segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Abbas... Sempre surpreendente

Um Alguém Apaixonado_http://bangalocult.blogspot.com
Uma das cenas mais engenhosas de "Um Alguém Apaixonado"


Já era para eu ter escrito sobre o novo filme de Abbas Kiarostami- "Um Alguém Apaixonado" ( Like Someone in Love)-, desde que voltei da 36a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no início do mês passado. Não sei porque demorei tanto para fazê-lo. Antes que ele chegue por aqui (e torço para que isso aconteça), registro minhas considerações para os internautas.

Quer se surpreender no cinema ? Assista a um filme de Abbas Kiarostami, o cineasta iraniano, que começou a chamar a atenção da crítica (e talvez do público) brasileiro, a partir de "Através das Oliveiras" (1994). Você não irá se arrepender da experiência, ainda que a aprovação de seus filmes pelo público, não seja uma unanimidade. 

Lembro-me de quando vi "Shirin" (2008), na 33a Mostra de Cinema, numa sessão concorridíssima. O público que lotava a sala, a princípio, parecia hipnotizado pela proposta inusitada do diretor: filmar uma plateia, predominantemente feminina, assistindo a um filme, que nós, espectadores do lado de cá, não veríamos nenhuma cena. Kiarostami quer que conheçamos o épico do século XII, baseado na lenda da história de amor da princesa armênia Shirin, através das reações dessas mulheres (choro, riso, apreensão) e, obviamente, da narrativa em off, traduzida de forma acelerada, por legendas difíceis de acompanhar. Nem todos suportaram a experiência e caíram fora, bem antes dos 90 minutos de duração se esgotarem.

No trabalho mais recente do diretor, "Um Alguém Apaixonado", o espectador não corre esse risco. Abbas filma com um preciosismo extremo, aproveitando cada milésimo de segundo do fotograma, para revelar camadas de uma trama, aparentemente, trivial:  o encontro de uma garota de programa e um professor aposentado. Porém, à medida que os minutos avançam, deparamo-nos com uma obra-prima que se revela gradativamente e sutilmente impactante. Isso porque o que Abbas esconde, é o que deve ser melhor observado.

Os primeiros minutos do filme são magistrais. Não vou descrevê-los aqui, porque perderia a graça. Mas saiba, caro internauta, que o diretor vai nos ludibriando com suas imagens dúbias, sugestivas de uma verdade, que os olhos e ouvidos teimam em acreditar, mas que no fundo é pura imaginação.

Logo, descobrimos que Akiko (Rin Takanashi) tem um namorado ciumento e desconfiado. Após uma discussão com ele, por telefone, a garota de programa  é incumbida pelo patrão, de ir ao encontro de um novo cliente. Akiko reluta, inicialmente, em ir trabalhar, por conta da avó, que chegou de viagem e a espera desde cedo em ponto qualquer da cidade. Mas termina cedendo às obrigações trabalhistas enquanto segue em direção à casa do desconhecido (Denden).

O diretor nos presenteia com outra sequência arrebatadora, quando acompanha bem de perto Akiko em direção à casa do aposentado. Enquanto ela observa o fervilhar das ruas de Tóquio pela janela do carro e aproveita para ouvir as mensagens gravadas em seu celular, os espectadores são 'convidados' pelo diretor a compartilhar de uma experiência sensorial instigante. Desde Tarkovsky, o tempo não tinha sido tão bem explorado na telona.

Mas "Um Alguém Apaixonado" não é somente isso. É o encontro feliz de um diretor inspirado, com um elenco bem entrosado, uma equipe técnica primorosa e um roteiro conduzido com maestria. Acredite, que o melhor aqui é revelar o mínimo, para deixar com que cada um seja provocado pela história de encontros e desencontros de uma forma bem peculiar.

Agora, é esperar para se surpreender!!!

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