Desconcertante. É o mínimo que se pode dizer da trama de “A Separação”, do iraniano Asghar Fahardi, vencedor do Oscar deste ano na categoria Filme Estrangeiro e que poderá ser visto na próxima terça e quinta-feira, no Cinemark Riomar, dentro da programação do Cine Cult.
Realmente, a trama bem arquitetada e cheia de reviravoltas é um dos trunfos do filme. Mas não o único. Impressiona na história escrita e conduzida por Fahardi, sobre um casal de classe média, em crise, cuja solução parece ser o divórcio, além da capacidade dessa situação corriqueira, atingir uma proporção inimaginável ao final da projeção, a naturalidade com que o elenco “defende” seus personagens.
Nader (Peyman Moadi) e Simin (Leila Hatami) divergem quando o assunto é ficar no Irã. Ele não pode deixar sozinho o pai com Mal de Alzheimer e tenta convencer a esposa a ficar no país e ajudá-lo nas tarefas caseiras. Ela por sua vez, prefere construir um futuro junto com a filha adolescente, longe dali. E entre esse dilema, um juiz que não vê motivo suficientemente forte para conceder o divórcio.
Como ambos não cedem de suas decisões, Simin vai passar um tempo na casa da mãe, enquanto Nader se vê perdido no trato com questões do cotidiano. Agora, ele terá que administrar seu tempo entre o trabalho, a educação da filha Termeh (Sarina Farhadi) e os cuidados com o pai.
Para essa última tarefa, Nader contrata uma mulher extremamente religiosa, Razieh (Sareh Bayat), que chega ao extremo de pedir por telefone, aconselhamento a um líder religioso, sobre a possibilidade dela “tocar” no enfermo, a fim de ajudá-lo na higiene pessoal. Como ela e seu marido estão passando por dificuldades financeiras, decide continuar no emprego, mas com algumas restrições.
Razieh está grávida, seu marido não sabe que está trabalhando na casa de estranhos e um incidente faz com que a sua vida e a do patrão seja catapultada para a beira de um abismo. A partir daí, o espectador depara-se com a destreza de Fahardi em delinear um cenário dramático, propício para se discutir os valores religiosos, familiares, num país como o Irã, ainda claudicante quando o assunto é a modernização e o avanço nas questões judiciais (muita atreladas às questões religiosas).
A obra-prima, que também foi premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2011 e com os Ursos de Prata de Melhor Ator e Atriz, respectivamente, para o elenco masculino e feminino, merece uma conferida obrigatória!
Legenda da Foto: Sem o apoio da esposa, Nader cuida do pai enfermo e dos afazeres domésticos
Legenda da Foto: Sem o apoio da esposa, Nader cuida do pai enfermo e dos afazeres domésticos
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