quinta-feira, 5 de julho de 2012

Botero expõe as "Dores da Colômbia"

Desplazados_obra de Fernando Botero

El Desfile_obra de Fernando BoteroNo ano de 1998, a retrospectiva de “Fernando Botero- 50 Anos de Pintura, de 1947-1997” ocupou boa parte do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e possibilitou que os brasileiros se familiarizassem com a produção do artista colombiano. 

Durante dois meses, o público pode apreciar cerca de 90 trabalhos- entre pinturas e esculturas de um dos pintores mais valorizados da América Latina-, bem como enveredar pelo seu mundo artístico peculiar, onde personagens de formas bem arredondadas e acima do peso conseguem hipnotizar o espectador de imediato.

Essa sedução não é fácil, mas quando alcançada, é devido ao fato do visitante ter compreendido que o exagero dos trabalhos surgiu de uma inquietude estética do pintor que apesar de figurativo, está longe de ser realista. Ainda que algumas de suas pinturas façam alusão à triste realidade política e social de seu país.
É o caso da exposição “Dores da Colômbia” em cartaz até o dia 27 de julho na Caixa Cultural Salvador (rua Carlos Gomes, 57) que traz 67 trabalhos de Botero- entre pinturas a óleo, desenhos a lápis e aquarelas- e denunciam a violência que a Colômbia vem sofrendo nas últimas décadas, por consequência da disputa entre grupos guerrilheiros, político e paramilitares, pelo controle de terras e do tráfico internacional de drogas.

O material da sua triste leitura são massacres reais noticiados em todo mundo. O olhar de Botero é compassivo e solidário, não almejando a mobilização, porque não crê nela. As cenas retratadas são como flagrantes individuais escolhidos em meio a uma tragédia que está por toda parte e cuja extensão não é possível alcançar. Sobre suas vítimas, Fernando Botero lança suas vibrantes cores, criando um contraditório e dramático material.

A exposição, que já passou por Brasília, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte, forma uma coleção de obras doada pelo artista ao Museu Nacional da Colômbia. Segundo María Victoria de Robayo, diretora do Museu Nacional da Colômbia, era do interesse do mestre que esse acervo, longe de proporcioná-lo benefícios econômicos, pertencesse à nação e fosse visto como um convite a refletir sobre as trágicas circunstâncias que o povo colombiano enfrentou durante as últimas décadas.


“Como o assunto não é exclusivo da Colômbia, visto que lamentavelmente são muitas as vítimas da violência, o fato dessa mostra circular não só em âmbito nacional, mas também em outros países, permite-nos compartilhar esta coleção formada por seis aquarelas, 36 desenhos e 25 óleos. O conjunto se integra ao programa de exposições itinerantes do Museu Nacional da Colômbia, com a finalidade de que outros museus e públicos possam entender o drama colombiano dos últimos anos e talvez até atue como uma chamada à consciência, evitando assim que os horrores da guerra se repitam”, diz a María Victoria de Robayo.


A exposição é gratuita e pode ser visitada até o dia 27 de julho, de terça a domingo, das 09 às 18h. A Caixa Cultural Salvador fornece catálogo da exposição e visitas monitoradas podem ser agendadas através do telefone (71) 3421-4200.

Sobre o artista- Fernando Botero nasceu em Medellín (Colômbia), no dia 19 de abril de 1932. Aos 12 anos começa a pintar suas primeiras aquarelas e, pouco depois, desenha ilustrações para o jornal El Colombiano. Em 1951, muda-se para Bogotá, onde conhece a vanguarda colombiana liderada pelo escritor Jorge Zalamea, amigo de Federico García Lorca. Cinco meses depois de sua chegada à capital colombiana, expõe pela primeira vez aquarelas, guaches, desenhos e pinturas a óleo na Leo Matiz Gallery.


No ano seguinte, fica em segundo lugar no 9º Salão de Artistas Colombianos e com o dinheiro ganho, viaja à Europa., inteirando-se da arte na Espanha, França e Itália. No Velho Mundo, principalmente em Florença, Botero aperfeiçoa sua técnica na Academia San Marco.

Em 1955, regressa a Bogotá e expõe na Biblioteca Nacional, mas as pinturas que fizera em Florença, não são bem recebidas. Frustrado com sua condição na Colômbia, o artista parte para o México em 1956 e entra em contato com a arte de Diego Rivera, Frida Kahlo, Alvaro Siqueiros e José Clemente Orozco. Lá, seu talento começou a despontar, sendo convidado a expor na galeria de Antonio Souza, que o levou a participar de exposições no estrangeiro.

No início de 1957, em Washington, estreava com uma individual sob os auspícios da União Pan-Americana. Em 1958, regressa a Colômbia, onde participa do 10º Salão Colombiano, onde fica novamente com segunda colocação.  A partir daí, Fernando Botero já começa a desenvolver um traço que caracterizaria sua obra internacionalmente.

As figuras roliças, corpulentas, estáticas despontam em sua produção, constantemente, tornando-se uma regra. A regra transformou-se em estilo. Independente do tema que aborde, o seu estilo excentricamente expansivo retira-lhe toda rudeza e extremismo. O volume exagerado é a varinha de condão com que transforma a vida e o mundo e os transporta numa realidade flutuante.

Ainda que os críticos tenham dificuldade em legitimar o princípio construtivo do pintor colombiano, seu trabalho é o resultado de uma grande paixão de formas e cores, pelos valores e volumes esculturais. Uma composição advinda da forma calma e sólida.


Morando em Paris, há 40 anos, Fernando Botero é um ícone da pintura latino-americana cujo conjunto da obra deve ser reverenciado.

Legenda das Fotos: "Desplazados" e "El Desfile" fazem parte da exposição "Dores da Colômbia"

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