Foi como um "bicho urbano" que Hector Babenco se autodenominou, ao explicar porque filmou São Paulo com tanta intimidade, como é vista em "O Beijo da Mulher Aranha". "São Paulo é uma identidade na minha vida. Minha chegada à cidade, dar-se através de ônibus. Morei em várias pensões e também trabalhei muito em empregos cujo o contato com as ruas, era intenso. Quer dizer, o que me interessa na cidade de São Paulo, que parece sempre estar de costas para você, é isso. Daí porque me identifico muito com o "Borba Gato" (uma estátua meio cafona que fica na av. Santo Amaro)", disse.
Na coletiva que concedeu à imprensa há poucos minutos, Babenco estava bastante solícito e só não 'esticou' mais a conversa, porque tinha um link ao vivo para uma emissora de TV já agendado. Em pouco mais de meia hora, ele revelou particularidades sobre o processo de escolha dos atores para o filme baseado na obra de Manuel Puig, como também as dificuldades que enfrentou para produzi-lo.
Por exemplo, num primeiro momento, após um contato rápido com Burt Lancaster nos EUA, Babenco estava decidio a elencá-lo para o papel de Molina. Começaram os trabalhos de pré-produção, mas sem dinheiro, o projeto foi se arrastando demasiadamente. Lancaster inclusive, indicou o nome de Raul Julia, que na época trabalhava em teatro, para parceiro no filme. No entanto, o mesmo caiu doente e Babenco teve que "correr atrás do prejuízo".
"Faltava um mês e meio para as filmagens iniciarem quando a filha do Lancaster me avisou que ela se encontrava doente, tinha feito até uma cirurgia cardíaca. Fiquei desesperado, informei ao Raul Julia sobre o problema e ele perguntou se poderia enviar o roteiro para um amigo avaliar. Eu acenei positivamente e algum tempo depois, nem me lembrava mais, William Hurt me liga dizendo que tinha lido o roteiro, sabia que eu estava sem grana, mas estava a fim de fazer o filme. Voei para Nova York, com o objetivo de me encontrar com eles (Raul e William) e confesso que ao ver o tipo físsico de Hurt, pensei 'isso não vai dar certo'. Qual não foi minha surpresa, que após cinco minutos de leitura dramática eu estava completamente enlouquecido pelo William Hurt. Aquele 'monstro' de 1,88m de altura, parecia um passarinho...Não tinha dúvidas de que ele iria mandar ver no papel do homossexual".
Hector Babenco disse ser adepto da literatura do Manuel Puig, que na sua opinião, foi um dos melhores escritores da América Latina. Sobre a liberação dos direitos do livro "O Beijo da Mulher Aranha", o cineasta disse que não foi fácil a tarefa de convencê-lo. "Eu levei muito doce, muito sorvete para conquistar Puig, que era comilão (rs...rs...). Foi ele, inclusive, que me levou para assistir a adaptação de Rubens Corrêa para o teatro. Mas o filme se distancia muito da peça, porque enquanto esta começou no limite do sério, descanbando para algo 'chanchadeiro', o filme tem uma pegada mais melancólica".
Ao ser questionado sobre como sentiu a reação do público ontem, após a exibição, Babenco surpreendeu. "Eu não sinto, não tem como saber o que as pessoas acharam, pensaram, porque simplesmente elas não compartilharam isso comigo. Nesse mundo contemporâneo, meio 'histérico', o público está mais preocupado em ver as celebridades, do que apreciar suas produções. O que é uma pena".
Texto e Fotos: Suyene Correia
Legenda da Foto 1: Rubens Ewald Filho fez a mediação da coletiva com Hector Babenco
Legenda da Foto 2: Babenco foi bem solícito com a imprensa nacional
Legenda da Foto 1: Rubens Ewald Filho fez a mediação da coletiva com Hector Babenco
Legenda da Foto 2: Babenco foi bem solícito com a imprensa nacional
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