“Precisamos revolucionar nosso pensamento visual”, já dizia o fotógrafo Aleksandr Ródtchenko (1891-1956) nos idos dos anos de 1920, época em que realizou uma verdadeira revolução na Rússia no âmbito cultural, juntamente com seus colegas construtivistas, Tátlin, Maliévitch e Maiakóvski.
Apesar de ser um exímio desenhista, bom pintor e escultor, foi como fotógrafo que Ródtchenko ganhou notoriedade e cerca de 300 trabalhos seus, entre fotografias, colagens e fotomontagens, podem ser conferidos na mostra “Aleksandr Ródtchenko: Revolução na Fotografia” que fica em cartaz até o dia 1º de maio, na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Organizada pela Moscow House of Photography com curadoria de Olga Svíblova, a mostra que já aportou no Instituto Moreira Salles, de novembro de 2010 a janeiro de 2011, no Rio de Janeiro, é a primeira grande retrospectiva do fotógrafo no Brasil. Nela, podemos constatar o quanto o trabalho de Ródtchenko é arrojado, aliando experimentação formal a preocupações documentais sobre a vida política e social da União Soviética em seu período inaugural. O russo estimulou uma mudança na percepção das pessoas para com a fotografia, como também para com o papel do fotógrafo e pode-se imaginar o impacto que suas imagens causaram no início do século passado, observando-as hoje.
O ‘método Ródtchenko’, que incluía a composição diagonal bem como o encurtamento óptico e outros procedimentos, era o grande trunfo do fotógrafo russo, que chegou a ser acusado na revista Soviétskoe Foto de plagiar colegas de profissão como o alemão Albert Renger-Patzsch e o húngaro László Moholy-Nagy por conta de seus enquadramentos inusitados.
Mas ele rebateu as críticas, dizendo que “as imitações são inevitáveis e que isso inclui a fotoarte. Contudo, a inspiração deve vir não de modelos antigos e universalmente aceitos, mas de novas oportunidades, com as quais a arte começava a experimentar”.
Não é difícil, ao se deparar com as fotos de Ródtcha (como era conhecido pelos mais íntimos), perceber como ele seguia princípios que buscavam a base geométrica, cultivando o encurtamento óptico e pontos de vista abruptos (perspectiva angular), introduzindo esquemas geométricos na composição e tornando-a lacônica, de modo a lembrar a pintura abstrata.
A exploração do grafismo, dos enquadramentos de baixo para cima e de cima para baixo (de pessoas e da arquitetura), dos contrastes entre o primeiro plano e o fundo e “temas intensificados” marcaram um estilo especial na fotoarte, encorajando a formação da “fotografia de esquerda”, do fotoconstrutivismo.
Trabalhando ativamente de 1924 a 1954, Ródtchenko, no entanto, ficou célebre pelos retratos de sua mãe, de Vladímir Maiakovski, do “Pioneiro com Corneta”, de suas arrebatadoras perspectivas “Escadas”, “Moça com uma Leica”, “Mergulho do Alto”, fotos de esportes e circo e imagens da Moscou dos anos de 1920.
A primeira exposição em homenagem ao artista, morto em 1956, após um derrame, aconteceu postumamente, em março de 1957. Os trabalhos foram escolhidos pela viúva do fotógrafo, Varvara Stiepânova, e os visitantes da Casa Central dos Jornalistas de Moscou, onde ocorreu a exposição podiam ver anúncios, cartazes para filmes de Eisenstein e Vértov, trajes de teatro e designs de palco, capas de livros e fotomontagens. O objetivo principal dessa primeira exposição era assegurar que Ródtchenko e seu trabalho não fossem esquecidos.
“Aleksandr Ródtchenko: Revolução na Fotografia” que acontece agora, no Brasil, parece ter a mesma função, passados 55 anos de sua morte. Como diz sua filha, Varvara Ródtchenko, “sua arte continua viva e as pessoas ainda precisam dela”.
Texto: Suyene Correia (que conferiu a exposição durante o Carnaval deste ano)
Legenda da Foto 1: O ângulo parece estranho, mas era assim que a arquitetura de Moscou ganhava novos contornos através das lentes de Ródtchenko
Legenda da Foto 2: O fotógrafo russo explorava cenas de esportes como a desse “Mergulhador”
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