Por incrível que pareça, não foi durante a graduação na UFS, que ouvi falar do jornalista Audálio Dantas. Foi durante uma entrevista que realizei com o cineasta Jefferson De, durante o Curta-SE 4 (2004), que descobri a importância do jornalista alagoano para a imprensa brasileira. Jefferson teve o seu curta “Carolina”, escolhido como melhor Documentário no Festival de Cinema Sergipano. O filme, um misto de documentário e ficção, apresenta ao público um pouco da história de Carolina Maria de Jesus, uma favelada que tornou-se conhecida, internacionalmente, na década de 1960, por conta da publicação de seu livro “Quarto de Despejo”.
O descobridor dessa personagem emblemática foi Audálio Dantas. O ano era 1958 e o então, jornalista da Folha da Noite, foi incumbido de fazer uma matéria sobre uma favela que crescia no bairro Canindé, às margens do Tietê. O objetivo era mostrar como viviam os moradores desse local e do tempo inicial estipulado de uma semana, para colher os dados, Audálio só precisou de três dias. Ele publicaria a reportagem “O Drama da Favela Escrito por uma Favelada” (Folha da Noite, 09/05/1958) e ganharia projeção, de tal modo que, no ano seguinte, passaria a integrar a equipe da revista O Cruzeiro.
Audálio se tornaria uma espécie de padrinho de Carolina Maria de Jesus, tendo feito a compilação dos textos do diário da catadora de papel, que mais tarde se transformaria no “Quarto de Despejo”. A escritora mineira ainda lançaria mais três livros: “Casa de Alvenaria”, “Pedaços da Fome” e “Provérbios da Carolina Maria de Jesus”. Mas aí, já é outra história.
A primeira delas, no entanto, é a que abre o livro “Tempo de Reportagem- Histórias que marcaram época no jornalismo”, compilação de 13 reportagens escritas por Audálio Dantas, lançado na semana passada, pela Editora LeYa. No livro, que conta com prefácio de Fernando Morais e um apêndice composto por um prefácio da 1ª edição do livro “O Circo do Desespero”; “Os Contos das Coisas Acontecidas” assinado por Samir Curi Meserani e uma entrevista com o autor, feita pelos jornalistas Eliane Brum, Claudiney Ferreira e Ricardo Kotscho, o leitor poderá se deleitar com textos jornalísticos interessantíssimos, a exemplo de “Povo Caranguejo”, “O Prédio” e “A Maratona do Beijo”.
Outro ponto positivo da publicação, são os textos de making of inéditos, escritos pelo próprio Audálio, antes de cada reportagem compilada. A partir desses textos de apresentação é que percebemos que o jornalista não se limitava apenas a fazer a reportagem. Ele “entrava” na vida das pessoas e conseguia histórias memoráveis, sem medo de mostrar seu lado desagradável e incomum.
Admirador do estilo jornalístico do sergipano Joel Silveira, Audálio Dantas, natural de Tanque D’Arca (AL), trabalhou em importantes veículos de comunicação do país, como os jornais Folha da Manhã e Folha da Noite e as revistas O Cruzeiro e Realidade. É autor de mais de 10 livros, sendo “O Chão de Graciliano” contemplado com o Prêmio APCA 2007. Audálio, que denunciou o assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura militar, foi o líder que transformou o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo em trincheira da resistência democrática.
Atualmente, é conselheiro da União Brasileira de Escritores (UBE) e do Instituto Vladimir Herzog. Pretende lançar, em outubro, “A Segunda Guerra de Vlado”, um trabalho que vinha desenvolvendo há 36 e que, finalmente, consegue colocar um ponto final.
Nenhum comentário:
Postar um comentário