos um tanto quanto "enfadados", mas não entediados o suficiente, para deixar de perceber alguns problemas no vídeo.

Ah, antes que eu me esqueça, o curta  foi resultado de Oficina de Realização acontecida no Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira no ano passado. Porém, isso não o isenta de críticas e apreciações mais incisivas. Afinal de contas, quem está aprendendo, tem que estar aberto à possibilidade de crescimento, progresso e nada mais justo que rever alguns pontos e tentar ajustá-los nos futuros projetos.

Antes de qualque análise do produto audiovisual, em si, fico me perguntando se não haveria uma outra possibilidade, mais inovadora, com relação à escolha do título. "Rezou à Família e Foi ao Cinema" soa tão pouco inspirador, quase um plágio (e de mau gosto, por sinal), se reportarmos à infância do ator enfocado, como ele mesmo expõe na tela.


Quando o filme começa, com Orlando Vieira  sentado numa das cadeiras do auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, contando sobre a tragédia que se abateu sobre sua família, preocupei-me com o ritmo que o filme teria, caso o formato clássico do doc, fosse utilizado em muitas sequências.

Sim,  há muita fala do homenageado, não há outros oradores intercalando com ele, e apesar de Orlando ter um carisma inconstestável, ter muito o que dizer, esse discurso não funciona a contento. Em parte, porque há leituras de crônicas de Cleomar Brandi sobre Aracaju e de um poema de Mário Jorge que, sinceramente, não vi muita conexão com o personagem principal.

O artifício de reconstituir em flash backs, passagens de sua infância é pouco funcional. Em parte, porque não se sabe ao certo, o que aquele giro de câmera sob o teto de um casebre significa na trama e também porque do menino Orlando para o homem já feito, a mudança é tão brusca, que não sentiria a falta dessa sequência.

Há belas tomadas, no entanto, do andarilho Orlando pelo interior do Estado; das locações de "Sargento Getúlio", e da reconstituição de uma cena do filme, baseado na obra de João Ubaldo Ribeiro, em que numa janela do Convento, o ator volta no tempo e "encarna" novamente o personagem Amaro.   

A trilha sonora composta por Muskito e executada pelo quarteto de cordas da Orquestra Sinfônica de Sergipe é bem realizada, mas confesso que não compactua com as passagens imagéticas que acompanha. 

Mas isso é muito pouco para sustentar um filme de quase 20 minutos. A luz, por vezes, saturada demais (parece que houve uma descalibrada no projetor!!??); o som que deu uma 'ecoada' nos primeiros minutos de projeção; as fotos, literalmente, lavadas não funcionaram a contento e a falta de consistência  no roteiro comprometem demais a obra, que pelo mote, poderia ser uma obra-prima.

Esperemos quem sabe, uma outra homenagem a Orlando Vieira, mais bem resolvida. Por hora, "Rezou à Família e Foi ao Cinema" não faz jus ao homenageado e nem à capacidade que o oficineiro Anderson Carveiro tem de tirar "leite de pedra" (vide "Do Outro Lado do Rio").

Legenda da foto: O ator Orlando Vieira em cena de "Rezou à Família e Foi ao Cinema"

Um comentário:

Anônimo disse...

Lendo o seu texto,por ora pensei em poupar-lhe de comentários banais,porém não me contive.
Concordo com você(em parte).Tuas idéias são bacanas para tentar chegar ao perfeccionismo-Trabalhos quando executados deverão ser bem feitos- apesar do enfoque do núcleo ser justamente o audiovisual e,como você mesma deixou entender que houve falhas,o mais importante fora feito:A homenagem em vida!E o próprio Orlando Vieira estava numa felicidade tão grande,que francamente,para mim e para alguns foi o que mais teve valia.
O trabalho,salvo engano,foi executado em 10 dias,releva-se que o pessoal está começando...e com o tempo irà aprimorar seus feitos.E a realidade é que o documentário para Orlando Vieira é aquele e pronto.Concordo que merecia algo maior,mas a equipe deu o melhor de si e estão de parabéns pela iniciativa.E quanto ao tema,apesar de eu ter gostado da frase,achei correta tua sacada,para a história de vida de Orlando e sua importância não coube muito bem,ficou vago,inclusive no que diz respeito às dificuldades que Ele deve ter enfrentado.Mas enfim...