Com um dia de atraso (o dia ontem foi bem cheio de atividades e não tive tempo de parar para escrever), posto as minhas impressões agora, sobre a coletiva de ontem pela manhã. Levando em consideração que a noite de sábado, foi a melhor até o momento, com relação aos filmes exibidos, a coletiva referente a estas películas foram enriquecedoras.
Excetuando o curta regional "Nicolau e as Árvores" de Lucas Hungria (até agora estou procurando o sentido do mesmo), o bate papo com Evaldo Morcazel de "São Paulo Companhia de Dança", com Fabiano Gullane (produtor de "Estação") e a atriz Caroline Abras, além do elenco e dos diretores de "5 x Favela, Agora por Nós Mesmos" produzido por Cacá Diegues e Renata Magalhães foi acima das expectativas.
Gostaria de me deter em dois debates especificamente: o do curta "Estação" de Márcia Faria e do longa de ficção "5 x Favela, Agora por Nós Mesmos", um filme uno dirigido por Manaíra Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos e Luciana Bezerra.
A história de "Estação" gira em torno da jovem atriz Inês que, provavelmente saiu de uma cidade menor e foi tentar a vida na metrópole. Sem ter grana e nem amigos para dar guarita, "mora" na Estação Rodoviária do Tietê, segunda maior do mundo.
De forma brilhantemente suscinta, o espectador acompanha o dia-a-dia dessa personagem (baseada num caso real, de uma atriz que fez teste para a mini-série "Alice"), que vive naquele ambiente áspero, improvisado, mas que não abre mão da família. Comunica-se com a mãe através do orelhão da rodoviária, pensando a genitora, que aquele número é da casa da filha.
O filme, que custou cerca de R$ 95 mil, é lacunar mas esses silêncios e elipses existentes não compremetem em nada o andamento da trama. Pelo contrário. "O silêncio, o contemplativo, é um pouco do que o personagem carrega", diz Caroline Abras, atriz de "Se Nada Mais Der Certo" , "Belini e o Demônio", entre outros, que como espécie de laboratório, ficou três dias initerruptos na Rodoviária do Tietê.
"Foi horrível. Foi bem no dia do apagão. Rodei cinco longas diárias, mas tinha ficado três dias lá e estava exausta. Foi duro ter que dormir no chão, ser importunada pelos seguranças, mas valeu a pena. Como estava 7 kg mais gorda e com os cabelos escurecidos, as pessoas não me reconheceram", explicou a atriz de "Paraíso" e "Tempos Modernos".
O ponto alto do bate papo, no entanto, foi alcançado já no início da tarde, com a coletiva gigante de "5 x Favela, Agora Por Nós Mesmos". Não só todos os diretores e mais a produtora, Renata Magalhães fizeram-se presentes, como também os atores: Flávio Bauraqui, Samuel Assis, Roberta Rodrigues, Silvio Guindane, Cíntia Rosa, Washington Lima e Gregório Duvivier.
A maioria das pessoas envolvidas no filme fazem parte do Projeto "Nós do Morro" do Vidigal e do "Afroreggae". Com depoimentos emocionados, os diretores discutiram sobre a questão do preconceito, da falta de oportunidades e da dificuldade em ingressar no mercado de trabalho por serem negros e moradores da favela. Além disso, fizeram críticas a outros filmes que têm a favela como locação e deturpam a realidade.
Depois, foi aberto espaço para cada um dos atores falarem de sua experiência e vivência com o cinema. O baixinho Washington, do episódio "Concerto para Violino" falou de sua transformação. De traficante passou a frequentar o grupo "Afroreggae"e, segundo o próprio, já tirou cerca de 100 pessoas do tráfico.
A atriz Cíntia Rosa concedeu um discurso emocionado (Rubens Ewald Filho, Maria do Rosário Caetano, entre outros, renderam-se às lágrimas) e disse que após ter voltado de Cannes (onde o filme foi exibido fora de competição), viu que não podia desistir. "A gente tem talento, o que nos falta é oportunidade. Agradeço a Renata e ao Cacá Diegues por ter acreditado na gente".
O irreverente Gregório Duvivier, disse em tom de deboche, que estava ali por um motivo bem diferente: "Fui escolhido pelo sistema de cotas. Sou o único branco do elenco". Inevitavelmente, arrancou gargalhadas do público presente.
Seguiram-se as falas do experiente Silvio Guindane, Flávio Bauraqui e Roberta Rodrigues. Para minha surpresa Samuel de Assis, que protagoniza o episódio "Concerto para Violino", ao falar do processo de trabalho para interpretar o seu personagem, um policial do Rio de Janeiro, revelou ser filho de coronel e...sergipano.
Samuel saiu de Aracaju há 10 anos e depois de morar um tempo em São Paulo, há dois, se estabeleceu no Rio de Janeiro. Segundo o diretor Luciano Vidigal, foi o olhar de Samuel que o cativou. "Quando ele foi fazer o teste, ele olhou de uma maneira humana, assim como eu queria que o policial fosse: humanizado. Não tive dúvidas em escalá-lo para o papel.
Com estreia nacional prevista para 27 de agosto, bem que "5x Favela, Agora Por Nós Mesmos" (referência ao "Cinco Vezes Favela" de 1962, feito por Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Miguel Borges e Marcos Farias) poderia estrear o Cinemark de Aracaju. Tenhamos esperança !!!!
Texto: Suyene Correia
Fotos: Leandro Moraes
Legenda da Foto 1: Evaldo Morcazel (ao centro) debate sobre seu documentário sobre a dança
Legenda da Foto 2: Caroline Abras interpreta muito bem a jovem Inês, em "Estação"
Legenda da Foto 3: Coletiva concorrida para o filme "5x Favela, Agora por Nós Mesmos"
Legenda da Foto 4: Roberta Rodrigues, Samuel Assis, Silvio Guindane, Gregório Duvivier, Cíntia Rosa, Flávio Bauraqui e Washington Lima
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