Assisti ao filme na semana passada, em DVD, e fiquei impactada. Agora, encontro-me felicíssima por saber que a partir de amanhã, o Cine Cult do Cinemark Jardins irá exibi-lo e terei a chance de vê-lo na telona.
“Lola” é um filme de uma simplicidade extrema, mas ao mesmo tempo, de um brilhantismo sem igual. Assim, como é o diretor Brillante Mendonza (é esse mesmo o nome dele) que a partir de dois casos em separados, baseados em fatos reais, conseguiu construir uma ficção de natureza impactante.
Com uma steadicam, que não desgruda dos personagens, ele nos convida a acompanhar o drama de duas “Lolas” (expressão filipina equivalente a “avós”) bem pobres, que tentam a todo custo, angariar dinheiro para suas causas bem peculiares. Enquanto Lola Sepa, tenta de todas as formas, dar ao neto assassinado, por um ladrão de celular, um funeral digno, Lola Puring, avó do suposto assassino, tenta livrar seu neto Mateo da prisão, angariando fundos para pagar sua fiança.
São duas frágeis senhoras determinadas a atingir seus objetivos, não importando o quanto seja complexa a burocracia do Estado filipino e quão seja duro enfrentar as chuvas fortes, que inundam Manila, na época de monções. Sim, o filme foi realizado nessa época de temporais e toda a água que vemos durante a projeção, veio de fato dos céus.
Mas nada parece atingir as tarimbadas atrizes do teatro e do cinema local, que por conta da acentuada carga realista que o diretor imprime nas atuações, parecem mais amadoras. Parte do mérito do filme está na interpretação de Anita Linda (Sepa) e Rustica Carpio (Puring). Pode-se constatar isso no início do filme, quando a primeira tenta, quase em vão, acender uma vela em prol do neto assassinado em meio a uma ventania. E como não se emocionar com Puring, que religiosamente vai até a prisão, levar a comida preferida do neto Mateo ou mesmo com a cena do funeral do outro jovem, entre os canais alagados da capital filipina ?
São apenas algumas das passagens tocantes dessa produção de 2009, que não deixa de fazer uma crítica social ao país, mostrando as péssimas condições em que vivem os pobres nas Filipinas, a burocracia do Estado, os altos índices de criminalidade e aos resquícios da ocupação norte-americana no passado.
É um filme incisivo, cru, pungente, que faz com que nós espectadores, sejamos “chacoalhados” da poltrona do cinema, tamanho o grau de envolvimento com as personagens. De antemão, uma das melhores películas do Cine Cult deste ano.
Legenda da Foto: Lola Sepa (Anita Linda) angariando fundos para o funeral do neto
Um comentário:
Algo que achei interessante no filme foi a questão da fotografia utilizada de forma tão diferente e impactante e a forma como o autor nos passa a melancolia e dificuldade através de alguns elementos semióticos importantíssimos no filme, como ambiente chuvoso, predominante na narrativa visual e a iluminação um pouco lúgubre, que também permeia o enredo.
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